13 - Tempo e Decisões

Start from the beginning
                                    

************************************

Eu não ia passar o dia inteiro na cama.

De jeito nenhum.

Os hematomas no meu corpo já começavam a mudar de cor e, pelo que me informava o meu reduzido conhecimento em medicina, isso era um bom sinal. Meu braço e meu pé estavam consideravelmente melhores e, de um modo geral, eu me sentia muito bem.
Mas talvez isso fosse só a dose concentrada de endorfinas da noite anterior ainda gritando pelo meu corpo.

Meu trabalho árduo durante a semana me garantiu que nessa segunda-feira o que eu precisava arrumar na casa de Lauren não era muita coisa. Eu escolhi algumas caixas incompreensíveis e comecei a organizá-las.

A caixa marcada “Presentes de Natal” era composta pela mais variada coleção de tralhas que Lauren deveria ter ganhado de presente de natal ao longo dos anos. Boa parte delas de colegas de trabalho da firma, eu suponho. Reconheci uma caneca aqui e uma caneta ali que eu também tinha ganhado em determinado momento e que pareciam ter sido compradas no mesmo lugar.

Pontos para os nossos colegas de trabalho pela praticidade…

Eu, particularmente, nunca me preocupei em dar presentes de fim de ano para ninguém. Nem para mim mesma. Eu geralmente passava a noite da véspera de natal na festa que um dos sócios majoritários organizava todos os anos e o dia de  natal na Sopa da Lauren.

De noite, eu ouvia Art Blakey e comia panetone. Era a isso que se resumia minhas comemorações natalinas. Uma corrente de ar frio passou me arrepiando e eu coloquei meus braços ao meu redor para me aquecer.

Os moleques da rua estavam andando de skate e acenaram para mim quando eu fui fechar a janela. Acenei de volta antes de voltar aos meus afazeres.

Misturei a caixa de “presentes de natal” com a das coisas que Lauren queria olhar e jogar fora. Achei que as duas combinavam bem juntas. Agora, só me restava tirá-las do meio do caminho.

Na garagem elas ficariam bem, até Lauren decidir verificá-las, provavelmente no dia
de São Nunca. A ideia foi boa e simples. A execução estava se mostrando um pouco mais complicada.

As caixas eram pesadas demais para o meu braço e pé. Precisei de alguns minutos e uns goles de suco para ter uma ideia.

- Hey! - chamei - Vocês querem ganhar um trocado?

Os moleques pararam e se aproximaram.

- Com o quê?

- Preciso levar umas caixas para a garagem mas estou com o braço machucado. E… - lembrei de mais uma coisa - A grama precisa ser cortada. O que acham?

Eu estava marchando meus pequenos duendes de casa para a garagem e de volta quando Alexia apareceu.

- Você sumiu. - ela tinha um ar crítico. Como sempre. - Mas como não ouvi notícia sua o resto do dia, achei que era uma coisa boa. - riu - Você e Lauren…?

- Alexia! Crianças! - reclamei.

- O que é isso, por sinal? Está explorando trabalho infantil, agora?

- Elas estão sendo pagas pelos seus serviços.

- É assim que trabalho infantil funciona, Mila. - torceu o nariz.

Nosso breve momento de amizade e confissões estava ficando cada vez mais
distante na minha memória e eu voltava a achá-la insuportável com uma velocidade impressionante.

- Se quiser ajuda, pode me chamar. - disse - Eu e Rick carregaríamos essas coisas pra você, se você ainda está doente.

- Não estou doente. Só machucada. E consigo me virar muito bem, obrigada. E… - percebi algo que não tinha notado antes - Vocês não tem o que fazer, não?

A Chantagem (Adaptação)                    [Em Correção Ortográfica]Where stories live. Discover now