- Quem é você? - disse se colocando novamente em pé.

- Sou o seu pior pesadelo - respondi fazendo menção ao que o Kairus havia dito naquela noite.

Ele deu um soco no meu rosto, eu virei o para o lado, quando ele foi dar outro, eu pude ver a mão dele se aproximando igual eu vi o sabonete cair, segurei o braço dele, apertei pude ouvir seus ossos quebrarem, ele deu um grito, eu o segurei pela gola de sua jaqueta e o levei até a parede e disse com uma voz autoritária e ofegante ao mesmo tempo.

- Acho que hoje você se deu mal otário.

- Por favor, me deixe ir embora - respondeu chorando.

- Nunca mais ataque moças indefesas ouviu? - disse a ele irritada, mas ainda no meu controle das minhas emoções.

- Sim sim eu juro! - respondeu em pânico.

Eu o soltei, e ele saiu correndo, deixando as minhas coisas que havia roubado para trás, enquanto segurava seu braço que provavelmente estava quebrado.

Olhei para a minha barriga e pude ver que se curou, peguei minhas coisas caídas no chão e saí rápido dali.

Realmente eu não podia reclamar disso, pois se fosse eu a alguns dias atrás e levasse aquela facada, eu estaria numa ambulância agora lutando para não morrer. Mas isso é uma coisa extraordinária, voltei para a frente da loja e tinha uma mulher que está abaixada e diz.

- Da onde esse sangue aqui na calçada?

- Sei não! Talvez algum cachorro de rua machucado ou qualquer outra coisa - respondi rápido e segura de minha própria mentira.

- Estranho! - exclamou ela - Não lembro de ter visto nenhum dos cachorros, que costumam ficar aqui aos arredores da loja hoje.

- Eu vi um no momento em que sai com essas sacolas aqui em mãos - disse - Mas ele subiu até aquela outra rua lá longe.

Ela se levantou, sorrindo de um jeito simpático e entrou na loja, e eu aproveitei e me abaixei na calçada, coloquei a ponta dos meus dedos na mancha de sangue ao chão, olhei para os lados, e ao perceber que estava só, num momento de curiosidade eu chupei meu dedo, aliás sabia que era o meu sangue ali, e cuspi na hora.

- Aiii, credo que gosto horrível - exclamei totalmente arrependida.

Levantei, peguei minhas coisas e voltei para casa. Subi as escadas, joguei as roupas compradas na minha cama e liguei uma música, para descontrair um pouco, puxei minha cadeira me sentei em frente ao meu espelho, e comecei a me pentear, mais uma vez reparei nas pontas do meu cabelo, e notei o tom castanho, abri uma pequena gaveta no bidê peguei uma tesoura e a encarei por alguns segundos, ameacei enfiar na minha mão, só para ver se realmente eu estava protegida sempre, mas e a coragem pra fazer essa loucura?

Larguei a tesoura e fui até a janela, olhei para fora, o sol se pondo, eu lembrei que hoje acabava meu atestado, e eu precisava ir à faculdade, fiquei pensativa

" Como esse dia foi louco hoje, eu não sei o que irá acontecer na faculdade, mas uma coisa eu tinha certeza, é que ninguém poderia me ferir ".

Algumas horas mais tarde, segui a minha mesma rotina de universitária, me arrumei, comi um delicioso pedaço de bolo de chocolate, seguindo assim peguei meu caderno, alguns livros de medicina e sai do meu quarto, apenas dizendo.

- Mãe estou indo te amo beijos.

Eu sempre pegava o mesmo ônibus todos os dias, mas eu não tinha certeza se eu iria seguir essa rotina novamente, afinal eu estava muito confiante na minha vida, nunca estive tão confiante como estou agora.

Coloquei meus livros embaixo do braço e caminhei até o ponto, fiquei em pé esperando o ônibus vir, andando em círculos refletindo sobre tudo que eu estava vivendo, depois de minutos o ônibus chegou, entrei.

- Boa noite Yonus como vai? - me disse o motorista.

- Ótima! Melhor impossível - respondi de um jeito sarcástico e com uma grande simpatia.

Passei da roleta, e como sempre ônibus lotado, me segurei firme no banco, assim o ônibus sai.

Sentada à minha direita tinha uma mulher com um bebê no colo. Os acontecimentos a seguir são repulsivos e são assustadores para mim até hoje.

Quando deu um vento de fora da janela do ônibus para dentro, meu olfato sentiu um aroma doce e apetitoso, eu olhei para todos os lados, meus olhos agiam como se procurassem de onde esse delicioso aroma surgia, quando a mulher desceu do ônibus, virei meu rosto rápido e meu coração desacelerou de uma forma repentina. Eu olhei para o bebê enquanto a mulher deixava os degraus da escada, assim como um transe, meus pés me levaram junto e também desci. Eu comecei a seguir essa mulher, de uma distância não tão longe e nem tão próxima dela, ela não percebeu o perigo imenso que estava correndo, afinal eu já não estava mais no controle, eu queria porque queria aquele bebê, acelerei o passo, na deliciosa expectativa de alcançar a criança, assim que minhas mãos estavam quase a tocando, o Kairus surgiu na minha frente.

- Você está perdendo o controle Yonus, se controle! - disse - Respire fundo e desista dos seus mais profundos desejos.

- Eu quero aquele bebê - disse lambendo os lábios como um animal sedento.

- Você precisa vir comigo agora - respondeu Kairus.

Kairus me puxou para um beco escuro e segurou forte meus braços sacudindo dizendo.

- Você é forte garota, não deixe ser dominada pelo seu instinto animalesco.

- Me larga! Ou eu vou te machucar - digo a ele com olhos odiosos.

- Você não pode - respondeu.

- Eu posso sim, eu hoje quase matei um assaltante que me esfaqueou na barriga - digo orgulhosa.

- Bom Yonus, você se controlou pelo que vejo, outras não conseguiriam - respondeu calmo.

- Outras? - me perguntei.

Em seguida me soltei dele. ....

- O que eu faço para não machucar as pessoas ? - perguntei.

- Não tem o que fazer, lamento. Você pode se afastar das pessoas que ama, para não machucá-las, mas você não pode fugir da sua sede que logo vai dominar todo o seu corpo e te tornar um caçador incontrolável - respondeu Kairus.

- Tudo bem eu vou fazer o possível para continuar sendo humana ainda, e outra coisa Kairus, você se orgulha de fazer isso com as pessoas? Tornar nossos sentimentos e amor em ódio e crueldade - pergunto séria a ele.

- Não! Não me orgulho disso, afinal quem fez isso comigo não tinha um coração bom, se é que tinha algum - respondeu.

- Então você também passou as coisas que eu estou passando, você pode me entender - respondi.

- Sim, é por isso que eu vou te ajudar - disse a mim me acalmando um pouco.

- Agora preciso ir para a minha faculdade, nos falamos mais tarde, ou não - disse com um tom desanimado.

Me afastei dele, e segui subindo a rua até a minha faculdade, entrei, caminhava pelos corredores, olhava para as pessoas que estavam sentadas em suas carteiras, cheguei até a minha sala, bati na porta, o professor abriu, e disse.

- Está atrasada moça.

Entreguei o atestado nas mãos dele, e caminhei para o meu lugar, me sentei, olhei para o meu caderno e escrevi.

" Espero que amanhã eu seja eu mesma ".

INSTINTO ^^Donde viven las historias. Descúbrelo ahora