Capitolo Tre

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Alessa Romano

Um ano antes


Campânia me parecia ser majestosa, pelo menos até onde eu podia ver pelas janelas gigantes do meu quarto. Todos os dias, ao nascer e ao pôr de sol me colocava em frente a elas para admirar a imagem celestial desenhada a minha frente. Era frustrante o fato de eu não sair das dependências Romano, mas a natureza me acalmava, por um momento me imaginava lá fora sentindo a grama e o ar. Todo dia era a mesma rotina, mas todo dia era um novo pôr de sol, e um novo nascer de sol. Repleto de esperança.

A vista era de fato intrigante, Campânia era cheia de suas ruínas e de um litoral pitoresco. A cidade, um tanto quanto movimentada, mas, repleta de um cenário natural extraordinário. Fazia sete anos que eu morava aqui, mas não aproveitei nem metade desse tempo. Fiquei em coma após meu acidente, pôr no mínimo quatro anos – eu não perguntava muitos detalhes sobre esse tempo, era doloroso demais – e depois, meu tempo se dividia para a minha recuperação, fisioterapias, exercícios, terapias e tentativas frustrantes de psicólogos. Não fui muito eficiente, entrei muda e saí calada de toda sessão. Eles não podiam me ajudar. Ou mudar as coisas.

O passado não se muda, se convive com ele. Aprende com ele. Ou no meu caso, fica presa nele.

— Queria ter te conhecido antes. — a voz robusta me traz de volta a realidade.

— Não daria muito certo. — sorrio para a montanha de músculos encostado a porta

— Já estou cansado de te ver em frente a essa janela, sabia? — mãos grandes e firmes acarinham meus braços de forma fraternal. Deixei-me apoiar minhas costas nele, recebendo seu abraço. Sentindo seu queixo sob minha cabeça. — Você devia ser mais divertida antes. — ri de forma debochada. Nessas situações eu não sabia o que sentir, ainda era um misto de emoções pra mim. Não sei se ficava com raiva por ter sido afastada da família, ou feliz porque finalmente entendia certas coisas.

— Não tem muito o que eu possa fazer — respondo; retribuindo o carinho alisando seu braço gigante.

— Você sabe que tem. — Ele sai de perto, quase me deixando cair. Não evito em tentar lhe dar uns bons tapas por isso. — Você tem reflexo. Não tem sequelas físicas.

— Físicas. — repito, um tanto cansada. — O emocional e o psicológico não são os mesmos.

— Porque você se martiriza! É deprimente. Precisamos resolver isso. Eu não aguento mais te ver nessa janela todo dia, o dia todo. Precisamos fazer algo. Resolver os assuntos inacabados! — a última parte, ele disse entredentes, e eu sabia o que isso poderia significar. E era o pior que ele poderia sugerir. Porque significava enfrentar o passado e os demônios que vinham juntamente com ele. E eu não sei se estava pronta.

— Eu não posso voltar. Viu o que aconteceu porque procurei demais. O papà e a Eleonora não permitirão. — disse somente.

— Deixa que dos nossos pais cuido eu. — Sorriu satisfeito, provavelmente pensando que havia ganhado. Camillo sempre consegue tudo que quer, e por isso é assim. Se nossos pais permitissem, seria um problema. Não haveriam mais desculpas.

Assim que acordei do meu coma fiquei desesperada para voltar, mas depois que descobri quanto tempo havia passado desde o ocorrido, me fechei totalmente e nunca chorei tanto na vida, e de fato, foi a última vez.

— Não posso voltar, as pessoas me reconheceriam. — procuro motivos plausíveis para que ele desista — A Ilha é pequena e eu não era bem invisível. — comento. Com essa possivelmente eu ganharia algum tempo até ele insistir de novo. Ao menos ele aparentava estar pensando.

À Espreita - Máfia ItalianaOnde histórias criam vida. Descubra agora