Capítulo 19

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O carro se movimentava rumo a avenida principal desviando dos veículos que impediam nossa passagem. Tom passou a marcha e acelerou. Alguém buzinou quando Tom, de uma hora para outra, resolveu ultrapassar um Civic prata. Assim como Mark, Tom não ligava muito para os regulamentos de trânsito. Devia ser algo que aprendiam no treinamento especial da Organização. Como permanecer vivo e inteiro ao dirigir em alta velocidade, sem se importar com as leis de trânsito do país? Mark deve ter sido o melhor aluno da turma, seguido por Tom.

O sol já havia descido no horizonte e tudo que eu podia ver eram seus últimos raios distorcidos pelo fumê do carro. Olhei pelo retrovisor, e mais três carros iguais ao nosso seguiam em linha reta. Tom ultrapassava duas de nossas vans, e se elas não acelerassem, logo ficariam para trás.

Mark se virou para me olhar e meio segundo depois virou-se novamente para frente. Eu me lembrava toda hora de não deixar a inquietação se manifestar em meu corpo, tendo todo cuidado de manter a minha perna sossegada. Não era uma boa atriz, mas estava me esforçando ao máximo para parecer forte na frente dos demais. Vi meu reflexo pelo fumê do vidro ao meu lado. Eu parecia tranquila. Podia até mesmo me comparar a um soldado da organização, calmo e concentrado.

O carro estacionou em uma rua pouco movimenta, perto de algumas latas de lixo. Havia lixo espalhado por toda parte até o meio da rua. Saí do carro e pisei em uma lata de molho de tomate fedida que quase me fizera cair de bunda no chão, se não fosse por Ricky segurando meu braço.

— Cuidado, gatinha. Não queira se machucar antes da diversão iniciar. — Ricky piscou para mim. 

Somente mais um dos nossos veículos também estava ali, acerca de trinta metros do nosso. Os outros carros haviam se espalhado pelo bairro para não levantar comportamento suspeito. Mark havia pensado em tudo. Havíamos saído da organização por uma passagem subterrânea. Mark acreditava que, assim como havíamos colocado agentes para vigiarem Leon, Leon também fizera o mesmo. Mark também havia feito questão de manter segredo de todos sobre a operação. Somente os agentes que iriam conosco tinham conhecimento sobre isso, com exceção de Clair e o líder da Zona Oeste.

Nos deslocamos por algumas ruas, entramos em um prédio abandonado e tomamos posição. Pelo vão da janela pude ver o prédio cinzento de Leon a nossa frente. De onde estávamos era possível visualizar a maior parte da área externa. Dispersos em um padrão de vinte e cinco metros por pessoa, os guardas monitoravam a fachada não muito concentrados em seu trabalho. O que era um bônus para nós. 

Tirei uma teia de aranha do meu braço e limpei o uniforme que havia recebido da organização, uma blusa e uma calça preta que colava completamente no meu corpo, facilitando a movimentação bem mais do que roupas normais.

Mark conversava com Tom, Borges e Ricky perto da janela e mais alguns outros soldados se reuniam em outro canto do prédio. Vez ou outra Mark olhava para fora e voltava a falar novamente com o grupo. Aproximei-me da roda de conversa.

— Robert está no prédio ao lado e Luck no outro. — Ouvi Tom dizer.

— Estejam atentos ao meu sinal. — Borges falou para Ricky. — Vão tentar me interceptar assim que virem que os portões foram abertos.

Ricky fez que sim. Ele estava sério, diferindo do de costume.

— Tom, cadê os garotos? —  Mark perguntou e depois voltou novamente a olhar pela janela.

Tom olhou para o relógio em seu pulso com a sua serenidade típica.

— Já devem estar no prédio.

O som de passos se aproximando confirmou o que Tom havia dito. 

Sangue LealWhere stories live. Discover now