Capítulo 29: A Invasão de Roma

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Miguel e Lael, um anjo de suas Legiões, pousaram na torre mais alta ao norte, onde um dos seus subcomandantes, o arcanjo Melquesedeque, comandava as defesas de Roma, uma das principais cidades-refúgio do Paraíso. Claro, havia centenas de outras, mas Roma era de extrema importância.

– Melquesedeque. – Miguel chamou. – Como está a situação?

– Senhor, assim que os terremotos começaram mandei dezesseis anjos investigarem o local de início, que descobrirmos ser quatro, nos pontos cardeais secundários, nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste, dentro e fora dos muros. Não havia nenhum sinal dos Filhos do Abismo. – O arcanjo calou-se de repente.

– O que mais?

– Eles reportaram que os muros estão cedendo. Em breve, serão partidos.

O terremoto já durava dez minutos ininterruptos.

Se eles não estão lá, onde podem estar? Miguel pensou. Era óbvio: os túneis. O subterrâneo de Roma era recheado deles – feitos durante o Império para guerra, e se necessário, fuga; e, assim como na Terra, os túneis existiam no Paraíso. Porém os anjos garantiram que ninguém poderia entrar ou sair da cidade por eles. Então, só havia uma explicação: eles já estavam dentro de Roma. Como entraram? Quando?

– Melquesedeque. – Miguel se virou para o arcanjo. – Eles estão nos... – O que Miguel viu por sobre o ombro dele arrancou-lhe a voz.

Vindo pelo descampado a noroeste, um exército de Filhos.

****

Pilotar uma moto por uma cidade feita praticamente de morros, ruas de paralelepípedos e que eu mal conhecia durante um terremoto provou-se mais difícil do que eu imaginara. Quase perdi o controle dezenas de vezes, mas, graças a Týr, a moto manteve-se equilibrada e rodando. Outro motivo do descontrole fora o beijo de Lana. O sabor doce de seus lábios misturados com cereja, seu toque nos meus, a sensação de nostalgia, a saudade e todos os sentimentos que fui forçado a suprimir e esquecer há quase três anos vindo à tona em apenas um segundo. Lana, eu realmente senti sua falta nesses anos.

Se ela não tivesse...

Uma multidão de desesperados entupindo uma das ruas por onde eu tinha que descer trouxe-me de volta dos meus pensamentos. Fui obrigado a andar numa velocidade quase parando. Se eu estivesse no meu bairro no Brasil, onde cresci, saberia desviar deles sem nem mesmo precisar diminuir a velocidade da moto, mas aqui não poderia arriscar perder-me, precisava sair dali o mais rápido possível. Buzinei freneticamente, pedindo passagem. A multidão foi aos poucos abrindo caminho, mas estavam muito devagar. Desperdiçavam um tempo precioso. Quando finalmente passei por eles, saí cantando pneu, ouvi algumas reclamações de incredulidade, mas ignorei-os.

Thais me esperava na porta do hotel com meu casado, que vesti sem descer da moto, e minha espada, que pendurei no cinto. Ela montou e me abraçou, acelerei. Podia ser loucura da minha cabeça, mas o toque dela não estava normal, ela estava apertando demais, como se estivesse com raiva. Dei de ombros, eu tinha mais coisas com o que me preocupar. Tive que parar em um posto para abastecer, senão não chegaríamos muito longe.

Moto abastecida, agora chegava a parte mais difícil: como iríamos sair de lá sem sermos vistos? Outra coisa me incomodava: os anjos estavam atrás de mim, assim como os Filhos do Abismo. Eu tinha dois inimigos, ou será que não? Talvez os anjos não quisessem ferir-me. Se bem que considerando que a Morte não quisesse que minha presença ou a de Týr fosse notada, acho que eles querendo conversar comigo não era um bom sinal.

De qualquer forma, eu dividi meus pensamentos com Týr e Thais.

– O que vamos fazer, então? – Thais perguntou.

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