50 - Roberta?

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— Não... - sussurrou.

Também amordaçada e amarrada a uma cadeira, uma garota de cabelos curtos pendia a cabeça para a frente, aparentemente desacordada. Ele correu até ela e, assim como Eros havia feito minutos, a libertou. Tocou seu rosto suavemente e o ergueu, estava com pouca luminosidade, mas foi possível notá-la abrir e fechar os olhos lentamente algumas vezes.

— Nic... — murmurou ela.

— Estou aqui... — assegurou-lhe, pegando-a no colo com delicadeza, a fim de levá-la para o cômodo de cima, o que o fez com cuidado.

— Mas o quê... — Heloíse foi a primeira a questionar, assim que ele alcançou o topo da escada, com Roberta em seu colo.

— Não se preocupem... minha irmãzinha está bem, eu nunca machucaria alguém da família. — Disse a outra garota de madeixas curtas e castanhas presente no quarto.

Roberta, que estava com o rosto apoiado no ombro de Nicolas, desvia levemente o olhar para aquela mulher que era idêntica a si.

— Quem... é você? — indagou suavemente.

— Alguém cuja existência é indiferente para você. — Respondeu grosseiramente a outra. — É isso mesmo que você ouviu, idiota. Somos irmãs com sortes diferentes. Quando éramos bebês, nós e nossos pais éramos caçados pelo Corvo, para nos tornarmos todos soldados de seu exército de merda. — Ela encarou Eros, que sustentou seu olhar. —Não, bebê, não foi só você quem sofreu nas mãos deles. 

— O que aconteceu? — Roberta a questionou com uma voz baixa. — Como pode dizer que é minha irmã e apenas eu não ter ido parar nas mãos daquele monstro?

— Porque me levaram antes de todos. Segundo as próprias pessoas que me levaram, o último esconderijo que tivemos possuía uma barreira semelhante a essa que coloquei nesta casa. — Explicou ela. — Mas ainda mais forte, nada, absolutamente nada adentrava na casa sem que nossos pais permitissem ou ao menos soubessem. Mas é claro que ela não impedia nada e ninguém de sair, especialmente uma criança de três anos bem curiosa.

Todos no quarto observavam as duas e ouviam a conversa em silêncio. Roberta a fitou com compreensão e pena.

— Você foi para fora, sem nossos pais notarem, e eles a levaram.

— E é claro que eles vierem atrás de mim. Claro que somente depois de deixar você em um orfanato seguro, não é? Aquele lugar que você adorava... — A suposta irmã de Roberta sorriu brevemente. — Enfim, eles foram pegos por minha culpa. Eu os vi, durante anos, lutarem para saírem das mãos do Corvo, eu os vi morrerem naquele inferno, para, no fim, quando finalmente consegui sair de lá e te encontrar, descobrir o quão bem você tem vivido todo esse tempo.

— Ela não tem culpa do que aconteceu com você. — Eros disse, seguramente.

— Tem razão... e eu nunca quis machucar ninguém, só queria sentir como é ser querida, como é ter amigos...

— Se não queria machucar ninguém, por que matou a Karol? — Questionou-a Sophia.

A irmã de Roberta a olhou com um leve desdém.

— Ela me viu golpeando a Roberta no dia em que vocês brincavam no pátio... eu tinha acabado de começar com meu plano e já sabia que aquilo afetaria tudo, não havia como voltar atrás.

— Por que nos deixou encontrar Eva e a verdadeira Roberta? - Miguel a encarou, curioso. - Por que começar isso e desistir assim, no meio do caminho?

— Porque é uma coisa que eu pude escolher... tudo isso foi porque eu quis. — Uma lágrima escorreu pelo rosto dela. — Quando se tem uma vida completamente privada e controlada, o mínimo de controle que se consegue é o mesmo que ter ouro em suas mãos. Ser a Roberta, não ser... ganhar ou perder, foi tudo escolha minha.

Roberta respirou fundo, e pediu a Nicolas que a colocasse no chão.

— Você não pode ficar impune pelo que fez... — observou ela, indo até a irmã, ficando frente a frente com aquela que mais parecia a visão de um espelho. — Mas eu prometo que, se for da sua vontade, pelo tempo em que estiver presa... posso visitá-la.

Sua única resposta foi um olhar gélido. Os demais em silêncio, compreendendo que aquela era uma situação extremamente complicada. Heloíse foi quem quebrou o silêncio.

— Vamos checar suas informações e você vai para julgamento e pagará devidamente pelos seus atos..., com relação a tudo que passou, sinto muito. — Suspirou a ruiva, indo até ela para segurá-la pelo antebraço a fim de levá-la para fora da casa, até os anjos que os aguardavam.

Antes de sair, a garota olha suavemente para trás, para sua irmã, que apenas a observava com uma expressão de tristeza e... remorso? Ela se sentira culpada ao ouvir sua história?

— Meu nome... — começou a prisioneira. — Meu nome é Hadria, caso queira saber.

Roberta não respondeu. Não parecia haver mais o que ser dito naquele momento. Foi o tempo de Hadria desaparecer do quarto e ela caiu de joelhos no chão, exausta.

Surpreendentemente, seu coração doía e ela nem mesmo entendia exatamente a razão. 

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Sei que ficou meio curtinho, não era para ter sido "resolvido" tão rápido, mas consegui fazer o que tinha planejado para a história, já estamos em reta final :)

Sinto muito pela demora (comprei um notebook novo e agora vou tentar postar mais rapidamente). Mas a falta de PC não foi único motivo pela falta de continuação, lembram que, no último capítulo, disse que as coisas não estavam fáceis? Bem, minha mãe estava internada e eu ficava grande parte da semana de acompanhante, e o restante do tempo no trabalho, foi assim por alguns meses até ela falecer, essa foi a pior fase da minha vida e pareceu a mais longa de todas (já faz 7 meses e ainda é muito difícil, como se tivesse sido ontem), peço desculpas por todo essa demora, mas eu realmente não estava nada bem nos últimos tempos e não pude cumprir antes a promessa de terminar o livro. Mas, aos poucos, estou voltando. Agradeço todo o carinho de vocês :)

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⏰ Última atualização: Jan 13, 2023 ⏰

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