CAPÍTULO 7 - INSTALANDO PARA-RIOS NO SEU CASAMENTO

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No século 18, quando as construções de prédios altos se tornaram mais comuns, o risco dos edifícios serem atingidos por raios aumentou. Verificava-se que quanto mais alto o prédio, maior o risco. O problema era a causa de vários incêndios e mortes, e ninguém conseguia encontrar uma solução nem entender por que os raios eram atraídos por certos edifícios.

Religiosos desprovidos de conhecimento diziam que os raios eram "setas do juízo de Deus" ou provocados por demônios. Porém, curiosamente, os prédios mais propensos a serem atingidos por raios eram as igrejas, devido às suas altas torres. O tocador de sino geralmente era a primeira vítima... O problema era tão sério que as autoridades aconselhavam a população a buscar refúgio durante tempestades "em qualquer lugar menos dentro ou perto de uma igreja".

Ninguém entendia por que, segundo os religiosos, o Todo-Poderoso estaria alvejando seus próprios templos ou permitindo a Satanás fazê-lo — sem contar que em dia de chuva ninguém ia à igreja...A verdadeira razão, porém, não tinha nada a ver com Deus nem com o diabo. Benjamin Franklin descobriu, em 1752, que raios transmitiam eletricidade. 

Partindo desse conhecimento, Franklin inventou o para-raios — uma haste metálica que, se instalada no topo de um prédio e ligada ao solo por um fio condutor, absorvia a carga elétrica do raio e a descarregava na terra, livrando do perigo o edifício e seus ocupantes. Deus agradeceu, e o diabo riu dos religiosos, que ficaram com cara de tacho. Emoção é uma forma de energia, assim como a eletricidade. Quando os ânimos estão alterados entre o casal, o risco de "raios" aumenta. Se as emoções não forem controladas, resultarão em explosões de temperamentos que podem levar o casamento à destruição. 

E assim como certos edifícios eram mais propensos a serem atingidos por raios, certas pessoas têm um gênio mais alterado e são mais difíceis de lidar por se deixarem controlar pelas emoções. Porém, o mau gênio não é boa desculpa, tampouco culpar a Deus ou ao diabo por suas emoções negativas. Todos nós somos sujeitos a emoções, mas também somos dotados de inteligência para controlá-las. Não estamos advogando aqui a repressão das emoções. 

Ninguém é um robô. 

O casamento é um dos maiores testes do nosso temperamento. Não é razoável esperar que simplesmente venhamos a "engolir sapos" e mais sapos, sem sofrer algum tipo de diarreia depois... Cedo ou tarde, os saposterão de sair por algum lugar...Em vez de reprimir as emoções, você tem de encontrar outro recipiente para elas que não seja o seu parceiro. Benjamin Franklin descobriu que não era possível evitar os raios, mas era possível redirecioná-los para outro alvo onde não causariam danos. Quer dizer, temos que instalar um para-raios em nosso casamento para descarregar as nossas emoções em outra coisa. Mas como?

ANTES DO PARA-RAIOS

No início do nosso casamento, não tínhamos para-raios. Cristiane e eu soltávamos faíscas quando nossos ânimos ficavam alterados. Os raios dela se manifestavam como cobranças, insistência, ciúmes e palavras duras. Os meus eram basicamente uma frieza no falar e o famoso "tratamento do silêncio" que eu dava a ela. Quando as minhas emoções afloravam, não sabia como lidar com elas. Por minha natureza ser calma, eu ficava calado, acumulando sentimentos negativos dentro de mim.

Eu não explodia, mas implodia. Por não querer brigar com a Cristiane, me calava. Porém, por dentro, ficava pensando em tudo o que queria falar para ela, imaginando um diálogo, mas guardando tudo em mim mesmo. 

(Se eu colocasse para fora pelo menos 10% da conversa imaginária que eu fazia na minha cabeça, resolveria o problema muito mais rápido... Mais tarde, aconselhando outros casais, descobri que não estava maluco, pois não era o único que fazia isso!) 

Eu estava reprimindo as minhas emoções. 

Os raios estavam me incendiando por dentro, e a minha ira incendiava a Cristiane. O resultado era que eu ficava com raiva dela por dias, e tratava-a com o silêncio. Algumas vezes, de tanto acumular sentimentos negativos, acabei explodindo e me comportando como um cavalo psicótico preso em um estábulo em chamas. Dá para imaginar, né? Nada bonito. Não há como não sentir emoções. Somos apenas carne e osso. 

Casamento BlindadoWhere stories live. Discover now