"July White possui um sonho"

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          Uma cela escura com barras de ferro, uma cama de solteiro aconchegante e uma janela com barras que mostrava uma floresta nevosa, isso era tudo que uma jovem garota trancafiada estava vendo, só de saber que estava em volta de uma floresta e que estava nevando já sabia que estava muito longe de sua casa.
          Aos poucos, a garota de longos cabelos azuis, jaqueta azul, camisa cropped preta e com calças de listras azuis e pretas se lembrava de como chegou aí, sua memória se recuperou completamente ao ver um brilhante cristal verde que estava no bolso de sua calça, sua dúvida sobre como esse cristal havia parado alí nem chegou a ser pensada porque uma forte onda de ódio lhe tomou conta, tudo o que queria fazer naquele momento era sair daquele lugar e dar um soco em um homem que lembrava ter o nome de "James Newhouse", para ela, ele era a razão da jovem estar trancafiada nesta cela.
            A jovem garota sabia que todo aquele ódio não poderia ser expresso, os guardas com roupas de policiais que estavam no lado de fora da cela poderiam lhe punir por qualquer tipo de expressão duvidosa, então todo seu ódio ficou somente em sua cabeça, enquanto estava sentada na cama olhando para baixo com uma expressão vazia, uma forma bem simples de esconder a sua fúria e determinação.
            
             Tempos atrás, a garota andava pela lanchonete da universidade dos "Sete Mares", uma universidade conhecida de São Paulo, onde morava.
             Ela parecia um pouco incomodada ao ver que vários bancos e mesas já estavam ocupados por diversos outros alunos, sua arrogância o fazia pensar que, diferentemente dela, os alunos que ocupavam as cadeiras onde ela queria tanto sentar não queriam nada além de comer alguma coisa, esquecer tudo o que "aprendeu" e virar a noite usando drogas ou ir para algum bordel para ter algum tipo de diversão, motivos que a fazia pensar ter mais direito de sentar em uma cadeira do que os outros.
           Sua raiva foi interrompida ao ser chamada por alguém que estava em uma mesa com todas as suas cadeiras vazias, a garota olhou para quem a chamou e achou entender o porquê de todas as cadeiras em sua volta estarem desocupadas: Aquele homem possuía uma aparência estranha que, possivelmente, afastou todos em sua volta (ao menos é o que ela acha).
            Aquele homem (velhote, para a garota) aparentava ter uns 50 anos, sua forma pequena e gordinha o fazia parecer uma bola, naquele momento usava um terno branco  com colete com cor de vinho, o que lhe fazia ser mais estranho era a sua sombrancelha peluda que parecia um grande bigode, seu grande nariz pontudo que o fazia parecer alguma forma humana do Pinóquio que passou o dia contando mentiras, sua pele que misturava o tom de cor amarela e branca e seus extravagantes óculos redondos azuis que o faziam parecer mais estranho e suspeito.
            - Sente-se, jovem - Disse o velho, acenando para a garota - Você está procurando um lugar para sentar, não está?
              A garota olha em sua volta pensando se haveria algum outro tipo de escolha, deu um leve suspiro e pensou: "Se ele for algum tipo de tarado, é só eu dar um soco na cara dele, acho que eu consigo meter medo nesse velhote".
              Assim decidiu sentar na cadeira em frente a dele, assim eles estavam em lados opostos da mesa. A garota estava sentada de uma forma que parecia estar deitada, estava um pouco irritada. Ao olhar um pouco para a esquerda, viu que, na cadeira ao lado do velho, havia uma cesta com dezenas de estranhos cristais verdes, eles brilhavam como matéria prima.
             - Prazer, poderia me dizer o seu nome, jovem? - Questionou o velho.
             - Que droga de cristais são esses? - Perguntou a garota, ignorando a pergunta do homem.
             - Ah, isso? Digamos que é por eles que ganho a vida *he *he. Seu nome?
             - July White.
             - July não parece ser um nome brasileiro, é algum tipo de apelido ou nome social?
             - Eu preciso te responder?
             - Não, você é livre pra dizer o que quiser...
               Um estranho silêncio passou pelos dois, aqueles cinco segundos passados pareciam cinco anos.
             - Na verdade... É Juliana White, mas prefiro que me chamem de July - Disse July, tentando ignorar o tédio - É uma... longa história.
             - Interesting... - Disse o velho, sua escolha de usar uma palavra em inglês para demonstrar seu interesse pareceu estranho para July, mas decidiu ignorar -  Diga, o que você faz aqui?
             - Faço faculdade de ciências biológicas.
             - Então você quer ser bióloga, você têm se esforçado para isso?
             - Mas é claro! Ser bióloga é o meu sonho de criança, eu vou fazer de tudo pra alcançar e cumprir esse propósito!
             - Interesting, again, por acaso há algum motivo para você querer tanto isso?
               July abaixou sua cabeça, franzindo sua testa, aparentemente ele tocou em algum assunto que a garota não custuma comentar.
             - Pode parecer uma pergunta maluca... - Avisou July - Mas você acredita que há alguma forma de compreender os atos e decisões de Deus?
             - Hmm, mais que pergunta estranha - Disse o velho, surpreso - Estávamos falando sobre ciências biológicas e de repente você quer falar sobre religião, biologia e religião são assuntos bem imiscíveis, sabia?
             - Eu sei que parece confuso, mas existe um motivo pra eu estar comentando sobre isso, só é um pouco difícil de explicar!
             - Hm, você é do tipo que adora à Deus, então?
             - Não é isso, na verdade estou tentando investigar uma decisão dele, acredito que uma certa ondas de mortes e extinções estão acontecendo por causa dele.
             - Que mortes?
             - Mortes de diferentes tipos de seres vivos, principalmente os que estão sofrendo ameaça de extinção.
             - *Hee *Hee você é uma garota interessante, sabia? - Riu o velho que não conseguiu se segurar, o que a garota lhe dizia parecia um absurdo.
             - Eu tô falando sério, velhote! Tudo no mundo tem o seu destino traçado por Deus, se nós estamos conversando aqui é porque Deus quer, por exemplo! - Exclamou July, dando um leve soco na mesa.
             - Então você é alguém que acredita no destino das coisas, interesting, houve uma época em que eu ligava pra esse tipo de baboseira, mas quem se importa, não é? - Disse o velho, dando uma outra risada duvidosa - Mas o que isso tem haver com o seu desejo de ser bióloga?
             - A morte de cada um também é algo decidido por Deus, logo, é decisão dele a morte de diversas espécies que perderam a chance de gerar descendentes, por exemplo, o Leopardo Nebuloso de Formosa foi extinto em 2013, o Mergulhão de alaotra em 2010, os Po'oulli em 2004, e a lista mal começou... - Disse July - Mas aí vem a dúvida: Porque Deus decidiu do nada extinguir a variedade de seres vivos que ele mesmo criou? Uma coisa é matar um ser vivo mas ainda dar a possibilidade de sua espécie se perpetuar, outra coisa é extinguir totalmente a sua raça, eliminar a sua existência e rastros. Ele é um ser inteligente, então com certeza deve haver um motivo para ele estar jogando fora tudo o que ele criou.
             - Isso se encaixa aos humanos?
             - Mais ou menos, percebe-se que o número de seres humanos está aumentando à cada dia, estamos chegando a quase 8 bilhões de pessoas - Disse July - Claro que há mortes humanas acontecendo todo momento, mas nós ainda temos a chance de nos multiplicar, isso nos mostra que Deus não achou um motivo para nos extinguir.
              - Okay Okay... Deixa eu ver se eu entendi - Disse o velho, parecendo não levar à sério aquilo que July acreditava - Você acredita que estudar biologia vai te levar ao motivo de Deus, supostamente, estar extinguindo diversas espécies de seres vivos que ele criou?
             - Exato, irei estudar e investigar tudo sobre a variedade de seres vivos - Disse July, animada - Teorizo que haja um defeito na criação de alguma espécie que o fez querer extinguir essa e mais outras espécies, vou investigar tudo!
             - Que motivação engraçada, sabia que há diversas outras formas mais diretas de fazer contato com Deus? Já tentou ir à igreja?
             - Sou agnóstica.
             - Pra cada pergunta você tem uma resposta bizarra hah hah! - Disse o velho, que parecia bem entretido - Você realmente é bem diferente das outras pessoas em nossa volta, very... very interesting *heh *heh
             - O quê?! Acha a minha motivação maluca?!
             - Acho ridícula, mas não sou ninguém importante pra te impedir de pensar o que quiser, se você acha que ser bióloga é uma forma de compreender uma decisão divina, tudo bem, desde que essa sua motivação e determinação continue correndo nas suas veias até a morte *heh *heh.
               July também parecia bem entretida em mostrar sua motivação para o velho ao ver que nem havia começado seu sanduíche e que já era hora de ir para casa, ela olha para um relógio à sua direita e descobre que já estava lá há vinte minutos depois da aula.
               - Bem, acho que já é hora de eu ir embora, eu costumo ficar só uns cinco minutos aqui depois da aula, mas você acabou me entretendo o suficiente pra ficar por mais tempo - Disse July, virando sua cabeça para a direção do velho - Escuta, qual é o seu nome?
                 White exclama uma surpresa, o velho e sua cesta não estavam mais lá, haviam desaparecido sem July perceber e sem deixar qualquer tipo de rastro.
                  July começou a achar o velho muito suspeito por perguntar tanto sobre ela, mas depois percebeu que na verdade ele só tinha perguntado seu nome e sua motivação, a conversa só demorou por ela ter se aberto demais.
                  A garota pega seu sanduíche que ainda nem havia sido mordido, decide ir logo para casa ao lembrar que um divertido encontro entre amigos a esperava, ela se perguntou se haveria outra chance de discutir coisas como essa de novo, seus amigos normalmente não falavam sobre coisas bobas como essa, mas as coisas bobas são as mais interessantes de discutir para July, geralmente coisas simples como "1+1=2" não são questionadas, parece um pouco idiota perguntar "Legal, mas *porque* 1+1=2?", são esses os fatos que mais atraem a curiosidade de July, a mesma curiosidade que a faz querer ser bióloga e entender uma decisão de Deus.
                - Acho que acabei me esquecendo de falar do Sky... - Percebeu July - Acho que ele ia gostar de saber que pelo menos esse pensamento que ele acha maluco teve um começo....

                  Era tarde, o Sol já estava se pondo, July andava pelo seu condomínio levando um saco com um sanduíche mordido. O condomínio era composto por uma simples rua rodeada por várias casas brancas de dois andares, elas pareciam coladas, parecendo um grande retângulo com janelas.
                    July parecia distraída quando as pessoas que andavam por aquela rua a cumprimentavam com um "olá" e ela não respondia, estava muito focada com o que estaria na sua casa, um lugar entediante mas que esperava a sua presença toda noite.
                     Ao entrar em sua casa, viu que já haviam pessoas sentadas no sofá ou na mesa que estavam na sala, todos distraídos vendo Tv
                    - Cê demorou pra cacete, July! - Resmungou um garoto moreno de cabelos brancos ondulados que estava sentado no sofá, ele usava uma touca com alguns furos, uma camisa cropped e calças amarelas e uma camisa lilás por dentro que tinham várias estrelas desenhadas, usava uma pulseira esportiva roxa e sapatos esportivos - A gente tinha marcado de lanchar às 18 e meia, mas você chegou só agora!
                    - Com certeza ela possui algum motivo pra ter demorado, Chris - Disse um jovem de cabelos azuis escuros  que usava terno cinza sentado no sofá - Boa noite, July.
                    - Eae Ray - Disse July, aparentemente ela parecia ter um leve respeito pelo garoto sentado no sofá, como se ele fosse seu irmão mais velho - Desculpe por ter demorado Chriszinho.
                    - Tudo bem, o grande Deus Chris Lúcido lhe poupará deste pequeno pecado! - Exclamou Chris, July aparentava ter um leve carinho por Chris, como se ele fosse seu irmão mais novo.
                    - OLÁ SENHORITA WHITE, QUE FELICIDADE ESTOU SENTIDO POR ESTAR VENDO A SUA PRESENÇA NESTE LOCAL! - Gritou desnecessariamente um garoto que estava sentado na mesa.
                    - Cara, essa é a minha casa, lógico que eu ia vir pra cá - Disse July, secamente, aparentemente July não possuía nenhum respeito ou afeto pelo garoto de longos cachos dourados que gritava muito - Agora sai da mesa, a gente senta na cadeira, sabia, Flash?
                     - Ah, Erh- Sim, July... - Disse Flash
                     - Prazer em conhecê-la, July - Disse um outro jovem cuja presença a garota nem havia notado.
                     - Ah, eae cara, o Chris tinha comentado antes que iria convidar você também, qual o seu nome? - Disse July.
                     - Jorge Guimarães - Disse o garoto - O Chris me disse que vocês preferem ser chamados por apelidos, então podem me chamar de "Kamikaze".
                     - Se existe algum motivo profundo pra você ter escolhido esse nome, melhor você ir pro psicólogo - Comentou July - Mas prazer, Kamikaze.
                       Chris havia encomendado comida antes de July chegar, então jantaram e se divertiram, tudo isso foi um belo relaxamento para July, que estava exausta depois da aula, continuava lembrando daquele velho e pensando se Deus quis que eles conversassem só pra lembrar de continuar se esforçando para ser uma bióloga.

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