Bamburg, Northumbria.

As festividades em honra ao novo rei de Angla-Land não eram de agrado geral. Entretanto, era insensato expressar aquela opinião em voz alta. Que cada um conhecesse seu lugar quanto a isso. Não obstante o pequeno número de descontentes locais, padres realizavam suas missas e o populacho desfrutava daquela oportunidade para encher tavernas.

A transição de poder de um rei que o norte desconheceu para outro que já havia traçado seus passos naquela região foi tranquila. Os condes locais se reuniam, alguns com propósitos convergentes, outros nem tanto, mas com o objetivo em comum de prosperar com um rei estrangeiro.

Pequena reunião acontecia no castelo fortificado de Bamburgh na manhã do último dia de dezembro, após as festividades de Yule.

"A coroação será realizada em Londres", informou o conde de Bamburg. "O rei enviou um mensageiro. Ele pretende convocar todos os nobres. Decisão sensata, julgo eu."

"Indicativo positivo de que ele deseja trabalhar conosco e não implementar dinamarqueses em nosso reino", comentou o alderman de Jorvik. "Sou a favor de enviar todos para a capital. Um Witan será realizado, segundo me foi dito."

"Devemos ter cautela quanto aos Godwin e aquele homem...", pontuou o senhor de Northumbria.

"Está se referindo ao conde Eadric Streona?", outro alderman de Northumberland comentou.

O senhor de Northumbria era um homem de muitas posses. E as ostentava por meio de suas roupas de couro, seda e cetim. Naquele dia, optou por exibir vermelho em suas robes, sua cor favorita. Vermelho e dourado era sua combinação preferida, pois transmitiam a mensagem de poder que gostava de demonstrar. De cabelos escuros, longa barba e olhos tão claros quanto a neve, era tranquilo em temperamento, mas astuto e feroz em batalhas.

"Ele mesmo. Não gosto de traidores", e dizendo isso cuspiu no chão.

"Chamaria-o de oportunista. Não somos todos?", disse o alderman de Jorvik. Era somente alguns anos mais jovem que o senhor de Northumbria e tão feroz quanto ele. De cabelos dourados e olhos amendoados, seu sorriso era simpático, mas era dono de uma língua venenosa. Não tinha herdeiros ainda, mas em sua mente traçava planos para modificar aquela situação. Por que não desposar uma das filhas de seu senhor?

"Alguns de nós têm honra", respondeu o outro. "Mas não entraremos neste mérito. O ponto é: estamos de acordo em nos fazermos presente na coroação do rei? Ele precisa de nosso apoio, ou os filhos sobreviventes de Edmund encontrarão quem os coloque no trono que ele mesmo conquistou."

Súbito silêncio se seguiu ao exílio dos herdeiros de Edmund II. Os que não morreram na infância foram enviados à Dinamarca para ficarem sob a custódia do regente daquele reino, que respondia a Canute. Havia rumores que as ordens eram de executar aquelas crianças para que não crescessem e reclamassem o reino de volta.

Seja como for, chegaram não às terras dinamarquesas, mas às húngaras. O rei de lá os recebeu e prometeu educá-los. E aquelas eram as últimas notícias dos filhos de Edmund, cuja ferocidade em batalha o fez receber o epíteto de aço.

"Ele é diplomático", interveio o senhor de Bamburg. "Ouvirá nossas demandas, sei disso."

"Certo. Vejo que chegamos a um acordo", declarou o conde de Northumbria. "Muito bem, senhores. Enviemos um mensageiro que responda por nós. E que preparemos nossos cavalos: é preciso que estejamos na capital antes da coroação."

Os homens presentes levantaram suas espadas e a pousaram sobre a mesa redonda do grande salão de Bamburg. A certeza da prosperidade banhou seus corações e pintou seus sorrisos com a arrogância típica de quem confabulava manipular um estrangeiro inexperiente nos negócios do reino.

Sol AdormecidoWhere stories live. Discover now