Capítulo 3: Julgamento

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A escuridão na qual eu andava há dias – ou assim parecia – era infinita. Não importava a direção em que eu ia, sempre chegava a lugar nenhum. Apenas mais escuridão. Eu não enxergava minha mão diante dos meus olhos. Ouvi então um zumbido distante, como o de um pernilongo vindo te atormentar durante a noite.

De muito longe vi um ponto brilhante vindo em minha direção, desse ponto saiam pequenas faíscas amarelas enquanto voava. Enquanto se aproximava o ponto foi tomando forma. Era uma pessoa. Uma pequena pessoinha, do tamanho da palma da minha mão. Uma menininha. Ela voava com pequenas asas transparentes, como as de uma libélula, que batiam muito rápido se esforçando para mantê-la no ar. Ela ficou parada a alguns centímetros do meu nariz. Ela tinha a cara emburrada, estava com muito mal humor. Percebi logo que ali era o último lugar em que era queria estar.

– Você é Leonard Ross? – Perguntou impaciente.

– Sim.

– Finalmente! Sabe para quantas pessoas eu já perguntei o nome? Mais de mil! E perguntei pra mesma pessoa mais de dez vezes! Pela Morte, por que Ele criou uma sala de espera tão escura? Que seja. Agora que te encontrei tenho um recado pra você da Morte...

– Espera aí. Antes de tudo, quem é você?

– Desculpe. Não me apresentei. Meu nome é Týr, em homenagem a deus nórdico do combate. Meu pai foi um grande guerreio que lutou em favor do Reino de Godheim durante a guerra dos deuses...

– Olha... – Eu a interrompi. – ... Týr, certo? Não estou entendendo metade das coisas que você está falando. Então vamos direto ao assunto: você é uma fada?

– Sim.

– E trouxe um recado da Morte? Aquele cara velho de terno e que não usa sapatos?

– Sim. – Ela estranhou a pergunta.

– Isso quer dizer que as fadas são os mensageiros da Morte?

– Mais ou menos. Minha raça não confraterniza muito com sua, e quando isso ocorre é porque algo de ruim está por vir. Normalmente é porque a pessoa ou alguém próximo a ela está perto de morrer. Mas este caso é diferente. Ele falou diretamente comigo para falar com alguém que morreu. Isso não é comum.

– Certo. Qual o recado da Morte?

– Ele disse pra eu te explicar como vai ser daqui pra frente e te acompanhar. Agora você será julgado e mandado para o Paraíso, onde ninguém se lembra de suas vidas na Terra. Sabem que um dia viveram lá e que morreram, mas não se lembram. Você deverá fingir que não se lembra também. Não deve contar nunca a ninguém. Assim que chegarmos lá, vamos para o Castelo da Morte encontrá-lo.

– Onde?

– Essa é uma questão para depois, agora temos que nos preocupar em entrar no Paraíso.

Senti algo tocando meu pulso.

Notei que um fio dourado mínimo estava amarrado no tornozelo direito dela e ia até meu pulso esquerdo, onde estava amarrado.

– O que é esse fio?

– Esse fio liga você a mim no pós-vida. Mas ninguém poderá me ver ou ouvir, exceto você, ou se eu quiser ser vista.

Nós andamos até minhas pernas estarem exaustas. Durante todo o tempo Týr não ficou quieta por nem um segundo, não sei como ela não cansou. Talvez fadas não se cansassem de falar, mas sei que elas cansavam de voar, pois ela sentou no meu ombro uma boa parte do percurso. Então eu cansei e sentei.

AfterlifeWhere stories live. Discover now