07. Sept cent cinquante millilitres

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Narração Clarice:

Desenhar tinha perdido o apelo para mim depois do que eu mesma fiz. Passei a manhã sem conseguir concentrar na aula pensando nisso e agora que entrei no ateliê estou com vontade de socar a mim mesma. Não é só os quadros que eu pretendia vender que eu estraguei, os pincéis caros e as tintas também foram para o saco. Eu sei que a Val ficou um tempão pesquisando antes de comprar esses presentes e eu detonei tudo em questão de meses, sobrou só alguns tubos de tinta para contar história.

Que vergonha! Eu queria que ela não tivesse visto isso... e se ela achar que foi descaso com o presente que me deu? Já percebi que minha namorada fica chateada quando não gostam dos seus presentes. É a sua forma de dizer "eu te amo" ... só é um pouco exagerada, não posso negar.

- Salut, bébé!

Quase fui parar no teto de susto com a chegada repentina de Valquíria no ateliê. Eu não esperava que fosse aparecer aqui agora e acabei sendo vista justamente como não gostaria.

- Que carinha é essa, mon amour? - Val veio para perto de mim e me abraçou. - O que foi, hein? Por quê está chorando? Fala para maman.

Quando ela me viu só tinham uma ou duas lágrimas, mas depois do seu abraço e o seu jeitinho de falar comigo eu não me segurei por muito tempo e chorei como neném. E sem nem perceber eu já estava no meu cantinho.

- Estagô, maman! Num tem mais. Neném muito mal distruiu tudo! Distruiu o pesente da maman!

- São só objetos materiais, meu amor. A maman te dá outros depois, d'accord? Não chora por isso.

- Mais e os meus quadros? Num dá pa compra outo!

- É... isso não vai ter como consertar, mas você pode fazer quadros novos. Vem, não fica aqui dentro hoje. A maman picou bananinha e morango para o bebê, vem comer as frutinhas.

- Nananas?

- Sim, meu amor. Suas nananas.

Eu nem queria comer agorinha, mas fui convencida com as nananas. Eu amo de montão nananas!!

A maman foi fazer num sei o que enquanto eu comia minhas nananas e moranguinho picadinho assistindo patrulha canina. Eu até tentei comer com a colher colorida que ela me deu, mas as frutinhas sempre caiam no meio do caminho da tigela até a boca e eu acabava pegando com a mão mesmo. Pelo menos não caia no sofá... acho que a maman não ficaria feliz com marquinha de morango no sofá.

- Clarice, o Bruno te cha... - me virei para trás para olhar para a maman e ela ficou paralisada no lugar. - Por que está com essa mão na boca?

Demorei alguns segundinhos para perceber que ainda tava com os dedinhos dentro da boca depois de colocar as frutinhas. Rapidinho tratei de tirar e dei um sorrisão para maman ficar feliz, mas aaacho que não deu muito certo.

- Você estava travando uma batalha com as suas frutas? Tem morango no seu cabelo, Clarice.

- Tem? - Peguei o pedacinho que tava no meu cabelo e comi. - Agora num tem mais.

- Você não tem jeito mesmo, né? O Theo está te chamando para sair, você não vai? - A maman se sentou ao meu lado no sofá.

- Sair pra onde, maman?

- Tirar umas fotos para usar de inspiração para o projeto. Ele disse que você não está respondendo as mensagens. Se quiser ir vai precisar tomar um banho... e lavar esse cabelo.

- Você também vai?

- Vou sair para fazer compras com o Bruno, mas estarei por perto de onde o Theo falou e podemos sair os quatro para tomar sorvete depois. O que acha?

Still Stuck With UWhere stories live. Discover now