Capítulo 17

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Eu olhava para os meus pés enquanto segurava uma risada ao escutar Clair resmungar sobre o gosto azedo do suco de laranja que tinham trago para ela. Visto as caras e bocas que fizera ao ingerir a bebida, devia ter só água e laranja no copo.

Um homem alto, de pele e cabelos claros, que julguei ser Ricky, se aproximou de mim.

— Você deve ser a famosa Agnes, a filha perdida de Vicenti. — Ele me disse. Ricky me analisou dos pés a cabeça.  — Você é mais nova do que eu imaginei.

— E você é o Ricky, certo? — Indaguei.

Ele concordou.

— Mark me informou sobre seu infortúnio. Sinto muito pelo que está passando. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-la. — Sua mão repousou em meu ombro, em um gesto compassivo.

— Eu agradeço, senhor. — Respondi, meio sem jeito.

— Oh, não. Me chame apenas de Ricky, por favor. Não sou mais tão jovem, mas nunca me casei. Sinto-me estranho com esse tratamento. — Ele sorriu e pés de galinha apareceram ao redor dos seus olhos.

Ricky devia ter seus cinquenta anos. A sua forma de andar e de se portar me lembrava aqueles cavaleiros britânicos da era medieval. Até mesmo sua aparência, com seus traços robustos, contribuía para a minha mente criar a sua imagem vestido em uma armadura prateada com uma cruz vermelha estampada em seu peitoral.

A reunião já devia ter começado há cinco minutos, mas estávamos esperando o líder da zona Oeste dar as caras. Ao que tudo indica, ele havia tido um imprevisto.

Inclinei-me para olhar para Mark, que estava do outro lado da sala. Ele conversava com os Harrisons sobre algo da operação "Manter a cabeça da Agnes no lugar".

— Gosto da ideia de que Mark tem alguém agora. — Ricky retomou a fala. — Ele merece isso.

Não sabia o que responder, então apenas sorri para ele. Era esquisito para mim imaginar que Mark e eu estávamos namorando agora, e falar isso em voz alta era mais estranho ainda. Eu ficava sem jeito só de me imaginar contando isso para Ricky.

— Sabe, — Ricky continuou. Seu olhar para Mark era afetuoso. — Eu o considero um filho. Mark ficou muito só quando seu pai morreu, mas eu o impedi de se isolar por completo. — Ricky olhou para o relógio em seu pulso por um momento, e continuou. — Ele nunca foi próximo de Clair, como você já deve ter percebido.

— Clair também não ajuda muito. — Falei. 

Ricky balançou a cabeça.

 — Ela é uma pessoa difícil, sem dúvidas, mas ama o filho. Clair pode ser dura às vezes, mas faz o que julga ser melhor para Mark.

Olhei para Clair. Ela bebia seu suco de laranja enquanto estudava concentrada alguns papéis em sua mesa. Por um momento, vi uma mulher frágil e solitária sentada ali naquela cadeira.

 — Eu me orgulho de quem Mark se tornou agora. —  Rick continuou. — Um homem maduro e responsável.

Nós dois analisávamos Mark, que se sentara em uma poltrona do outro lado da sala. Mark, como que usando seu sexto sentido, me flagrou olhando para ele e os cantos da sua boca se ergueram levemente. Nesse momento, um homem em um paletó azul-marinho, com cabelos alvos perfeitamente penteados para trás, entrou no escritório apressado.

— Desculpem o atraso. — Ele disse, colocando sua gravata vermelha no lugar. Uma veia latejava de sua testa e o estresse pairava em sua figura.

— O que houve, Bill? — Clair quis saber. Ela havia abandonado os papéis e agora seus dedos tamborilavam na sua mesa de madeira.

Sangue LealWhere stories live. Discover now