Chuva cristalina ^^

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— Moça está tudo bem? 

— Sim, estou ótima — respondi. 

— Está quente hoje, porque está vestida assim? Pergunta ele. 

— Porque cada um se veste do jeito que quiser — respondi. 

— Ok, então assine aqui por favor — disse ele. 

Foi quando coloquei minha mão para fora, para assinar, e minha pele ficou vermelha e ardeu. Eu assinei rapidamente e devolvi a caneta ao carteiro. 

— Muito obrigado moça. Desculpe incomodar — disse ele. 

— Tudo bem — respondi. 

Voltei rapidamente para dentro de casa e retirei todas as cobertas, eu estava morrendo de calor, olhei pra minha mão e ela estava vermelha ainda, ardia bastante. Fui correndo até o quarto da minha mãe e peguei o termômetro, coloquei embaixo do meu braço, e olhei para quanto marcou. Na mesma hora larguei no chão e ele se estilhaçou.

Aquele termômetro marcou uma temperatura muito baixa, eu me sentei no chão e tentei juntar as peças. A luz do sol machuca, meus olhos tem aumentado sua capacidade de distância a cada dia que passa, minha temperatura é muito baixa. O que eu sou? E o que o Kairus fez comigo?

Estava eu dentro de casa, muito entediada, fiquei procurando por alguma coisa para se distrair, abri a porta da estante da sala, vi várias coisas que eu não ligava mais, uma câmera velha, uns jogos de tabuleiro, e certificados de vários cursos que eu já tinha feito, coloquei o cabelo para trás levemente e me sentei no chão, peguei a câmera e vi algumas fotos que nela contia. Meu primeiro cachorro, meu primeiro papagaio, ganhei de uma tia minha. Logo abri uma caixa que estava um álbum de fotografias, peguei nas mãos e olhei para elas, vi eu bebê, vi uma criança na piscina aqui de casa com minha mãe e minhas primas, vi minha antiga escola que eu amava de paixão.

Foi inevitável lágrimas surgirem nos meus olhos, afinal ali estava o meu passado, minha vida e minhas lembranças de quem eu sou. Mas logo depois eu fechei o álbum e refleti, e se agora tudo que eu já vivi na minha vida, foi apenas uma lembrança. Tomei um banho vesti uma roupa confortável e me deitei no sofá assistindo um filme qualquer. Quando olhei no relógio já eram 18 hs, o sol já quase se pondo, olhava pela janela, vi a última luz do sol se esconder atrás das casas à minha frente. Ainda com um pouco de medo, abri a porta e sai lá fora, um final de tarde, com uma leve ventania soprava, percebi que já não tinha perigo ali fora. Olhei para cima e notei que a noite vinha chegava com uma calmaria de muitas águas numa tempestade, as nuvens se moviam se juntavam todas, era lindo de se ver.

Eu saí na rua e fiquei e respirava ar fresco, tive a sensação de que fosse minha última experiência ainda humana. Logo uma linda chuva de final de tarde caiu sobre o meu bairro, molhava a rua, a grama e os telhados das casas, percebi que nunca tinha visto uma chuva com tanta emoção.

Era tão linda e cristalina.

Caia no meu rosto, molhava meus cabelos, surgia um sorriso no meu rosto, abri meus olhos e meus olhos viajam entre os pingos de chuva que caiam como se tivessem perdido sua real velocidade. Voltava meu olhar para o telhado da casa a minha direita, ele estava ali me observando outra vez, eu o olhei rapidamente, e logo fingi ignora-lo.

Eu olhei para ele séria e disse. 

— Kairus! Já viu chuva tão linda como essa? 

— Nunca desse jeito — respondeu. 

— Desse jeito? — me perguntei. 

— Assim como você está aí agora sorridente e feliz, com uma simples chuva — respondeu. 

— Sabe Kairus... Se eu realmente não puder nunca mais sentir as emoções humanas, se eu me tornar tão fria e desprezível assim como. — digo a ele. 

— Assim como eu? — perguntou. 

— Isso Kairus — respondi. 

Ele se aproximou de mim, segurou minhas mãos, quando tocou nelas, não era tão frio assim. Talvez porque eu também estava com a minha pele fria e pálida. Ergui meu olhar para ele e disse. 

— Kairus?

— Oi Yonus — respondeu. 

— Preciso de você comigo para passar por tudo isso de cabeça erguida — digo a ele triste. 

— Eu não vou te abandonar, vou estar aqui com você quando precisar de mim — respondeu. 

Olhei diretamente para ele e disse. 

— Porque o sol me machucou, quando tocou minha pele? —  perguntei. 

— Isso é complicado, mas vou tentar fazer você entender, tudo que precisa saber — respondeu. 

— Certo.... Eu vou confiar em você — disse a ele. 

Logo após isso, ele me deixou novamente, eu continuei na chuva, aproveitando as minhas últimas emoções humanas. Eu estava sentindo uma paz tão grande, nem parecia que daqui a alguns dias eu seria um animal selvagem. Depois de um bom tempo ali fora na chuva, decidi voltar para dentro de casa, eu estava toda molhada, corri pelo corredor da minha casa que dava acesso a nossa piscina. Dei um pulo de roupa e tudo, quando eu bati na água, pareceu o tempo ter congelado, eu vi a água que como um lindo show de águas cristalinas criavam raízes, como se estivesse congelada e logo depois se quebrava  como uma onda no oceano.

Levantei minha cabeça, lancei meu cabelo para trás, e vi nitidamente um círculo de águas bem diante dos meus olhos, era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Eu estava aprendendo a focar meus olhos naquilo que eu queria ver, mergulhei até o fundo, era tão extraordinário, que mais parecia estar mergulhando em blocos de gelo, mas era apenas a água comum, olhei para o alto. Pude ver meus olhos sair da piscina atravessar as nuvens, vi alguns pássaros que voavam por ali naquele momento. Parecia que meu corpo estava flutuando pelos céus com se o vento me carregasse até lá. Mas na verdade era apenas meu olhar que subiu além do céu. Era uma solidão, era a minha solidão.

Era o meu momento... Era a minha despedida do mundo que conheço... Era minha última vez chorando, talvez... Era minha última vez sorrindo... Era minha última vez se divertindo como uma garota feliz... Era minha última vez. 

INSTINTO ^^Where stories live. Discover now