O festim transcorria e todos bebiam e comiam incessantemente. Ædyth, por sua vez, dançava com as senhoras ou algum jovem alderman que, encantado com sua beleza, procurava cortejá-la. Prudentemente, ela só concedia uma dança.

Mas seus olhos buscavam incansavelmente por Canute. Desapontou-se ao ver que ele se ausentou do grande salão. Ædyth, todavia, decidiu tomar ar fresco, desvinculando-se de um número cada vez maior de alcoolizados que perdiam o ritmo da música. E uma vez que suas amigas ocupavam-se com flertes e seu irmão arranjou quem o acompanhasse na bebida, achou que ninguém a notaria se procurasse os jardins.

"Minha senhora, está tarde para perambular por aí sozinha." Uma voz masculina se dirigiu a ela com o sotaque que o diferenciava das demais. Ædyth se virou e se deparou com o próprio rei em pessoa.

"Lorde rei", ela fez uma mesura diante de sua presença. "Pretendia regressar aos meus aposentos. O festim se prolonga e estou cansada."

Canute fez um meneio com a cabeça.

"É compreensível. Confesso que gostaria de ter essa possibilidade de dormir mais cedo, mas há convidados que um rei deve entreter."

"Lamentaria por este inconveniente se não fosse do agrado de meu senhorio."

Ele riu diante da resposta, um tanto ácida quando pronunciada por um ser etéreo como Ædyth.

"Ri de mim, lorde rei?", ela indagou, titubeando a cabeça para o lado. "Mesmo quando me presenteia com lindos apreços?"

Canute deu um passo adiante, encurtando a distância entre os dois. Talvez Ædyth tenha encontrado a coragem no hidromel que bebeu, pois sentiu-se ousada em encará-lo de volta.

"Vi que os apreciou", disse o rei suavemente, gentilmente tocando-lhe o rosto. "Está linda, minha senhora. E jamais riria desta nobre donzela. Mas há mais do que seu belo rosto transmite, vejo agora. Fui prudente em não tê-la subestimado."

"De fato não é aconselhável subestimar quem quer que seja", disse Ædyth. "Mas agradeço, bom rei, pela sua gentileza. Desejava tê-lho trazido algum presente. Perdoe-me pela indelicadeza, meu lorde rei. Em nossa defesa, não contávamos com uma estadia mais longa."

"Não há nada pelo qual deva se desculpar", assegurou-o. "Gostaria de conhecê-la melhor, senhora Ædyth. Concederia-me a honra de cavalgar ao seu lado amanhã após a primeira missa?"

Surpresa com o pedido, estranha inquietude a impeliu a recusá-lo. Todavia, algo atípico rugiu sobre o bom senso e a razão. Sem desconfiar do grande evento que marcaria o reinado de Canute, ela cedeu um sorriso e entregou seu coração nas palavras que sua língua não retinha poder em controlar:

"Seria uma honra, meu senhor."

Canute sorriu largamente ante a resposta recebida. Tomou a mão da donzela na sua e, entrelaçando os dedos, ali permaneceu. Dois pares de olhos traziam à superfície conexão incomum que, sem necessidade de qualquer outro tipo de expressão, unia tais almas.

"Alegra-me ter a chance de desfrutar de sua companhia. Gostaria de ter sido eu a conduzi-la na dança, e me perguntei como seria cheirar seu cabelo se a apertasse contra meu corpo."

Ædyth, cujos ouvidos jamais captaram tamanha lisonjeira, arregalou os olhos e sentiu seu rosto queimar. Apesar do atrevimento do rei, faltavam forças para repelir seu toque do dele, tão mais quente e caloroso que o seu.

"Meu lorde rei!", exclamou ela.

"Fui ousado", ele riu. Com delicadeza, como se temesse por sua fragilidade, roçou seu dedão sobre pele tão formosa. "Deveria ter sido mais discreto, mas quando me coloco ante minha senhora, perco minha autoridade e sou tão somente um homem."

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⏰ Última atualização: Feb 21, 2023 ⏰

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