prólogo

72 4 9
                                    

I'm looking forward to the futureBut my eyesight is going badTHKS FR TH MMRS | Fall out Boys


Chris: Hey, Harry! Olha, eu provavelmente não deveria estar fazendo isso dessa forma, mas simplesmente não consigo mais, quero terminar. Estou pegando minhas coisas no apartamento e... obrigado? A gente se vê por aí.

Harry estava parado na porta da editora em que havia trabalho nos últimos três anos. Ele havia adiado a defesa do mestrado em um ano com a promessa que seria promovido quando, naquela tarde, enquanto terminava o expediente, ele foi chamado na sala do supervisor. A princípio, Harry achou que viria a boa notícia. Seu diploma estaria pronto em dez dias e ele enfim seria efetivado!

Mas ele não poderia estar mais longe da verdade.

— Sr. Styles, sabemos do seu potencial, mas infelizmente estamos encerrando a vaga em que o senhor seria efetivado. Agradecemos o seu serviço, mas infelizmente precisamos te dispensar— Harry sentiu seu coração quebrar em pedacinhos com aquela conversa, sem espaço para diálogo algum apenas um "tchau vai com Deus". Ele rapidamente juntou suas coisas e desceu os elevadores, ainda meio zonzo para sequer digerir o que havia acontecido quando a mensagem de Christopher chegou em seu celular.

Ainda tremendo, Harry desbloqueou o aparelho, ingenuamente pensando que iria receber uma mensagem de carinho. Já se imaginando nos braços do namorado mais tarde. Mas assim que leu a mensagem, sentiu as lágrimas se formando em seus olhos.

Pelo visto, não era apenas a editora que iria dispensá-lo hoje. Christopher, seu namorado de dois anos, com quem ele estava praticamente dividindo o apartamento que Harry pagava o aluguel, também havia escolhido aquele momento para avisá-lo de que estava tudo acabado. Avisá-lo. Não foi nem sequer um convite para conversa, nem mesmo a justificativa "não é você, sou eu". Um simples "está tudo acabado" mesmo que poucas horas atrás eles estivessem juntos na cama em que dividiam.

Ou melhor, que costumavam dividir.

Harry deixou as caixas caírem na calçada, recebendo alguns olhares tortos e julgadores, ao encarar o celular. Ele quis responder algo para Chris, mas naquele momento ele não conseguia raciocinar como tudo poderia estar bem e, de repente, não ter mais um chão sob si. Rapidamente, abaixou para pegar seus livros, cadernos e canetas espalhados no chão quando sentiu pingos de chuva no seu cabelo.

— Ah, só faltava essa! — E antes mesmo que ele pudesse se levantar, a chuva engrossou, ensopando as suas roupas, a caixa de papelão começando a derreter e disfarçando as suas lágrimas.

...

— Você tem certeza que não quer que eu fique com você? — Harry havia ligado para Gemma, sua irmã, quando enfim conseguiu se proteger da chuva. Ele não tinha conseguido nem mesmo raciocinar qual linha de metrô precisava pegar para sua casa. Quando escutou o irmão chorando, mesmo sem entender direito o que havia acontecido, Gemma avisou que estava indo buscá-lo.

Assim que entrou no carro, Harry desabou. Gemma tentou entender o que estava acontecendo, mas Harry apenas lhe entregou o celular.

— Que babaca! — Ela se ateve, antes de arrancar com o carro pelas ruas de Londres— E, pelas caixas em seus braços, aquela promoção não veio, né?

Harry apenas assentiu e se forçou a parar de chorar, permanecendo em silêncio até que Gemma estacionasse na porta do seu apartamento. Ele nem sequer havia se dado conta que seria estranho chegar em casa e notar que havia deixado de ser um lar. Nem que iria acordar na manhã seguinte sem ter aonde ir.

— Tenho. Eu preciso ficar sozinho — disse a Gemma enquanto conferia se a caixa em seu colo estava fechada e buscava a chave do portão na bolsa.

— Tudo bem. Qualquer coisa me liga, não importa a hora! — Ela deu um beijo no rosto do irmão e aguardou até que ele fechasse a porta atrás de si.

Harry destrancou a porta do apartamento e encontrou uma sala vazia. Pela segunda vez naquele dia, ele deixou a caixa cair no chão, sem acreditar que Chris tivesse sido tão babaca. O sofá que Harry havia comprado com seu dinheiro, embora. O móvel onde ficava a TV? Embora. A televisão estava com os fios soltos encostada na parede.

Ele nem se preocupou em trancar a porta quando saiu correndo para conferir o resto do apartamento. Seu armário estava revirado, boa parte das suas roupas ainda presentes, mas o tênis que Christopher vivia brincando que roubaria não estava ali. Harry nunca pensou que seria literalmente.

Foi até o escritório, ainda boquiaberto em como havia encontrado sua casa, que não se surpreendeu que a única coisa que havia sobrado era sua estante de livros. A escrivaninha com a cadeira gamer tinha sumido. Pelo menos seu notebook ainda estava na prateleira em que guardava a mochila, com cadeado. Ele poderia aceitar os bens materiais, mas a única cópia do seu livro estava ali, ainda inacabada devido ao bloqueio criativo.

Harry se sentou no chão do escritório. Muito assustado com tudo aquilo para sequer derramar lágrimas. Em menos de três horas ele havia perdido o emprego que passara três anos dedicando para conseguir. Havia perdido o namorado com quem planejava construir uma família. E Christopher ainda havia levado embora metade das suas coisas. Como ele iria seguir em frente?

De repente, ele não conseguiu ficar mais um segundo sequer naquele apartamento. Se levantou, pegou a mochila com o notebook, juntou algumas roupas em uma mala pequena, ainda sentindo falta do seu tênis favorito. Por sorte, Christopher não tinha sido louco em sumir com o carro de Harry. Ele raramente o usava em Londres, mas ainda estava em seu nome e a chave na gaveta da mesa de cabeceira.

Harry trancou o apartamento, deixando a chave debaixo do tapete. Não é como se tivesse mais alguma coisa de valor para ser roubada. No dia seguinte pediria que Gemma viesse buscar seus livros e desfizesse das coisas que sobraram. Ele não teria coragem de entrar naquele apartamento de novo. Desceu até a garagem, conferindo se havia gasolina o suficiente e simplesmente se permitiu dirigir pelas ruas de Londres.

Ele mentiria se dissesse que sabia aonde estava indo, mas no momento em que pegou a rodovia, decidiu que às vezes era preciso dar um passo para trás para seguir em frente. Ou, no caso de Harry, alguns muitos passos para trás.

Tidal Waves ficava há duas horas de Londres, ele chegaria na cidade ainda de madrugada. Se as coisas não tivessem mudado muito em dez anos, ele encontraria a cidade deserta. Ligou o rádio para lhe fazer companhia e não demorou para que a sessão da madrugada de músicas antigas embalasse sua viagem. Quando Wonderwall do Oasis começou a tocar, Harry sentiu que talvez estivesse fazendo a escolha certa. Ele ainda lembrava como os garotos da sua escola tocavam aquela música depois da aula, dos rostos cheios de espinha e cabelos com franjas fora do lugar.

Ele sentiu que havia feito a escolha certa assim que as placas para Tidal Waves começaram a aparecer. Harry estava sem chão, sem rumo, sem coesão e talvez visitar seu passado fosse a única forma dele se reencontrar.

🌊🍻

Metonímia | a larry fanfic [hiatus] Where stories live. Discover now