- Distopia -

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Relatos - Dia 0

"Bom... essa é a primeira vez que eu escrevo em um diário. Isso é algo que eu, sinceramente, acho bem tosco. Que sentido há em recapitular o seu dia e o escrever resumidamente em um pedaço de papel? Mas bem... não é para falar disso que eu vim aqui.
Há algumas semanas atrás começamos o teste prático do REV-186 em cobaias. Essa vacina pode se tornar a cura para inúmeras doenças devido aos seus "anticorpos especiais". Eu não vou me abranger muito nisso, pois esse não é o foco do meu relato de hoje.
Começando do início, bem, as primeiras quatro cobaias apresentaram uma alteração drástica em seu DNA, devido a incompatibilidade dos anticorpos com o sistema imunológico. Essa alteração ocasionou na autodestruição de seus corpos, sobrando apenas uma pequena pilha de carne.
Um tempo se passou enquanto tentávamos arrumar a estrutura falha dessa vacina e, hoje, nós finalmente testamos ela na quinta cobaia.
No início, parecia que havia tido efeito, os anticorpos estavam funcionando muito bem, e ele havia se adaptado ao sistema imunológico.
Ainda temos que fazer mais alguns testes para descobrir o nível de eficiência da vacina, e em pouco tempos, se tudo der certo, todos vão ter acesso a ela."

   "O fim dos tempos."
  
   Após longos dias de guerra incessante, a humanidade sucumbiu.
   Alguns dizem que foi fruto de uma guerra biológica iniciada pelos chineses, outros que foi obra de Deus, ou até mesmo que foram os alienígenas brincando com os humanos.
   Não se sabe ao certo o que iniciou isso. Os primeiros relatos começaram nos EUA e depois foi se espalhando para o resto do mundo, como uma praga.
   A infecção se transmite pela mordida. Na maioria dos casos, após ser mordido, você começa a ter fortes dores de cabeça, inchaços por todo o corpo, indisposição e convulsões constantes, e isso não para até que seu corpo não aguente mais, e você acabe morrendo, e em exatos 3 minutos e 24 segundos, você voltará a vida. Não você exatamente, mas sim o seu corpo.
   Mortos que vagam por ai, incapazes de sentirem dor, tristeza, ou compatia pelo próximo. A única coisa que eles querem é se alimentar de carne.

   Eu achava que a humanidade era um erro. Que todos deveriam apenas sumir. Eu odiava tudo e todos.
   Esse pensamento fora fruto de uma infância conturbada? Bem, possivelmente. Eu não sei em que ponto exatamente eu comecei a odiar tudo.

   "Eu sou um erro?"

   Eu passava os meus insignificantes dias vagando pela Internet, buscando fóruns, sites "estranhos", para que eu pudesse achar outras pessoas que também tinham esse pensamento.
   Um dos únicos amigos que ainda não tinha me abandonado me arrastou para um psicólogo tentando me "salvar", algo que eu achava ridículo, mas no fim foi o que mais me ajudou.
   Eu não era o erro, apenas era o fruto de um erro.
   Não tendo suporte emocional desde cedo, ninguém para que eu pudesse me abrir. Os meus pais nem ao menos me queriam.

   Eu não via mais a humanidade como um erro. O meu mundo finalmente havia sentido, até que de repente isso tudo começou.
   O mesmo mundo que tinha acabado de ganhar cor, havia sido destruído.

   Um homem vaga entre as vielas e becos banhados de sangue e morte que outrora pertenciam à uma bela e pacata cidade.

- "Céus... Essas ruas estão cada vez mais caóticas." — Murmurava o homem para si mesmo.

   Ele caminhava se espreitando atrás de carros para não atrair nenhuma atenção desnecessária, ao mesmo tempo que procurava por suprimentos ou coisas que possam ser úteis, contudo, sem muito sucesso.

  Apenas algumas semanas haviam passado desde o começo de tudo isso, mas parecia que quanto mais tempo se passava, pior a situação ficava.

- "Ficar mais tempo na cidade não parece ser a melhor opção... é sempre uma situação de vida ou morte sair nessas ruas..." — Novamente murmurava para si mesmo.

   Com extrema cautela o rapaz desviava dos mortos que caminhavam pelas ruas. Por sorte, a maioria deles não aparentavam possuir visão e nem mesmo olfato.

   O jovem caminhou por mais alguns minutos, até que avistou algo que chamou a sua atenção. Em uma rua próxima havia uma pequena loja de conveniências que parecia estar intacta.

- "Bom, não custa nada tentar." — Ele corre furtivamente em direção da loja, e em instantes já estava de frente ao seu objetivo.

   A porta de vidro da loja estava entreaberta. Era uma daquelas portas que detectavam movimento com o sensor e se abriam. Mas, sem energia elétrica era impossível manter o funcionamento correto da porta. Contudo, convenientemente havia uma lata segurando a porta, facilitando para o jovem adentrar o estabelecimento.

   Logo que ele terminou de entrar na loja e soltou as portas, em um brusco movimento elas se fecharam, jogando a lata para longe, o que fez barulho suficiente para alertar qualquer coisa que estivesse perto.

- "Merda." — O rapaz rapidamente saca de sua mochila um pé de cabra e assume uma postura de batalha.

   Um minuto se passou... Dois minutos se passaram e nada. Nenhum sinal de vida, ou melhor, de mortos vivos no local.

   O interior da loja era bem menor comparado ao de fora. Por sorte, a loja era especializada em utensílios de sobrevivência e acampamento.

   Ele se acalma e guarda o seu pé de cabra, e parte para a seção de alimentos enlatados que ainda tinha uma boa quantidade de latas de várias qualidades.

   O jovem pega o máximo possível de coisas, e se direciona ao caixa.

- "Bem... como todo bom filme ensina, há sempre uma arma embaixo da mesa do caixa." — O rapaz faz um suspense, criando toda uma cena em sua cabeça, e lentamente bota a sua mão direita embaixo do caixa... e encontra algo. Ele pega e puxa com todo cuidado possível, e, surpreendentemente, realmente era uma arma. Ele não entendia muito de armas, mas ele tinha certeza de que aquilo era um revólver.

- "Hum... Esse certamente é um revólver Taurus, provavelmente um .44..." — Ele obviamente não sabia de nada que estava falando.

- "Cara... é a primeira vez que eu seguro uma arma de verdade! Parece muito mais fácil na vida real." — O jovem começa a apontar para uma parede, e sem querer acaba esbarrando no gatilho e acionando a arma.

   Pow! Fez um estrago e tanto na parede.

- "Heh, basta apenas um pouco de precisão e isso aqui faz um estrago... É melhor eu sair logo daqui." — O rapaz se direciona a porta de entrada e toma um grande susto.

   Haviam dezenas de zumbis cercando toda a entrada da loja, e eles tinham um alvo bem definido...

   Eles com extrema agressividade começaram a bater na porta de vidro do estabelecimento, e não parecia que eles parariam por nada.

Continua...

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⏰ Last updated: Jan 06 ⏰

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Blood Emerges: DegenerationWhere stories live. Discover now