Capítulo 4

39 11 10
                                    

Acordei tarde. Já eram dez horas quando decidi parar de enrolar e me impedi de colocar o despertador no modo soneca novamente. Quando me levantei, mamãe já tinha saído para o escritório. Ela havia me deixado um aviso colado na geladeira me pedindo para fazer compras. Tive que preparar omeletes para o café da manhã, já que o leite havia acabado. Olhei pela janela enquanto mastigava um pedaço da minha omelete. O dia estava claro, o sol sorria para mim me lembrando de que, por mais que estivéssemos perto do início do inverno, ele ainda me fornecia o dia ensolarado que eu tanto gostava. Sorri de volta agradecida.

Fiquei sob a ducha de água fria ao tempo que decidia com qual roupa eu iria para a festa na casa do Jonas. Eu não tinha muitas opções, já que não saia muito para festas ou lugares barulhentos com vários adolescentes grudentos se esfregando uns nos outros. Eu tinha que admitir que estava um pouco receosa com à noite de hoje e isso se devia a desagradável lembrança da última festa que eu fui. Eu estava no canto da sala sentada no sofá da casa de Heitor enquanto Rebeca dançava com Tina e Wanda, duas líderes de torcida da nossa escola. Meu copo de refrigerante descansava na mesinha lateral e eu jogava Pac-man no celular para que o tempo passasse mais depressa. Alguém se aproximou e se sentou ao meu lado, mas eu não me dei o trabalho de olhar. Dois minutos depois, eu estava sozinha novamente quando Clarissa surgiu em meu campo de visão, pegou o meu copo de refrigerante da mesinha, jogou seu conteúdo na minha cara e saiu da sala sem me dizer nada. Até hoje eu não sei o que aconteceu. Eu tinha ficado praticamente todo o período da festa sentada jogando no celular. Mas Clarissa era assim, surtava de uma hora para a outra e descontava tudo em mim.

O Walmart estava mais lotado do que o de costume, mas hoje era sábado, o dia oficial de fazer compras escolhido pela maior parte das famílias americanas. Eu segurava algumas sacolas enquanto caminhava pelo estacionamento. Urso Polar brilhava sob o clarão do sol. Eu tinha acabado do tomar um banho, mas o suor já descia pela minha bochecha rosada. Cheguei ao carro e um folheto estava preso em meu para-brisa. "Compra-se e vende-se sucatas pelo melhor preço da cidade. Venha conferir" estava estampado em neon no papel. Ok, Urso Polar estava velho, mas não era pra tanto. Olhei para Urso Polar. Uns retoques aqui e ali e estaria novinho em folha.

No caminho de volta para casa, eu já estava na Avenida 4th quando o sinal ficou vermelho e eu freei. Olhei pela janela e a vitrine de uma loja de roupas me chamou atenção. Um vestido vermelho, na altura do joelho, com mangas bufantes vestia o manequim me fazendo desejá-lo. Não pensei duas vezes antes de ligar o pisca alerta e estacionar o carro no meio-fio. Uma atendente sorridente de cabelos curtos presos em um rabo de cavalo me atendeu. 

— Bem-vinda à Stone. Sou Emma, como posso ajudá-la? — Seu sorriso forçado não saiu de seu rosto em nenhum segundo, uma provável exigência de seu superior. Emma devia odiar o seu trabalho. Eu odiaria se estivesse em seu lugar.

— Gostaria de experimentá-lo. — Eu disse apontando para o vestido de mangas bufantes.

— Um minuto, por favor. — Emma me deixou sozinha e foi engolida pelas cortinas da parte posterior da loja. Pontualmente, um minuto depois seu sorriso amarelado me saudou novamente. — Só temos este tamanho.

Ela me indicou o provador e eu me troquei. O vestido não ficou como eu imaginara, isso porque eu era uns dez centímetros mais baixa e não tinha uma cintura tão fina quanto o manequim. Ainda assim, eu havia decidido leva-lo, ele havia se encaixado bem no meu corpo, mesmo eu não tendo o corpo perfeito do manequim e serviria perfeitamente para hoje à noite. Meu Deus! O que estava acontecendo comigo? Eu parecia Rebeca preocupada com o que vestir em uma festa comum de fim de semana. Essa não era eu. Eu não ia a festas, e quando ia, vestia uma calça jeans, uma regata e uma jaqueta velha. No que eu havia me transformado?  

Cheguei em casa e corri para a cozinha. Enquanto eu dirigia de volta para casa, uma súbita vontade de comer brownie havia surgido e eu tinha quase certeza que isso se devia ao outdoor da loja ao lado da Stone, o qual estampava um brownie perfeito sendo comido por uma criança quase tão sorridente quanto à atendente da Stone. Quase. 

Sangue LealDove le storie prendono vita. Scoprilo ora