Doze

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Especial

Infelizmente, tenho o costume de acordar cedo desde pequeno, então não estranho ao acordar no domingo e ver que ainda são 8:15, mesmo chegando tarde ontem — hoje, na verdade.

Me visto com roupas de ginástica e calço meu tênis, faço uma vitamina caprichada e bebo todo o copo do liquidificador. Minha avó aparece na sala com cara de sono e com a camisola dela, beijo sua testa e aviso que tava saindo para correr. Ajeito o fone nos ouvidos, faço um alongamento na calçada e saio.

Costumava correr todo fim de semana pela manhã, mas perdi o costume e agora era só vez ou outra. Eu tinha condições pra isso já que jogava bola toda sexta com o pessoal do trabalho, mas as corridas deram falta e fui ficando preguiçoso.

Vou até a praia e paro um pouco, completamente suado e bastante ofegante. Tiro o tênis pra caminhar na areia e me repreendo por não ter passado protetor solar. Ando até a beira do mar, pra sentir a água nos pés, tiro a camisa e limpo o suor.

Compro duas águas de côco e vejo que já são 10:49, mas não tenho pressa em voltar. Caminho pela orla e quase sou atropelado por uma mulher passeando com um golden retriever eufórico na coleira; faço carinho na cabeça dele e digo que não foi nada quando ela pede desculpa. Respiro um pouco e volto pra casa.

Tomo um banho demorado e falo para dona Rosa que ia fazer o almoço, mas a velha é teimosa e não gosta de ficar parada, então me ajudou na cozinha. Aprendi tudo o que sei com ela, e gostava muito de cozinhar.

– Por que tu anda todo bobo alegre ultimamente? – pergunta de repente.

– Impressão sua, coroa – recebo um tapa no braço.

– Eu te conheço, menino, não adianta correr. O que foi, tá com namorada nova?

– Não, dona Rosa, só estou passando bastante tempo com o pessoal, apesar da correria.

– Sei – me olha desconfiada. – Você é novo, tem que aproveitar mesmo, mas o seu pai tem razão, filho. É tão inteligente, Miguel, por que não tenta algum curso?

– Já falamos sobre isso, vó – suspiro, mas respondo tranquilo. – Não tenho dinheiro pra pagar uma faculdade e preciso ajudar aqui em casa.

– Não precisa não, menino, e sabe disso. Tu já é homem feito, Miguel, precisa do seu canto, e não viver com o pai e a avó caduca!

– Não vejo problema nenhum em morar com as pessoas mais importantes da minha vida – abraço ela por trás. – E a senhorita tá bem longe de ser caduca! É até muito espertinha pro meu gosto.

– Oh, menino teimoso – se vira e coloca uma mão em meu rosto. – Você pode ir longe nessa vida, filho, não fique parado deixando o tempo passar, lá na frente pode ser tarde demais. Tu é esforçado e inteligente, pode usar o dinheiro da sua...

– Não, vó – a corto me afastando, não gostando do assunto. – Já disse que não quero aquilo, até dei pra senhora e pro pai.

– E você sabe muito bem que guardamos todos os anos, porque é seu! Tu goste ou não!

– Ok, ok, já entendi que vocês não me querem mais aqui em casa! Eu procuro outro lugar pra mim – faço drama pra desviar o assunto. Ela revira os olhos.

– Teimoso igual o pai – resmunga voltando a atenção para uma panela.

– Ah, mas eu nem fiz nada – o próprio diz entrando na cozinha.

– Fala pro teu filho que ele é cabeça dura!

– Concordo, mas por que? – ela menciona a nossa conversa e começa a ladainha de sempre vindo dele. – Muda sua vida, Miguel, ouça a gente! Só queremos o melhor pra ti.

Eu e vocêWhere stories live. Discover now