Capítulo 2

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Meu caro dente-de-leão, leva-me com você, para o paraíso.

~•~

Estou olhando para minhas unhas, na tentativa de desviar-me da ansiedade que tortura-me.
E ao levantar o olhar, vejo a face fria, porém concentrada do médico cientista.

Ele olha-me, e volta o olhar para o tablete.

— Bom, seus exames estão ótimos, nada que aponte para a explicação do seu fenômeno.
- Fala um tanto desapontado -

— Então o que faremos? - Suspiro, ajeitando-me na cadeira -

— Vou encaminhar você para uma amiga, ela é neuro e psicóloga, talvez ela consiga ver algo além do que é mostrado nos exames.

— Ok.

No dia seguinte, eu vou ao consultório da tal psicóloga. É um lugar enorme e arejado.
Eu começo a contar para ela toda a minha história:

— Interessante. - Ela diz. -

Ela falava interessante a cada cinco minutos de conversa e anotava tudo com muito precisão e atenção.
Ela passava-me segurança.

Me consultei com ela várias vezes, para conseguir falar com todos os detalhes o que vivi, em minha cabeça.

— Eu sei que você quer muito que tudo seja real, mas não é minha querida. - Ela diz, em seguida suspira -

— Mas eu senti e vivi. Na pele!
O amor, a decepção, a raiva, o perdão!
Eu viajei, conheci lugares nas quais nunca imaginei existirem, conheci pessoas novas!
Como isto pode não ser real?

— Tudo o que você falou, são apenas os bioestimuladores agindo em seu organismo.
- Fala descrente -

— Como assim? Bioestimuladores?
- Questiono confusa -

— É uma substância que estimula situações estressantes para causar a reação do acordar.

— Eu não estou entendendo...
- Digo mais confusa ainda -

— Todas as situações negativas que você passou na sua realidade alternativa, eram os bioestimuladores trabalhando, para despertar seu cérebro do coma auto induzido. - Suspira - Situações negativas normalmente geram mais estímulos de autodefesa no cérebro do que as positivas, e esperávamos que no seu caso, o resultado fosse seu despertar.

Eu gaguejo tentando entender e ela continua:

— E todas as situações positivas vividas, eram do seu cérebro, tentando manter você presa àquela falsa realidade, para proteger-te da dor do luto.
- Finaliza -

Meus pensamentos entram em conflito.
Apesar de ser uma ótima explicação,
não preenche minhas lacunas.
O amor que eu sinto por Timothée não dá para ser simplesmente criado, a considerar que eu nunca quis apaixonar-me por ele.
E mesmo eu lutando contra o sentimento,
com todas as minhas forças, eu não consegui fugir.
Apaixonei-me.

— Eu sinto muito Caitlin, mas não consigo acreditar que, o amor que eu sinto por Timothée é apenas fruto da minha imaginação. Ou reações químicas.
É muito forte o que sinto por ele.
Se fosse isso mesmo, já que estou acordada, os sentimentos deveriam ter sumido não é?

Ela suspira cansada

— Até mesmo agora, Rayssa, você recusa-se a viver o luto. - Ela fala cansada -

— Eu já, vivi o luto! - Grito - Droga!

Meus olhos teimosos, começam a expor lágrimas.

— Porque diz que eu não vivi?
Eu chorei, esbravejei, implorei para Deus trazê-los de volta,
odiei,
senti raiva,
senti nada,
e no fim eu aceitei!
- Respiro fundo -
Eu aceitei a merda que é, de não tê-los por perto todo o dia, de saber que nunca vou poder ver minha irmã se formar na faculdade que ela gosta, de não poder abraçar meu pai, nem de ouvir a voz dele fazendo palhaçadas para fazer-me rir!
Eu aceitei que não vou poder mais dançar sem rótulos e completamente desajeitada com a minha irmã incrível! Que nos momentos significativos da minha vida, eles não estarão presentes!
EU ACEITEI DROGA!

Olhos de Esmeralda Where stories live. Discover now