Dois

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ELOÁ

Mais uma maldita festa em boate inventada pelo grupo imbecil de amigos do meu namorado que provavelmente é o maior imbecil entre eles. Então você me pergunta o porquê de eu ainda namorar esse cara, e juro que quando descobrir, eu conto. No começo ele era todo flores e chocolates, um príncipe incompreendido, que  jamais usaria uma mulher para nada além de a mala e respeitá-la. Dá para acreditar que eu caí nesse papinho? Pois eu caí e agora não sei como sair. Confesso que estou dando todas as chances possíveis para o meu namorado agir como tal, até me comporto de um jeito diferente para que ele volte a Me enxergar, mas não está rolando.

Agora estou eu pendurada em seu pescoço, com a cabeça latejando a cada batida da música eletrônica enquanto meu namorado e seus amigos conversam sobre qual carro corre mais, ou qual deles vai assumir a empresa do papai. Tentei beijar o infeliz mais vezes do que posso contar, e todas ele desviou ou simplesmente pediu para eu dar um tempo. Mas é claro que ele tem que passar a mão em mim inapropriadamente em público me marcando como dele, o próximo passo é por o pau inútil para fora e mijar na minha perna.

Fiz um esforço para esconder meu mau humor e desci a fim de pegar alguma bebida para fazer essa noite descer fácil, não contava em quase ser atropelada na base das escadas. Eram as amigas do Anderson, três mulheres belíssimas, que até eu não conseguia deixar de encarar. Demorei alguns segundos para conseguir me recompor e me afastar da garota com a qual trombei, e acabei voltando para a área vip sem a minha bebida.

Novamente junto do meu namorado, por força do hábito tentei beijá-lo e pasmem, não fui retribuída. Então só me recustei em seu peito e me contentei em ser apalpada como uma boneca inflável. A todo momento me sentia observada e inquieta, me Remexe nos braços do Edu até que ele me apertou com força e me olhou feio, como se eu fosse alguma espécie de criança malcriada. Mais uma vez me perguntei o que caralhos eu estava fazendo namorando com um cara daqueles.

Passando meus olhos pela área encontrei um par de olhos verdes me encarando. Era Luna, e aquela não era a primeira vez em que seus olhos pairavam sobre mim em algum lugar. Várias das vezes senti um julgamento partindo dela, mas outras ela me encarava com uma intensidade tão grande que me fazia arrepiar. Escondi meu rosto de forma a poder retribuir a análise. Luna era uma mulher bem alta, com óculos de grau e tinha os cabelos pretos todo jogado para o lado numa trança bem elaborada. A boca, agora ocupada com um cigarro de maconha, sorria relaxada enquanto dividia a atenção entre suas amigas e Eduardo e eu.

A mão do meu namorado desceu para apertar minha nádega, eu não reagi e observei Luna tencionar o queixo e lutar para manter o sorriso no rosto. Eu não achava que Eduardo podia passar daquele limite, Claro que não colocaria minhas mãos no fogo por ninguém, mas até aquele momento aquilo era o máximo que ele fazia em público. Apesar da minha falta de reação, o sentimento de estar sendo usada sempre vinha e notar que outra mulher via o ato como algo desagradável fazia com que esse sentimento aumentasse, então pela primeira vez eu simplesmente peguei a mão dele e tirei de cima de mim. Seu olhar confuso só me deixou mais irritada, resolvi que precisava de ar, caso contrário acabaria agredindo meu namorado em público.

Parei por alguns minutos no canto mais escuro da área VIP, fiquei observando o ir e vir das pessoas que estavam curtindo suas respectivas noites e me senti cansada. Sempre fui conhecida por ser tranquila e ajudar todo mundo, mas nesse momento parece que eu estou me afogando e que não tem um mísero colete salva-vidas para me poupar. Encostei minha cabeça contra a parede, a música trocou para o hit do momento e 90% das pessoas que estavam na área vip e desceram para dançar, e meu namorado esquecendo que não estava sozinho, foi um deles. Um riso completamente desgostoso escapou pela minha garganta, se minha mãe me visse agora com certeza eu estaria escutando muito sobre nunca deixar nenhum homem me fazer de idiota.

- Sabe, algumas pessoas podem achar que seu namorado tá te dando um perdido. - Pulei de susto quando uma voz soou do meu lado.

- Pretendia me matar de susto? - Mandei a retórica esfregando o meu peito como se aquilo fosse fazer meus batimentos se acalmarem. Luna sorriu de lado e Estendeu o seu beck na minha direção.

- Você parece que tá precisando relaxar.

- Só Deus sabe o quanto isso é verdade. - Aceitei o cigarro e puxei . Luna Manteve os olhos sobre mim durante todo o processo, puxar, segurar e soltar. Algo em seus olhos me dizia que ela estava extremamente satisfeita em me assistir, ter essa noção me fez repetir o processo mais duas vezes, Só para sentir que pelo menos Alguém estava me observando e gostava do que via.

- Mal posso acreditar que eu estava prestes a ir embora. - O comentário me fez Voltar meus olhos para sua expressão. Seus olhos verdes estavam avermelhados Graças a maconha, e por trás daquilo um certo júbilo que eu não entendia.

- E desistiu por quê?

- Eu te vi aqui, - Luna balançou os ombros como se aquilo não fosse nada, - senti que devia aproveitar a oportunidade e conversar com você.

- Nós estamos conversando agora, - claro que era uma resposta óbvia, considerando que minha cabeça estava começando a ficar leve, Até que foi muito coerente da minha parte conseguir respondê-la sem dar risada. Eu definitivamente precisava fumar mais vezes.

- Você não dança? - Sem que eu tivesse prestado atenção, Luna se aproximou parando a minha frente. Ela era tão mais alta que eu que fui obrigado a olhar para cima, e por um momento fiquei boba, abrindo e fechando a boca como um peixe fora d'água. Posso dizer com certeza que ela era realmente linda, de tirar o fôlego.

- Não sou muito de dançar sozinha, - dei de ombros de forma displicente. - Parece que meu namorado esqueceu que é namorado de alguém.

- E não te incomoda? - Ela perguntou tranquilamente, e como se fosse a coisa mais natural do mundo, estendeu a mão e prendeu alguns dos meus cabelos atrás da minha orelha. Eu literalmente perdi o fôlego. Era impressão minha ou ela tinha se aproximado ainda mais?

- Acho que deixei de me importar com que meu namorado faz há muito tempo. - Eu mesma não esperava ser tão sincera, mas o ar de satisfação pareceu tomar conta de Luna.

- Eu acredito muito em sinais do universo, - a mão que Luna tinha estendido para tocar meu cabelo agora estava apoiada por cima do meu ombro na parede, e se eu levasse em conta que tinha um namorado meu perdido por aí, eu deveria tê-la afastado, mas não fiz. Assisti como uma espectadora ansiosa aquela mulher puxar mais do beck e devagar soltar a fumaça no meu rosto. - Eu jamais deixaria uma mulher como você sozinha.

- Uma mulher como eu? - Se minha rouquidão era parâmetro para alguma coisa, era para me mostrar o quão desestabilizada aquela mulher estava me deixando.

- As coisas que eu poderia fazer com você... - Luna balançou a cabeça em negação, senti meu centro pulsar com a promessa implícita e nunca quis tanto estar em outro lugar, sozinha, com ela.

- Acho que você tem um compromisso comigo essa noite, - tirando coragem Deus sabe de onde, agarrei a gola da camisa de Luna e puxei sua boca em direção a minha. Talvez esse tenha sido o primeiro acerto da minha noite.




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