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Ellen.

O amor da juventude tende a ser intenso, uma previa desajeitada de um sentimento ainda pouco conhecido, lembro-me da primeira vez que o vi aos quinze anos, uma adolescente que ainda não conhecia nada sobre o mundo, criada sob a proteção e o mimo dos pais.

A primeira vez que o vi ele tinha vinte anos era filho de pais britânicos e moravam no Brasil desde os seus dez anos, e estava timidamente se apresentando como namorado da minha irmã mais velha, Sabrina havia acabado de completar dezenove e o conheceu em uma festa por amigos em comum.

É claro que vê-lo quase todos os dias não era bom pra mim, ele era gentil, carinhoso, educado era um bom namorado para minha irmã e aos poucos se tornou um bom amigo para mim.

Quando completei dezessete anos, ele concluiu a faculdade e começou a ajudar na empresa da família, mas ainda sim ele vinha todas as tardes de domingo me dar reforço em matemática.

Na sua festa de vinte e três anos, ele ganhou um carro dos pais, isso resultou em minha irmã passando muitas noites fora de casa e viajando bastante com o namorado para o desagrado do meu pai e nós começamos a nos ver cada vez menos.

Aos meus dezoito eu entrei na faculdade para cursar administração e então mudei de cidade para que pudesse concluir meus estudos.

E agora aos meus vinte um estou voltando para São Paulo pela primeira vez para começar a minha vida, o plano na verdade era simples, ajudar meu pai na empresa e continuar aprendendo com ele até estar pronta para assumir seu lugar.

Esse era o plano que minha família havia traçado para mim no momento em que minha irmã pareceu não demonstrar qualquer interesse pela empresa e eu estava bem com isso, eu podia fazer isso.

Quando o avião pousou em Congonhas fui recebida com uma leve garoa como de costume e chequei meu relógio sabendo que meu pai já devia estar esperando por mim essa hora, ele era o único que sabia o horário da chegada do meu voo e havíamos combinado que ele viria me buscar.

Esperei que minha mala chegasse à esteira e peguei a mesma seguindo em direção à saída.

- Ei! – ouvi aquela voz grave que não ouvia há muito tempo e com certeza não pertencia ao meu pai, mas ainda era muito familiar para mim.

Olhei para trás um pouco surpresa e Harry sorriu tirando os óculos escuros e o encarei sem entender nada.

- Seu pai me pediu para busca-la, ele teve um problema na empresa e eu tinha um horário vago pela manhã. – esclareceu antes de me abraçar e ainda um pouco perdida retribui o abraço sentindo seu perfume.

- Que surpresa. – admiti deixando um sorriso escapar.

- Surpresa digo eu, quase não a reconheci Ellenzinha. – sorriu bagunçando meu cabelo como de costume e sorri empurrando sua mão enquanto o mesmo pegava minha mala.

- Bom, eu cresci, amadureci é o normal não é? – disse convencida e o mesmo sorriu negando.

- Tudo bem senhorita adulta, mas para mim continua sendo a pirralha da família. – piscou começando sua implicância e sorri, eu sentia falta disso também. Por mais loucura que pareça Harry havia sido meu amor de adolescência, o qual eu jamais deveria ter sentido é claro, afinal ele era namorado da minha irmã.

Estar longe dele havia me convencido de que eu tinha definitivamente esquecido essa loucura de adolescente, mas estar perto novamente me despertava aquela estranha sensação de nervosismo que eu odiava sentir.

Seu sorriso me dava borboletas no estomago, o mínimo de seu toque me deixava nervosa e sua voz ainda me arrepiava, eu não poderia sentir nada se quer uma pequena atração por alguém que era comprometido com uma pessoa tão próxima a mim, isso era errado, muito errado.

- Ellen, está me ouvindo? – Harry sorriu estalando os dedos a minha frente enquanto e pisquei me concentrando nele novamente.

- Desculpe, eu não consegui dormir durante o voo. – justifiquei rapidamente minha distração e o mesmo assentiu guardando minha mala no porta malas do carro.

Harry estava perigosamente diferente, sua postura era mais madura, seu jeito era mais sério e isso apenas havia contribuído para deixa-lo mais atraente, minha mente também havia mudado, a forma com que eu me atraia por ele parecia algo totalmente novo.

Quando antes parecia algo bobo e imaturo, agora parecia uma atração forte e adulta demais para que eu passasse muito tempo ao lado dele, o ambiente no carro era silencioso, minhas mãos puxavam nervosamente o cinto e meus olhos estavam vidrados na janela, seu cheiro estava por todo lado e isso era sufocante.

- Amanhã é meu aniversario de vinte seis anos, você vai não é? A festa vai ser na casa dos meus pais, é mais um jantar para falar a verdade. – comentou quebrando o silêncio e olhei para ele.

- Claro, eu não perderia. – sorri.

- Você já perdeu duas enquanto estava longe, agora vai ser bom tê-la por aqui. – piscou trocando a marcha e assenti.

Não demoramos muito para chegar em casa e respirei fundo antes de sair do carro, confesso que não estava nada ansiosa por essa parte, mas infelizmente era algo que eu tinha que conviver. Meu estômago se embrulhou quando vi a feição de desagrado da minha mãe assim que apareci na sala de casa.

- Ellen. – mamãe se levantou me abraçando e logo se afastou me analisando enquanto Harry parava ao meu lado deixando minha mala no chão. – Eu sabia que três anos fora não lhe faria bem, parece que ganhou no mínimo uns cinco quilos, filha. – repreendeu.

- Dora, deixe a nossa filha chegar em casa primeiro. – meu pai reclamou abrindo os braços para um abraço e sorri caminhando até ele. – Que saudade querida. – papai sorriu beijando o topo de minha cabeça e sorri me afastando para olhá-lo.

- Achei que estaria na empresa, Harry disse que foi me buscar porque o senhor teve um problema. – comentei e meu pai assentiu.

- Sim, mas tentei resolver o mais rápido possível durante a madrugada para que pudesse pelo menos recebê-la em casa. – afirmou fazendo carinho em meu rosto e sorri.

- Bem vinda de volta maninha. – Sabrina sorriu descendo as escadas e respirei fundo empurrando meu melhor sorriso.

- É bom te ver também irmã. – sorri aceitando seu abraço.

- Deu uma engordadinha né querida? – sorriu se afastando e abraçou a cintura de Harry dando um beijo no rosto do mesmo.

- Eu disse pra ela, mas tudo bem querida vou falar com o Ruan nosso personal e acredito que ele possa dar um jeito nisso. – disse mamãe sorrindo enquanto seguia para a cozinha com minha irmã conversando sobre o próximo desfile que a mesma faria em breve.

- É ótimo estar em casa. – debochei me aproximando de Harry para pegar minha mala e o mesmo sorriu solidário.

- Eu levo pra você. – afirmou pegando na alça da mesma e me acompanhou até o segundo andar deixando a mala na porta do meu antigo quarto.

- Obrigada. – sorri parando em frente à porta.

- Eu sei que é difícil, mas não liga pra sua irmã não. – disse beijando meu rosto e acariciou o mesmo. – Bem vinda de volta Ellenzinha. – sorriu bagunçando meu cabelo uma última vez antes de sair e sorri me encostando a porta.

Eu não via a hora de encontrar um apartamento pra mim e ficar longe da minha mãe, minha irmã e principalmente de Harry, todo o seu carinho de irmão deixava o meu coração confuso e aflito.

E isso não era bom.

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Atualizada todo sábado.

After Midnight - H.SWhere stories live. Discover now