19. Corpo sem alma

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  — Se eu não fosse tão desastrada, se tivesse sido mais cuidadosa... Jasper não teria me atacado — balançou a cabeça, se atormentando. — Como ele está?

  — Não muito bem. Sabe, um pouco de autodepreciação, um toque de raiva... Mas ele é o Jasper. Vai superar.

  — É minha culpa, não dele.

  — Oh, pelo amor de Deus, Isabella! — Mia soltou um suspiro de exasperação. — Meu irmão já suportou o suficiente de autopiedade. Com todo mundo dizendo que está tudo bem o tempo todo e que ele não deveria se responsabilizar, seria bom ter alguém honesto o bastante para dizer "ei, você vacilou, é hora de rever sua atitude"! — ela parou, percebendo que se deixou levar pelos pensamentos.

  — Parece que não somos só eu e Jasper nos culpando — Bella franziu o cenho, quase em um questionamento silencioso.

  — Não é da sua conta.

  Um silêncio denso envolveu o aposento, interrompido apenas pelo sussurro do vento que penetrava pela janela aberta. Bella se sentou no braço da poltrona, os olhos voltados para o chão, mesclando tristeza com uma determinação vacilante. Mia se questionou se sua presença ali realmente importava; se suas ações teriam algum impacto significativo enquanto o mundo continuava a girar em tumulto ao seu redor. Poderia ela realmente salvar sua família, ou estaria apenas correndo em círculos?

  — Estou vazia, como um corpo sem alma... — as palavras de Bella ecoaram suavemente, quase como um segredo compartilhado com o vazio. — Ele deixou um buraco dentro de mim e, sei... tenho certeza que nunca haverá nada para preenchê-lo.

  Um torvelinho de emoções percorreu a vampira, levando-a a contemplar seu próprio âmago, como se fosse a frágil humana que um dia fora, ainda carregando as marcas de uma ferida profunda, completamente perdida.

  — Acredite, sei que não sou a pessoa certa para ele. E também sei que é isso que você e Rosalie pensam — Bella riu tristemente. — Não faço ideia do que ele viu em mim. Foi como um sonho bom demais para ser real e eu permiti ser levada. Mas agora não consigo existir sem ele... sem vocês. — de repente, um soluço escapou, os olhos fixos no chão, e Mia observou uma lágrima cair em câmera lenta sobre o tapete cor de creme. — Eu distorci as coisas para vocês e isso não é justo. Mas agora não sei mais como respirar sem que ele esteja por perto.

  Mia engoliu em seco, sentindo uma sensação desconfortável revirar dentro dela. Confusão, raiva, e uma frustração sufocante. Ela se questionou quando o pesadelo chegaria ao fim, porque não importava quanto tempo passasse, ou o quanto ela tentasse se encaixar nessa história que não era dela, tudo sempre terminava da mesma maneira.

  — Sinto muito — murmurou, surpreendendo a humana. — Meu irmão não deveria tê-la deixado sozinha na floresta daquela forma.

  — Não se desculpe — negou Bella, enxugando as lágrimas da bochecha. — Você deve ter feito uma promessa idiota a ele, para me proteger. Eu entendo. Mas não precisa mais se preocupar. Pode se livrar de mim se quiser.

  Num instante, Mia foi transportada de volta àquele momento em que Edward lhe pedira um mês para se afastar da humana, implorando para que ela a protegesse. Era mais fácil pronunciar palavras assim quando a esperança ainda brilhava; era mais simples fazer promessas quando se acreditava que o futuro poderia ser alterado.

  — Uau, muito perspicaz, Sherlock Holmes! — Mia riu desacreditando. — Infelizmente, não é tão simples. Preciso limpar a bagunça dele.

  Sem pronunciar mais uma palavra, Mia se virou mais uma vez em direção à janela aberta, preparando-se para saltar.

❛CHOICES ── Crepúsculo ❥ [Seth C.]Where stories live. Discover now