Twintig

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Marina Bay, Singapura, sábado, 19 de setembro de 2020

Rosie

Rosaleen acordou com o toque estridente do celular perdido em algum lugar da cama. Estava exausta, dormiu muito tarde e, pela dor de cabeça, tinha bebido muito mais do que o razoável na noite anterior. Lembrava-se de toda a sua saída com Mia e de como as duas curtiram até altas horas, quando resolveram voltar para o hotel e descansar antes do sábado de trabalho. Mia foi para o próprio quarto e Rosaleen fingiu ir para seu dormitório, mas acabou no de Lewis.
Tinha dormido tão pouco... não era possível que já era hora de acordar! Os treinos só seriam à noite, qual a necessidade de estar de pé cedo? Desligou o despertador sem se importar e virou-se para o lado, acomodando-se mais ao abraço de Lewis e ele a apertou, imerso em um sono tão tranquilo quanto o que Rosaleen estava prestes a voltar a ter.
Não muito depois, o telefone de Rosie voltou a tocar alto, fazendo com que a inglesa se soltasse dos braços de Lewis e se esticasse para atender a ligação sem vontade alguma, queria apenas dormir mais algumas horas antes de ter trabalho oficialmente.
— Que é? — atendeu, sem abrir os olhos e sem fazer ideia de quem estava ligando.
— Rosie? Onde você está?
— No quarto, dormindo. Quem é?
— Mia! Rosie, você deveria estar aqui há duas horas, temos muito trabalho a fazer!
— Shhh, não precisa gritar — Rosaleen resmungou. — Trabalho? Mas é só de noite.
— Não, Davies, temos uma coletiva em meia hora e duas reuniões antes do treino, esqueceu? É importante, Rosie, então saia dessa cama, beba dez aspirinas e venha logo!
— Quê?
— Rosie, acorda! — Mia ralhou do outro lado da linha. — Você tem vinte minutos pra estar aqui na garagem, ou vou descontar seu dia e a sua diária no hotel do seu salário!
A ligação foi encerrada abruptamente, mas antes que Rosaleen tivesse chance de virar para o lado e dormir de novo — seu corpo ainda não estava acostumado ao fuso de sete horas a mais e a bebedeira da noite anterior tinha piorado tudo — as palavras de Mia ecoaram em sua mente: coletiva. Vinte minutos. Reuniões. Diária. Desconto.
Rosaleen tinha esquecido! Levantou-se da cama correndo, vestiu a roupa com pressa, calçou os sapatos e saiu sem acordar Lewis, ainda precisava ir até o próprio quarto para vestir a camisa do uniforme e dar um jeito em seu rosto. Colocou óculos escuros depois de lavar bem o rosto para tirar o resto da maquiagem, trocou a camisa e correu pela rua até chegar ao local em que o tradicional (e muito bonito) circuito de rua de Singapura acontecia.
Correu como se sua vida dependesse daquilo, chegou à garagem da Rennen em exatos dezessete minutos, sentindo a cabeça doer ainda mais depois daquela corrida, o estômago vazio de comida, mas ainda cheio de álcool reclamou e Rosaleen respirou fundo antes de prender o cabelo num rabo de cavalo alto e encontrar Mia parada perto de Max e Sebastian.
— Vejo que a noite foi boa... — Max implicou e Rosie assentiu.
— Foi ótima, mas bebi demais e o fuso não ajudou muito. Desculpa pelo atraso, Mia, de verdade. Eu apaguei.
— Apagou mesmo, eu esmurrei a porta do seu quarto! Quase pedi para abrirem a porta, achei que você tinha morrido! — Mia falou séria e Rosie soltou uma risadinha, sentindo a cabeça doer.
— Preciso de muita água e doze aspirinas para conseguir viver hoje — reclamou. — Quem vai pra coletiva?
— Eu — Mia pontuou. — Eles vão mais tarde.
— Por que começar o dia tão cedo? Os treinos só acontecem à noite...
— Já passa das duas da tarde, Davies, não é tão cedo quanto você acha — Sebastian riu ao implicar com Rosaleen.
— São sete da manhã em Amsterdam, então é cedo sim — Rosie retrucou. — Max, você é o mais novo, então vou te considerar meu estagiário: compre um remédio para minha dor de cabeça e me consiga muita água.
— Vá se foder, Davies! — Max praguejou.
— Do lado do hotel tem uma farmácia, faça esse favor pra mim, Rennen Racing Junior, e eu vejo vocês dois mais tarde.
— Eu vou, Rosie — Sebastian falou, dando um sorrisinho pequeno e quase suspeito, mas Rosaleen não prestou muita atenção, apenas agradeceu e seguiu com Mia até a sala de coletivas.
Odiava a ideia de usar óculos escuros em ambientes fechados, mas era necessário, porque estava com uma imagem péssima e a última coisa que queria era atrair ainda mais atenção negativa para a escuderia!
O calor naquele momento era quase implacável, Rosaleen agradeceu pelo ar-condicionado da sala de coletiva e foi se colocar no fundo da sala, acompanhada dos assessores de Toto Wolff e Chris Horner, os outros dois entrevistados. Rosie normalmente não fazia as coletivas com Mia, mas naquele fim de semana seria ela a responsável por acompanhar a amiga e os pilotos da Rennen.
A cabeça doía e ela mal podia esperar pelo remédio e por um pouco de descanso, que, provavelmente, só viria quando ela voltasse para casa. A noite tinha sido longa e bastante divertida, mas cobrava um preço altíssimo naquele momento. Enviou uma mensagem para Lewis pedindo desculpas por ter saído do quarto com pressa e por não o ter acordado, guardou o celular no bolso e encostou-se em uma das paredes do fundo da sala enquanto observava jornalistas entrando no local e tomando seus lugares.
A coletiva não demorou a começar, muitas perguntas pertinentes, mas também perguntas cheias de machismo e deboche direcionadas para Mia, mas a mulher era firme e bastante profissional, ignorou as perguntas a respeito de seu relacionamento e foi objetiva ao responder sobre o trabalho.
Perguntaram sobre as expectativas para a corrida, afinal era um circuito de rua e muitos consideram esses circuitos muito perigosos para os pilotos, mencionaram Mônaco, sobre estratégias (e obviamente isso não foi respondido de forma verdadeira) e outras perguntas não tão pertinentes foram feitas.
A cabeça de Rosaleen estava doendo tanto quanto seu estômago vazio e que ainda estava lidando com o excesso de álcool da madrugada, Rosie só queria que aquela coletiva acabasse para que pudesse tomar seu remédio e respirar um pouco antes de pensar se queria comer e ainda organizar a cabeça para as reuniões com patrocinadores antes do treino classificatório de mais tarde. Talvez tivesse tempo de ir ao hotel para um banho gelado em algum momento daquele dia, pegou o celular no bolso para olhar as horas e encontrou algumas mensagens de Lewis:

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