Prólogo

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Qual é a primeira jogada em um tabuleiro de Xadrez?
Quais eu devo jogar?

Movimento o peão preto duas casas a frente, vejo o homem a frente fazer o mesmo. Ele tinha pensamentos que poderia me vencer, mas nem em seus sonhos ele conseguiria. Minha vida toda joguei isso, aprendi as jogadas, decorei todas as regras, todos os modos de vencer, tudo que meu pai me ensinou, a mim e meus irmãos.

- Então, meu querido...- Carlos começou movendo outro peão. - Posso confiar em você não é?

- Com toda sua vida. - digo movendo o peão.

- Desde que seu pai morreu, você nunca quis conhecer Theresa, não sente vontade? Faltam alguns meses para o casamento. - ele emitiu um som indignado com a boca quando moveu sua peça.

- Ah, não... prefiro esperar o casamento.

- Ou você tem medo que ela não seja o que te espera?

- Que ela seja feia? - indaguei movendo meu bispo. - Sei que nunca faria isso, você me prometeu o melhor, e sei que cumprirá, caso contrário...- diminui minha voz vendo ele mover seu rei a uma casa a frente. Movi meu peão derrubando o seu peão branco, ele riu movendo seu rei novamente.

- Você quer acabar comigo não é? Você pode ser o Dom, mas eu sou mais experiente que você.

- Está despejando palavras em minha boca, Marizzi. - murmurei movendo o cavalo preto no tabuleiro, com uma jogada ele pegou meu peão o derrubando.

- São fatos, meu caro.

- O seu erro Marizzi, é sempre me subestimar...- movi meu bispo derrubando seu rei. - Xeque-mate.

- Você é muito bom nisso. - ele riu se encostando na poltrona de couro marrom. Observei ele se levantar indo até sua mesa de bebidas, logo colocando Whisky no copo para dois. Me levantei tocando meu anel no dedo mindinho, vendo ele me dar o copo de vidro tão brilhante. - Estava pensando se não poderíamos fazer outro casamento entre nossas famílias. - disse.

- Não com sua família, não mais. Já não basta eu estar comprometido com uma de suas filhas? - pressiono meu olhar sobre ele.

- Ah, não seria com um dos meus filhos, seria com um dos meus Capos. Para melhorar, Capo da Florença, ele está com um filho recém-nascido, e sem esposa para ajudá-lo, e as mulheres da região dele não são puras, se você me entende.

- E o que me garante que ele não vai maltratar uma das minhas irmãs? Meu sangue? - falei me virando para ele. Marizzi deveria saber que nunca daria uma das minhas irmãs para um sádico maluco como ele e outros são.

- Posso garantir que ele nunca o fará, nunca desrespeitaria sua autoridade, nem o seu sangue. - diz. Bebi um pouco do Whisky para não fazer desfeita e deixar no copo.

- Eu tenho que ir agora, Marizzi. Como sabe tenho muitas coisas para fazer, e uma delas é sobre a chegada de Theresa. - ele acenou.

- Eu entendo totalmente. - fechei o terno, o arrumando em meu corpo e o segurança abriu a porta, e Marizzi passou logo após a mim. Enquanto caminhei até a sala, pude ouvir murmuros assim que olhei para cima, em direção as escadas vi uma garota subindo, mas seus cabelos eram escuros, não loiros como os de Theresa.

- Dona, o que você faz aqui? - Marizzi perguntou a filha.

- Ah...- ela ficou nervosa. - Thess pediu para mim buscar chocolate quente. - Disse, então notei a xícara branca na sua mão fumegante.

- Tudo bem, suba. - ela acenou e subiu novamente.

Era evidente que Marizzi colocava medo nas suas filhas, o jeito como a coitada da Donatella tremeu tentando falar era visível. Por um tempo me sentia daquele modo, amaldiçoava todos os dias Deus por ter nascido nesse meio.

Ao lado de fora da mansão, vi dois dos meus seguranças perto do carro preto fosco com janelas blindadas.

- Até daqui alguns mêses. - diz e sorrio mínimo para o mesmo logo entrando no carro, o motorista deu partida entrando na estrada.

Marizzi se escondia do mundo, de todos na cidade de Veneza, pelo menos ele era precavido. Sua casa rodeada de um muro alto, tinha seguranças a todo momento, cães de caça, sempre preparado para qualquer tipo de ataque. Nem eu mesmo tinha coragem de atacá-lo em sua propriedade. Era uma fortaleza.

Saio do carro subindo os degrais entrando na mansão a frente. Os seguranças abriram a porta, assim que entrei pude ouvir os murmuros vindo da sala, entrei na mesma vendo todos meus irmãos ao redor do tabuleiro.

Minha mãe por sua vez não estava por perto, apenas o mordomo e o segurança de confiança. Me aproximando vi Allegra e Luigi jogando xadrez. Era quase um passa tempo dos dois, até que eu pensasse em algo para eles fazerem, ou pensasse no casamento dos dois.

Como filho herdeiro, Dom, eu era como pai deles, não havia momentos para brincadeiras entre irmãos, ou coisa do tipo.

- Então, como foi a visita? - Ouvi Homero, meu segurança perguntar, eu confiava nele cuidando dos meus irmãos, mais do que cuidando de mim.

- Foi normal. - Vi uma garota colocar os lanches a cima da mesa em seguida saindo, peguei um copo e coloquei duas pedras de gelo colocando um pouco de Bourbon no copo, e levei até os lábios.

- Ainda não viu Theresa? - neguei.

- Não, não me importa se ela é a mais bela de Veneza, ou de Ndrangheta, ou se ela é feia. Contrato é contrato.

- E se ela for feia? - o olhei prestando atenção.- Se for, e não aguentar nem ao menos olhar em seu rosto para trepar. Como vai seguir com a linhagem dos Bokosvik?

- Homero, eu tenho 5 irmãos, até que todos eles não estejam casados, em uma casa, bem, e estáveis, não irei ter filhos. Um filho pode significar muito, mas tenho outras responsabilidades. - terminei de beber meu Bourbon e olhei para meus irmãos ainda jogando, enquanto os outros estavam ao redor, jogando piadinhas, ou algo do tipo.

Tirei meu terno subindo as escadas em seguida entrando no meu quarto, tirei minha gravata a deixando sobre a cama, me sentei na cama tirando os sapatos, suspirei aliviado quando tirei essa roupa.

Sai da cama indo até a cômoda perto do closet, abri a mesma, abri a caixinha que tinha ali vendo as ervas picadas, destroçadas. Não era tão recomendável fumar, mas seguir as regras não era algo que eu gostava.

Peguei o isqueiro e acendi o mesmo vendo a pequena fumaça subir. Para uma boa vida sossegada, ou tentar levá-la sossegada precisamos de alguns momentos como esse, prazeres que a vida lhes dá.

Escutei a porta abrir e fui até a mesma vendo que era a empregada colocando as toalhas de banho dentro do banheiro, caminhei devagar até lá entrando no banheiro, em seguida fechando a porta, quando a mesma se virou se assustou com minha presença.

- Desculpe atrapalhar seu momento senhor, só estava arrumando as toalhas.

- Eu sei. - deixei o isqueiro sobre a pia e andei até a garota de cabelos pretos castanhos. Suspendi seu rosto a fazendo me olhar. - Pode me fazer outro favor, querida?

- Estou aqui para fazer qualquer coisa, Senhor. - murmurou me olhando, seus olhos escuros me olharam com um brilho. Não se apaixone, garota, você não faz ideia de como é perigoso.

E como eu disse, as vezes alguns momentos precisamos ter prazeres que a vida lhe dá ou tem a lhe oferecer.

Marcas Esmeralda. - Saga Marcas 1. Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin