4 - Chegou a minha vez

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Depois que falei para o Davi que a Patrícia também tinha namorado, seguimos normalmente como se nada tivesse acontecido. Para ele, nada havia acontecido mesmo. Continuava me tratando com o carinho e atenção de sempre.

Dentro de mim, apesar de continuar apaixonada, o sentimento mudou. Não era mais uma paixão boa, leve, que me fazia sorrir. Era agora um peso que eu carregava comigo.

Os meses foram passando e eu já não nutria qualquer esperança. Observava de longe como o interesse dele flutuava entre várias meninas: a cada semana, parecia que mudava seu alvo.

Ao que parece, minha estreia no amor foi com o tipo de menino que hoje se chama de "golpe". Quisera tivesse sido o único da vida, mas não.

Certo dia, porém, Davi estava mais próximo do que o habitual. Falou que tinha um presente, mas que só me entregaria mais tarde. Quando ele estava saindo da van, beijou minha bochecha e me entregou um pequeno envelope azul.

Que curiosidade eu estava! Mas não podia abri-lo ali em frente às outras pessoas na van. Ao chegar em casa, corri para meu quarto e tirei de dentro dele um cartão que dizia na frente "Tirei férias..." e no verso "só para pensar em você".

Ele assinava: "do TEU Davi".

TEU em caixa alta.

TEU Davi escrito de próprio punho.

Meu Davi. Meu...

Até então, era meu amor platônico. Agora se dizia meu.

Meu coração disparou. Sorri, pulei de alegria. Demorei muito a conseguir dormir naquela noite. Eu estava muito feliz!

No dia seguinte, ele falou que me encontraria ao final da aula na frente de outro bloco da escola. Eu já estava lá quando ele chegou. Lindo, sorridente e MEU.

Só que, naquele momento, um lampejo de lucidez invadiu minha mente. Se ele se interessava por uma menina diferente a cada semana, eu era apenas mais uma. Durante todos esses meses, ele não tinha dado sorte com as outras. Eu não era especial, eu só era a bola da vez. Isso colocava em risco aquele sentimento tão gostoso que eu sentia, porque, se não desse certo (e o histórico recente dele demonstrava que havia uma grande probabilidade de isso acontecer), eu perderia a atenção e o carinho diário, perderia o amor platônico. E eu não queria perdê-lo!

- Viu o meu cartão? - perguntou.

- Vi sim, obrigada - respondi, sem olhá-lo diretamente nos olhos.

- Gostou?

- Gostei.

Com uma sabedoria incomum para uma menina daquela idade, naquele momento, dispensei o meu primeiro amor. Disse que precisava buscar meu irmão e nunca mais dei ao Davi a oportunidade de voltar àquele assunto.

Escolhi um amor platônico a um amor perdido.

O menino da vanOnde as histórias ganham vida. Descobre agora