1 - Borboletas e cheiro de brigadeiro

8 1 0
                                    

Eu estava muito nervosa por ser o primeiro dia em que eu e meu irmão voltaríamos de van escolar para casa. Por causa de uma mudança no horário de trabalho da minha mãe, agora seria assim três vezes por semana.

Não conhecíamos ninguém da van. Apenas sabíamos que, ao final da aula, devíamos procurar pelo Tio Fernando, o motorista, no estacionamento da escola. Numa época em que ainda não existiam telefones celulares, a única forma de localizar-se era olhando ao redor e pedindo informações a alguém - o que, para uma menina tímida como eu, era um grande desafio.

Respirei fundo e tomei coragem.

Busquei o Vinícius no prédio da Educação Infantil e não desgrudei minha mão da dele. Com 12 anos, esperava estar à altura da responsabilidade que me foi dada de cuidar do irmãozinho mais novo.

Encontramos o Tio Fernando, que nos acolheu com simpatia. Dentro da van, crianças de várias idades acomodavam-se.

- Esses são Victória e Vinícius, que a partir de hoje voltarão com a gente alguns dias na semana - anunciou.

Ouvimos vários "ois" e "olás", mas eu estava tão tímida que não consegui olhar fixamente para ninguém.

Um menino mais velho, por volta de seus 13 anos, rapidamente nos deu apelidos:

- A Barbie e o Pipoca - ele disse.

Todos riram, inclusive o Vini. Sorri e baixei a cabeça, acreditando que aquilo era um elogio para mim. Definitivamente, não estava acostumada a receber elogios assim.

A porta continuava aberta, e restava um lugar ao meu lado.

Foi quando o vi pela primeira vez. Carregava a mochila preta em apenas um dos ombros. Entrou na van e, como num movimento único, colocou a mochila no colo, limpou em sua própria roupa a mão que parecia suja de brigadeiro e, em seguida, a estendeu para me cumprimentar.

- Muito prazer, eu sou o Davi.

Ele era mais alto do que eu, provavelmente um ou dois anos mais velho. Tinha um belo sorriso, uma voz que já se tornava grossa, cheirava a brigadeiro e era incrivelmente lindo. Como eu nunca o tinha visto na escola antes?

Naquele momento, tinha certeza de que minhas bochechas estavam vermelhas, por causa do calor de nervoso que sentia dentro de mim. Ao mesmo tempo, borboletas voavam no interior da minha barriga

- Prazer, sou a Victória - falei, meio sem jeito, desejando que as borboletas ficassem quietas.

- E eu sou o Vini Vinícius - complementou meu irmão, deixando-me aliviada já que eu não sabia mais o que dizer.

Davi bagunçou o cabelo do pequeno, enquanto o cumprimentava: "Oi, Vini Vinícius".

- É o Pipoca - alguém gritou lá de trás.

Fomos os primeiros a serem deixados em casa naquele dia.

Durante o trajeto, que durou cerca de vinte minutos, as pessoas conversavam sobre assuntos que pareciam ter em comum e faziam piadas - muitas piadas. Eu ria, enquanto tentava parecer confortável, mesmo sem estar.

Não sabia o que estava sentindo. Por alguns instantes, tinha a impressão de que meu espírito estava tentando fugir do corpo. Hoje em dia, eu sei que isso é ansiedade, mas não era a do tipo ruim.

Sentia algo novo, estranho, desconfortável, mas ao mesmo tempo muito bom. Algo que eu queria sentir mais.

- Tchau - disse Davi, abrindo aquele sorriso que ficaria insistentemente em minha mente por muito tempo.

- Tchau - respondi.

Fui para casa com um riso bobo no rosto, que não conseguia conter.

As borboletas continuaram lá até eu adormecer naquela noite - o que demorou a acontecer. Elas voavam dentro da minha barriga, enquanto eu lembrava repetidamente do sorriso, da voz e, principalmente, daquele toque.

O menino da vanWhere stories live. Discover now