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LUNA

- Onde tá meu dichavador, merda? - Esvaziei minha mesa de cabeceira desesperadamente, e com raiva, muita raiva. Aquela puta da Kara deve ter mexido nas minhas coisas de novo. Parti para minha mesa de estudos e joguei meus livros para o lado de qualquer jeito, se eu não achar, vou fatiar aquele projeto de gibi ambulante e espalhar pelo campus. Meu trabalho de história egípcia saiu voando por cima da cama e eu praguejei mais um pouco. Como caralhos eu encararia uma festa com uma pá de playboy metido sem conseguir bolar meu 'finin'? - Eu vou matar aquela puta.

- Procurando por isso? - Na porta do meu quarto a desgraçada segurava meu dichavador displicentemente.

- Você, Kara Zor El, vai aparecer toda arrebentada um dia desses, - caminhei na direção dela pisando duro e peguei meu pertence. - E não vai ter namoradinha advogada que prove que eu fui a mandante.

- Tá precisando foder, né amiga? - O deboche só me deu mais raiva. - Quem sabe você não pega algém hoje e desmancha essa cara de bosta.

- As vezes eu me arrependo de ter te conhecido. - Resmunguei cagando para minha dignidade, porque ela estava certa no final das contas.

Dichavei minha erva com mais energia do que era necessário. Pensar que eu estava a semanas sem transar por estar afim de uma hétero comprometida me fazia questionar onde ou errei como queer, mas ela era tão linda e gentil... Larguei o dichavador e abri a seda. Considerando o tipo de cara com o qual ela estava envolvida, eu não devia gastar nenhum segundo pensando nela. mas aparentemente minha cabeça tinha outros planos. Mal humorada, bolei três cigarros e me dei por satisfeita, melhor que isso só se me apontassem uma arma para eu não precisar me dignar a ir em mais uma festa dos universitários riquinhos, mas os amigos nos fazem cometer loucuras.

- Pronta?

- Nem em mil anos.

Geralmente eu passava longe de reuniões como essa, até que conheci Kara e Ana, a princípio um casal lésbico lindo mas depois se tornam dois monstros manipuladores e ninguém consegue falar não para elas, mas a pior parte é que foi através delas que vi Eloá pela primeira vez, e por consequência essas duas conseguiram o motivo para me arrastar para toda a festa de merda que a turma da Ana dava.

A primeira vez que vi Eloá, foi numa social na casa de um tal de Anderson, um dos meninos de direito, ela estava sentada na perna do namorado como uma boneca de ventrículo e eu achei um desperdício. Em nenhum momento o namorado deu atenção para ela, ele parecia muito preocupado em entreter seu grupo de machos alfas e exibir a bela menina. Não preciso dizer que fiquei fula da vida, preciso? Primeiro por que aquele babaca a tratava como um objeto de exposição, segundo porque ela agia como tal. Ana não demorou para notar a militante dentro de mim querendo tirar o chaveirinho da mão do imbecil, e Graças aos Lordes eu não me meti. Mas isso me corrói desde então.

Hoje reservaram toda uma área vip de una balada cara na Augusta, om direito a open bar e música muito alta, o paraíso do mundo hétero top. Todas as vezes me pergunto como Ana consegue lidar con tanta gente dentro da caixinha. No caminho joguei conversa a fora com as meninas, meu humor estava azedo e meu psicológico despreparado para um convívio social mais intenso, só de lembrar de todos aqueles corpos suados resvalando em mim, estremeci. A fila da boate estava enorme e meu cérebro, claramente mais velho do que minha idade dizia, se perguntava se aquele alvoroço para entrar em um lugar tão cheio realmente valia a pena para eles. Que Jah me proteja.

- Desfaz essa cara de quem tá cheirando merda, Luna. - Ana pediu enquanto nos guiava pela entrada VIP. Revirei os olhos e mantive o rosto sério, apesar de ter parado de olhar as pessoas enquanto julgava cada um deles.

- Se anima gata, a Eloá vai estar aí hoje. - O cutucão na costela equivaleu a batida mais forte que meu coração otário deu quando eu vi o nome dela, mas convenhamos que ninguém precisa saber disso.

- E daí? - Dei de ombros escondendo as mãos no bolso da Jeans. - Não tenho o menor interesse no Chaveirinho do Dudu.

O pior dá risada que se seguiu é que ela não veio somente da Kara, que no geral era uma grande filha da puta, mas Ana Rio também, e riu com gosto. Mal pude lançar um olhar indignado na direção dela quando fui empurrada em direção às escadas da área VIP, e como em um clichê mexicano mal feito, acabei trombando de cara com a bendita Eloá. Por instinto segurei a garota pela cintura para que ela não rolasse escada baixo nos levando todas junto. O cheiro do perfume doce dela me atingiu como um tapa na cara e eu fiz força para não empurrar ela para longe de mim. Sai tentação.

- Opa. - Sem jeito, Eloá deu um passo para trás e olhou para mim com um sorriso de desculpas no rosto. - Te machuquei, Luna?

- N-não. - Gaguejei e quis morrer com uma risada que eu vi atrás de mim. - Eu quem te atropelou, sinto muito por isso.

- Tá tudo bem, - abanando a mão como se aquilo realmente não fosse nada, ela continuou: - vieram para a reunião do Edu?

Acenei . Eloá nos acompanhou até o topo das escadas e nos deu passagem. Não posso ser hipócrita e dizer que não olhei a garota. Na verdade eu encarei tanto as costas de Eloá que eu não sei como ela não caiu seca no chão. Eu jamais serei capaz de entender como a pele dela podia ser tão branca, a forma como que ela sabia exatamente como se vestir, o jeito que ela jogava o cabelo curto para a direita e mania que sempre estar enrolando um punhado de cabelo quando incomodada ou nervosa. Mas o que mais me chamava atenção no rosto dela são os olhinhos puxados e a boca carnuda. Claro que encarando a de trás, a última coisa que passava pela minha cabeça eram seus olhos, já que a bunda dela com certeza não vinha desse mundo.

- Mais um pouquinho e você vai estar babando o chão todo. - O comentário,- nem um pouco bem-vindo, - veio na minha orelha assim que encostamos em um dos sofás, mas o que eu podia fazer?

Assisti passivamente Eloá caminhando em direção a seu namorado, enlaçar as mãos em torno do pescoço dele e lhe plantar um selinho, que mal foi retribuído. Esse cara tinha o dom de ser um grande imbecil. Continuou conversando com os amigos, enquanto a menina estava claramente Tentando ganhar sua atenção. Bufei e me joguei ao lado das minhas amigas.

- Essa sua frustração ainda vai te matar.

- Realmente, Luna. - Ana concordou. - Tudo bem que o Eduardo claramente não é lá um bom namorado, mas ela gosta e de estar com ele, acho que já passou da hora de superar.

- Ela quem precisa superar. - Resmunguei sem resistir em olhar na direção de Eloá novamente. O vestido que ela usava deixava boa parte de suas coxas expostas, minha boca secou quando a mão de Eduardo desceu apertando sem pudor aquele monte de carne. - Eu claramente poderia ser um namorado melhor que ele, e eu sou mulher, o que torna tudo ainda melhor.

- Acende esse beck e passa, Luninha. - Kara pediu estendendo a mão, e eu fiz. aquela era a única forma de relaxamento que ainda funcionava comigo, já que a outra forma que eu queria, estava se jogando nos braços de um otário.




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