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A caixa me olha, esperando eu fazer o pagamento do que eu queria, ao me ver parada, voltou a mexer no celular.

E eu fico ali, camuflada, paralisada.
Os dois conversam atentamente, um e outro.
Uma garrafa de água na mesa, ao lado de uma Long Neck.

Então era isso...Ele mandou ela vir; sim, ele deve ter mandado ela vir aqui.

_Dá licença? - Olho pra trás, despertando. Um homem de meia idade quer chegar no caixa.

 A atendente me olha e eu saio.
Volto o caminho que fiz até aqui, em direção a saída.
Quando estou a um passo de sair, travo.

Volto.

Caminho até lá, até a mesa onde os dois estão.
Passo pelo caixa novamente e sigo.
Assim que me vê, a expressão no rosto dele muda.
Ela percebe que algo chamou sua atenção e se vira.

_Alice?! - Ela diz, surpresa, mas sorri.

_Oi...- Respondo, tentando sorrir, também.

Ela levanta e encosta o rosto no meu, para um beijo. Olho pra ele, enquanto ela completa a ação.
vejo que está assombrado com a minha presença ali.

_Prazer, né? Finalmente... - Ela fala, sem jeito. Está sorrindo muito, deve ter tido uma conversa agradável.

_O prazer é todo meu!

_Você quer ...É...- Ela aponta uma cadeira vazia

_Ah não, não... Já estou de saída...Só quis...- Olho pra ele, para os objetos na mesa e então pra ela - Dar um oi!
Ela sorri de novo. 

Claro que ela não queria ninguém além dele ali e não insiste, só estava sendo educada.

Eu também sou, e acima de tudo, tenho dignidade.

Ficamos nos olhando por um tempo, eu e ela. Ela sussurra um "obrigada" e eu saio.

A nota de R$ 50,00 amassada na minha mão, parece estar úmida, gelada.

Cada passo que dou, parece uma milha. A saída parece mais distante, não chega nunca.

Sigo o caminho pela rua, é como estivesse em meio a um furacão onde tudo roda velozmente e eu não me sinto bem.
O cara que me acompanhou não está mais no mesmo lugar.
Vejo um beco, bem a frente onde ele parou e imagino que ele pode ter seguido pra lá.
Na verdade, nem sei o que estou fazendo.

Ele me fez de palhaça, me fez de...

Tudo em mim chacoalha de nervoso.
Nunca imaginei passar por algo tão violento assim.

A cena dele me olhando lá na casa, o fato de ele estar tão preocupado consigo mesmo e a notícia que dei sobre a Larissa
Coloco a mão na testa, meu Deus, ele não podia o menos esperar eu ir embora?

Fecho os olhos, estou muito tonta. A cena que vem desde a casa dele, o perfume, as palavras, eles dois na mesa.
Preciso de um lugar pra sentar.
Já andei demais, não faço idéia de onde estou.

Encosto na parede de uma das casas desse beco estreito, Já está escurecendo; sinto algo melado molhar a lateral e vejo que estou encostada numa parede com infiltração e cheia de limo.
Preciso sair daqui!

Vejo uma porta aberta e uma luz sai de lá. Acho que tem gente sentada na porta.

Caminho até lá, preciso entender como sair daqui.
Vejo a nota de 50 na minha mão, eu mal tinha conseguido guarda-la, apenas a esmagava na minha palma fechada em punho.

_Oi, será que... - Antes de completar, vejo uma cadeira de ferro e sento nela.
As mulheres param o que estão fazendo e me olham, sem entender nada.

O NOVO DONO II - O LEGADOWhere stories live. Discover now