19. Corpo sem alma

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Ela se lembrava dos momentos felizes, borrados por uma espécie de película da vida humana, cobrindo-lhe os olhos. Lembrava e sentia felicidade toda vez. Angelina e Aaron faziam falta; o tipo de saudade que deixava marcas, porque Mia sabia que viveria sem eles pelo resto de sua eternidade, e isso a machucava. De maneira estranha, era o mesmo tipo de saudade que ela sentia por Edward. Sabia que o veria novamente, se tudo ocorresse como planejado, mas não seria a mesma coisa. A relação deles estava fragilizada e o medo, quase palpável, se aninhava em Mia, temendo a fragilidade dos laços que um dia sustentaram a promessa da eternidade entre eles.

  A saudade dele a consumia. Do Edward de tempos passados.

  Mia desejaria poder afirmar que o Edward de outrora nunca abandonaria Bella da forma como o fizera. No entanto, aquilo não condizia com a realidade. Mas ao menos Edward antigo teria sido mais amável, menos desnecessariamente imprudente. Se ao menos ela pudesse incutir um pouco de sensatez em sua mente... Ela ansiava por consertar o que fora quebrado, uma tarefa tão complexa quanto tentar domar um vendaval com as mãos nuas, ciente de que cada passo em direção à redenção poderia ser um mergulho mais profundo em um abismo escuro, onde o fundo estava fora de alcance.

  Agora, ela se via obrigada a reparar os estragos, ou ao menos tentar suavizá-los da melhor maneira que pudesse. O dilema era que aquela era exatamente a espécie de insanidade que a levaria a se arrepender mais tarde.

  As cortinas azuis tremularam em um movimento suave, porém rápido. Foi uma sutileza tão delicada que escapou à percepção da humana. E mesmo que ela notasse, Bella provavelmente não se importaria de qualquer maneira. A forma absolutamente fantasmagórica com que se afundava na poltrona desgastada já indicava que seu estado continuava lastimável.

  Um aperto sufocante envolveu a garganta de Mia, embora ela não conseguisse discernir o motivo. Poderia ser nojo, compaixão, tristeza, ou talvez a sede... qualquer uma dessas emoções se encaixaria perfeitamente. O gesto instintivo de levar a mão à testa foi um reflexo desesperado, como se pudesse sentir dor ou algum tipo de tensão física ali. Ela se forçou a reprimir um suspiro de resignação, consciente de que não podia arriscar respirar naquele momento.

  — Pensei que minha visita tivesse te ressuscitado dos mortos ontem — murmurou, adotando um biquinho triste e completamente dissimulado, enquanto o tom sarcástico habitual se manifestava através de suas defesas emocionais.

  O corpo de Bella se sobressaltou na poltrona e ela olhou ao redor do quarto como alguém que busca por um fantasma.

  — Mia... — suspirou de alívio, controlando o ímpeto de se aproximar, contendo a ânsia de comprovar se ela era real ou apenas uma ilusão.

  Mia, ágil e ávida, puxou as cortinas da janela com um gesto fluido, deixando a luz cinzenta de Forks inundar o cômodo. Ela permaneceu ali, com um olhar atento e cauteloso, pronta para fugir novamente, se necessário.

  — Como estamos hoje? — perguntou casualmente, quase como se não detestasse cada segundo da interação.

  Uma lufada de ar passou pela garganta de Bella, uma risada triste e sufocada.

  — Não se preocupe com isso — sua resposta emergiu, carregada de resignação. — Eu entendo que você não gosta de mim, e eu não posso culpá-la. A culpa é minha por vocês terem deixado a cidade...

  — Honestamente, nem tudo é sobre você — riu Mia com desdém, embora também duvidasse disso. — Edward é... — ela hesitou ao mencionar o nome, observando Bella se encolher. — Meu irmão é um idiota que ficou preso em outro século. Não é sua culpa se ele não consegue lidar com os problemas de outra maneira.

❛CHOICES ── Crepúsculo ❥ [Seth C.]Where stories live. Discover now