6 - O tempo passa

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No ano seguinte, eu já não voltava mais de van da escola. Nos anos finais do Ensino Fundamental II, que na época era o Primeiro Grau, eu e o Davi estudávamos em turmas diferentes.

Raras vezes nos encontrávamos no recreio. Quando isso acontecia, ele era amável como sempre. Meu coração ainda reagia. Parecia que não importava quanto tempo passava: aquele meu sentimento bonito e ingênuo continuaria a existir.

Ele, popular como era, foi eleito presidente do grêmio estudantil. Quando fui conhecer a sala do grêmio a seu convite, perguntou-me se eu não gostaria de ser a primeira dama. Eu ri. Ele riu.

A partir do segundo ano do Ensino Médio, fomos colegas de turma. O sentimento era de amigos de infância, com muito carinho e sempre aquele comportamento meio sedutor da parte dele. Gosto de pensar que ele fazia isso apenas comigo, que eu era especial. Racionalmente, sei que isso não é verdade. Mas oras, eu escolho a versão que quero contar para mim mesma!

O tempo passou.

Depois de um ano de formados, a escola fez uma festa para celebrar os alunos que tinham passado no vestibular. Naquela noite, ele estava especialmente galante. Dançamos Martinho da Vila, enquanto ele cantava para mim:

Mulheres
Martinho da Vila

Já tive mulheres de todas as cores
De várias idades, de muitos amores
Com umas até certo tempo fiquei
Pra outras apenas um pouco me dei

Já tive mulheres do tipo atrevida
Do tipo acanhada, do tipo vivida
Casada carente, solteira feliz
Já tive donzela e até meretriz

Mulheres cabeça e desequilibradas
Mulheres confusas, de guerra e de paz
Mas nenhuma delas me fez tão feliz
Como você me faz

Procurei em todas as mulheres a felicidade
Mas eu não encontrei e fiquei na saudade
Foi começando bem, mas tudo teve um fim
Você é o sol da minha vida, a minha vontade
Você não é mentira, você é verdade
É tudo o que um dia eu sonhei pra mim

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Nada aconteceu, embora até hoje eu queira acreditar que ele realmente sentia as palavras que cantava. Eu seguia com o sentimento de que devíamos preservar para sempre aquilo que tínhamos e que se cruzássemos aquela linha poderíamos nos magoar e nos perder.

Nos encontrávamos em alguns momentos, o vi com várias namoradas diferentes e sempre senti ciúmes.

Com o tempo, a vida vai passando e afastando as pessoas. Mudei-me para outro estado. Retomamos o contato pelas redes sociais e nos víamos ocasionalmente em alguns encontros da turma que eu marcava quando viajava à nossa cidade natal.

Soube quando namorou com uma querida amiga em comum. Soube quando ele foi um verdadeiro babaca com ela - e eu senti raiva dele por isso. Embora desde os 12 anos eu soubesse o tipo de homem que era, gostava de alimentar a minha própria ilusão de que ele era diferente. Histórias como aquela estragavam a minha versão inventada.

Quanto a nós dois, nunca havíamos ousado cruzar a linha, apesar de sempre nos mantermos muito próximos a ela. Brincávamos que nunca demos sorte de estarmos os dois solteiros ao mesmo tempo nesses anos todos. Era verdade: quando um estava solteiro, o outro estava em um relacionamento, e vice versa.

Até que um dia...

O menino da vanМесто, где живут истории. Откройте их для себя