9º Capitulo

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No dia seguinte Natasha levou as duas meninas para a escola com felicidade, estava muito feliz por ter dado uma trégua de confusões com Sarah. 
- Hoje seu pai chega. – A ruiva sorriu e olhou a filha que estava sentada no banco do carona. 
- Pois é. – olhando para fora. – Estou ansiosa e com saudades. – Coçou o olho.
- Ainda tem sono querida? – Natasha perguntou carinhosamente.
- Um pouco. – Sarah respondeu.
- Temos um trabalho para entregar hoje tia. – Angel disse do banco traseiro.
– Espero que as meninas tenham feito a parte dela, não é Sarah?
Sarah estava longe, pensava exatamente em sua avó materna, por que aquela mulher tinha feito o que fez com sua mãe? Ela não entendia como uma mãe, se é que a tal Melinda podia ser chamada de mãe, podia fazer algo assim com uma filha...
- Sarah! – Angel berrou no ouvido dela fazendo-a acordar.
- Oi maluca! – Se virou espantada.
- Eu estou dizendo que espero que as meninas tenham feito a parte delas no trabalho de literatura. 
- Ah sim, fizeram sim... – dando pouca importância e desviando o olhar para sua mãe. Que assim que notou seu olhar se virou e sorriu para ela.
- Algum problema filha? – Desviou o olhar para o transito.
Sarah apenas negou com a cabeça, Natasha sorria sempre, tinha tudo para ser uma pessoa amargurada, mas não. Não era.
Chegaram ao colégio e Natasha estacionou na calçada para que as duas saíssem.
- Até logo tia Nat. – Angel deu um beijinho em Nat e saltou do carro. – Vamos Sarah! – Disse já do lado de fora.
- Vai indo, bruxinha, já te alcanço... – Angel assentiu e saiu andando.
- Ela é uma gracinha. – Natasha sorriu olhando Angel. – Que bom que já estão se dando bem. – Sarah assentiu. – Eu adorei o dia de ontem. – Disse por fim. – Espero que possa acontecer mais vezes.
- Mamãe? – Ela encarou a mãe.
- Sim querida?
- Você sente saudades da minha avó? Digo da sua mãe?
Natasha respirou fundo e forçou um sorriso.
- Não filha. – Mordeu o lábio. Ela estava mentindo, Sarah pôde perceber.
- Você mente muito mal em. – Ela disse ainda encarando a expressão da mãe.
- Não pensa nisso ok? – Acariciou os cabelos dela. – Isso não é importante.
- Mas você sente, não é? – Insistia.
- Sinto. – Lançou um sorrisinho triste, não adiantava dizer ao contrário, apesar de tudo ainda sentia muita falta de Melinda. – Agora vai tá? Você não pode se atrasar senão Angel arranca seus cabelos. – Disse dando um abraço e um beijo na filha. – Tenha um bom dia...
- Tchau. – Não disse mais nada e saiu.
Natasha suspirou e ficou um momento pensando, depois deu partida, estava atrasada para a reunião.
***
Sarah entrou na sala e as amigas já estavam a esperando.
- Enfim chegou! – Mallu sorriu. – Angel disse que você ficou conversando com a sua mãe! O que ela disse? – Enrolando a ponta do cabelo na caneta.
- O que vocês têm de curiosas tem a bruxinha filha de fofoqueira hein? – Bufou e sentou-se ao seu lugar.
- Mas conta para a gente amiga... – Elas insistiam.
- Nada, eu só me despedi dela e pronto. – Rolou os olhos.
A professora entrou na sala e todas se calaram. Era literatura, a professora pediu para que entregassem os benditos trabalhos e liberou os alunos.
- Nossa eu nem acredito, primeiro horário vago! – Mel sorriu.
Sarah continuava no mundo da lua.
- Sarah! – Deu uma cutucada nela. – Fala logo o que você tem! – Disse já com um bico.
Sarah sentou-se em um banco, e logo as amigas sentaram também.
- Ai meninas... – suspirou. – É que quando a minha mãe ficou grávida de mim, minha avó expulsou ela de casa como um cachorro velho.... Isso me deixa muito bolada...
- Ela falou com você sobre isso? – Ana perguntou mexendo nos cabelos da amiga.
- Sim... E ela sente muita falta da mãe dela, dá para notar!
- Nossa isso é uma barra. – Camila disse. – E o que você acha disso?
- Sei lá... – ela coçou a nuca. – Eu me sinto de certa forma culpada sabe?
- Claro que não amiga. – Mallu sorriu. – Não tem nada a ver, sua avó é uma louca, você mesmo contou naquele dia que ela era uma fanática religiosa, não é isso? – Sarah assentiu. – E então? Fica tranquila.
- Mas eu queria saber... – pensativa. – Hei! – Levantou.
- O que? – Camila pôs a mão no peito.
- Minha mãe já estudou nessa escola... – andando de um lado para outro deixando as amigas tontas. – Eu tenho certeza que ainda tem a ficha dela aqui.
- Sarah, o que você está pensando hein? – Mel perguntou já com medo Sarah tinha cada ideia mirabolante que a deixava de cabelo em pé.
- Vou encontrar o endereço da minha avó e vou fazer uma visita a ela.
- PIROU Sarah?! – As amigas disseram em um uníssono.
- Não, eu não pirei! – Disse com um sorriso. – E vocês vão me ajudar! – Disse encarando as amigas com os olhinhos brilhando.
As amigas se entreolharam e suspiraram, elas sabiam que Sarah não ia desistir mesmo, então só o que restava era ajuda-la.
- Tudo bem, o que quer fazer?
- Simples. – Deu de ombros. – É só irmos até a sala da secretaria e procurar a ficha da minha mãe, copia o endereço e pronto.
- Você é louca Sarah, acha que a gente vai conseguir? – Mallu disse. – Ah não ser que queira ir para a diretoria mais uma vez.
- Não fala bobagens! – Sarah disse. – Vamos logo!
- O que? Você quer ir agora? – As amigas estavam perplexas.

Olhem só, se quiserem vir, ótimo, senão eu vou sozinha! – Disse se virando
para sair.
- Espera aí amiga! – Camila disse correndo até ela. – É claro que nós vamos com você! – Piscou.
- Ótimo, então vamos!
Elas assentiram e seguiram Sarah até a secretaria, onde a simpática secretaria estava digitando algo no computador.
- Celia! – Sarah parou na frente da secretaria.
- Sarah... – a mulher sorriu debochada, arrancando risos de todas. – O que fazem aqui meus anjinhos? Não deveriam estar em aula? – Voltando a digitar.
- É que estamos sem aula. – Mallu disse.
- Bem Celia a professora Marília chamou você lá na nossa sala, ela disse que tem algo a falar sobre o horário. – Sarah mentiu na cara dura.
- Sobre o horário? – As meninas assentiram com carinha de anjo. – Não entendo, toda semana eu mesmo entrego os bilhetes com os horários...
- Aí nós não sabemos, mas ela disse que é urgente. 
- Ok meninas. – A secretaria levantou. – Onde ela está?
- Acho que está no sétimo ano. – Sarah disse.
- Não Sarah, deve estar no sexto, não a viu dizendo que ia para lá? – Mel piscou para a amiga que entendeu, quanto mais Celia demorasse procurando a professora, melhor para elas. 
- Ah, nós não temos certeza, mas é por aí mesmo...
- Se vocês estiverem aprontando para cima de mim. – Apontou sorrateiramente. – Vou dar muitas palmadas em vocês, suas danadas. 
As meninas continuaram olhando-a com carinha de anjo enquanto ela saia reclamando.
- Ótimo, meninas! Mallu fica vigiando para caso alguém aparecer de surpresa ok?
- Claro. – Foi para o corredor.
- Muito bem, qual era o ano que minha mãe estudou aqui, pensa Sarah... – dizia para si mesma – Dois mil e onze... menos quatorze ou quinze?
- Mil novecentos e noventa e seis, Sarah!
Sarah assentiu e pesquisou todos os alunos de mil novecentos e noventa e seis e noventa e sete também.
- Natasha... – olhando. – Caramba, eu não estou lembrada do sobrenome exato dela.
- Romanoff!
- E como sabe?
- Estava em todo lugar no desfile dela, eu sou muito perceptiva. – Camila piscou.
Sarah apenas negou com a cabeça e pesquisou. Não demorou para encontrar.
- ACHEI! – Deu um pulo da cadeira. – Nossa, como minha mãe era estranha! – Olhando a foto três por quatro de Natasha.
- Realmente sua mãe mudou demais, ela não era feia, mas parecia a Carie a estranha. – Ana sorriu.
- Eu também já falei isso para ela. – Sarah disse pegando um papel e uma caneta que tinha por ali. – Aqui está o endereço... – disse começando a copiar o endereço e viu que ficava em um bairrozinho de quinta categoria.
Anda logo Sarah, a Celia está vindo aí. – Mallu disse apavorada do lado de
fora.
- Já to acabando! – Se apressou e logo terminou de copiar, fechou rapidamente os programas que abriu deixando apenas os que Celia estava usando.
Celia entrou no exato momento em que Sarah terminava de guardar o papel no bolso da calça jeans. A secretaria as encarava com insatisfação. As garotas sorriam falsamente para ela.
- Saiam já daqui! – Ela berrou. As garotas saíram correndo. – Meninas desocupadas! – Sentando novamente em sua cadeira giratória e voltando ao seu trabalho.
- Nós conseguimos meninas! – Disse dando pinotes e tirando o papel do bolso.
- E agora, o que vai fazer com isso? – Ana perguntou cruzando os braços.
- Quando acabar a aula eu vou lá. – Guardando o papel novamente.
- Tem certeza Sarah? 
Sarah ia responder quando Angel chegou afoita.
- Enfim achei vocês! – A menina disse puxando o ar. – A professora de matemática está na sala, “usando” o tempo de literatura...
- Ela é doida, não está nem no horário dela... – e foram resmungando para a sala de aula.
***
Enquanto isso com Natasha
Ela chegou à empresa sorridente, não demorou em que Wanda lhe trouxesse os relatórios do dia para que assinasse e não pode deixar de observar o semblante alegre da ruiva.
- Quanta alegria! – A morena brincou.
- Nem me fale... – Ela sorriu enquanto assinava os documentos. – Estou muito feliz por estar digamos que “de bem” com a minha filha... Eu não sei explicar a alegria que estou sentindo.
- É assim mesmo amiga, e não sabe como me deixa feliz por ver você assim, tão alto astral. – Wanda sentou-se. – Logo vocês vão ser superamigas. 
- É o que eu mais quero... – Natasha suspirou. – Eu sinto que ela ainda é meio assim... Não fala muito e não deixa transparecer que gosta de mim, mas a minha esperança é que ela confie em mim, que ela se abra comigo, entende?
- Perfeitamente. – Wanda piscou. – Ela só está confusa amiga, é muito normal, se ela aceitasse você de uma hora para outro aí sim seria estranho. Temos que ter paciência com ela.
- Eu terei... – disse a ruiva com os olhos brilhando. – Terei toda a paciência do mundo com ela.... Inclusive hoje ela me fez uma pergunta bastante estranha... – disse pensativa.
- Que pergunta?
- Me perguntou se eu sentia falta da minha mãe... – olhou pra Wanda que também estava confusa.
- Serio? – Natasha assentiu. – Que estranho. Tem alguma noção do por que ela perguntou?
- Não faço ideia. – Natasha murmurou. – Mas eu não quero que a minha filha se sinta culpada por nada do que aconteceu comigo.... Não quero que ela se preocupe com isso, ela é só uma menina.
Vai ver ela só perguntou por curiosidade amiga. – Wanda sorriu se levantando. – Não se preocupe os adolescentes são bipolares. – As duas riram. – Já terminou? – Apontando os relatórios.
- Sim. – Entregando para ela. – Tudo certinho. 
- Perfeito, agora eu vou indo nessa. – Indo em direção à porta. – Até mais ruiva... – saiu.
***
Algumas horas depois.
Sarah conversava com a avó no telefone.
- É sério vovó, eu preciso fazer um trabalho na casa da Ana, é Mega importante. – Rolou os olhos, isso é que dava ter uma avó super protetora.
- Sara, querida, e quem me garante que você não vai fugir outra vez? – A avó retrucou do outro lado da linha.
- Claro que não vovó, não seja paranoica. – Riu.
- Ah querida, eu estou com saudades de você, ontem passou o dia inteiro com sua mãe e esqueceu-se de mim.
- Ok vó, hoje prometo que durmo na sua cama.
- Promete? – Dona Sarah riu. – Olha lá moleca...
- Prometo vó, agora eu vou desligar. 
- Ok querida, se cuide, quando terminar o trabalho me ligue para eu ir buscar você.
- Tá vovó, beijos. – Desligou. – Minha nossa! Minha avó é muito louca. – Guardando o celular no bolso. – Então alguém vai me acompanhar? – Encarou as meninas.

Eu vou amiga. – Mallu disse.
- Eu queria muito ir, mas prometi que ia sair com minha mãe para comprar as coisas do aniversário do meu irmãozinho. – Mel explicou. – Mas boa sorte, amigas! – Deu um abraço nas duas.
- E eu e a Ana vamos fazer o trabalho, mas vamos fazer o trabalho mesmo! – Camila brincou quanto ao fato de Sarah ter mentido para a avó.
- Ok meninas, então me desejem sorte! – Piscou. – E não se esqueçam de por nosso nome no trabalho! – Advertiu.
- Pode deixar, não se preocupem.
Sarah foi caminhando com Mallu em direção ao endereço em que capturaram, era um pouco distante do colégio, mas não precisaram pegar condução, foram perguntando a algumas pessoas e logo chegaram.
- A rua é essa. – Ela disse apontando a placa. – Agora vamos procurar a casa.
– Olhando o papel. – Número 2500...
- Essa rua é meio suburbana hein Sarah? – Mallu disse forçando um sorriso.
– Olha essas casas, são muito tensas...
- Larga de reclamar Mallu, estamos aqui atrás da mãe da minha mãe, não para comprar uma casa. – Rolou os olhos. – Olha aquela casa ali é 2480! – Apontou. – Estamos bem perto!
- Sim, vamos mais para a frente! – Disse olhando todas as numerações. – Ali Sarah! – Apontou uma casa média, bem velhinha, pintada de branco. – É a 2500!
- Vamos lá... – Sarah respirou fundo enquanto caminhavam até a casinha. – Eu estou nervosa... – sorriu de canto.
- Fica tranquila amiga, o máximo que essa louca pode fazer é mandar a gente ir embora.
Tem razão, mas mesmo se ela mandar eu não vou sair daqui até que ela me explique por que foi tão cruel com a minha mãe. – Foi até a porta e tomada pela coragem, tocou a campainha.
Demorou um pouco, mas logo a porta é aberta por uma mulher. A mulher que Sarah deduziu ser sua avó, pois era muito parecida com sua mãe, apesar da aparência velha e descuidada. Usava umas roupas fechadas e conservadoras. Feias, para ser mais especifica. 
- Pois não. – A mulher cruzou os braços, olhando as meninas de cima abaixo.
– Olha, eu não quero comprar nada, então...
- Acha que eu tenho cara de vendedora? – Sarah disse erguendo a sobrancelha.
A mulher observou aquela menina audaciosa, parecia ter muito dinheiro pelas roupas que usava, além de muito bonita, a outra loira que estava calada como se olhasse um fantasma, também parecia ser rica.
- Então o que as duas riquinhas estão fazendo na minha porta?
- Você é a Melinda? – Sarah perguntou. 
- Sim, e quem são vocês? E o que querem aqui?
Sarah suspirou e encarou Mallu.
- Sarah Rogers. Sou sua neta. – Deu de ombros.
Melinda ficou pálida, arregalou os olhos para a menina a sua frente e não acreditou no que estava vendo.
- Minha neta? – Disse com a boca seca. Sarah assentiu. – Você... Filha da Natasha...?
Sim, sou filha dela. – Disse outra vez, aquela mulher além de louca sofria do mal de Alzheimer? – E essa é minha amiga, Mallu. – Apontou a loira que fez um gesto com as mãos enquanto abria um sorrisinho falso. – Nós podemos entrar?
Melinda estava tão chocada que nem conseguia falar nada, apenas deu espaço para que as duas meninas passassem. Ainda não acreditava que Natasha tinha conseguido ter aquela criança.
Sarah adentrou na residência olhando tudo ao seu redor. Era uma casa simples, mas muito organizada e limpinha, tinha imagens de santo para todos os lados, e várias fotos penduradas na parede, reconheceu uma foto de sua mãe de cara, naquelas fotos típicas de colégio, natasha sorria abertamente, e era uma gracinha. Sarah sentou-se e chamou Mallu para sentar também. Melinda continuava atônita.
- O gato comeu sua língua, vovó? – Sarah disse irônica.
- Onde Natasha está? – Foi a única coisa que Melinda disse. – Ela está viva? – Engoliu o seco.
- Minha mãe... – Sarah murmurou e sorriu de leve e Melinda levou a mão ao peito, com certeza Natasha tinha morrido e aquilo só serviria para deixa-la ainda pior em sua amargura. – Você fez muito mal a ela. – A menina acusou sem pena. – Por que você jogou minha mãe na rua?
- Eu.... Eu... – suspirou. Nem ela mesma sabia o real motivo, mas estava furiosa demais, e quando se deu conta já tinha feito.
- Você foi cruel. – Sarah falava sem dó nem piedade.
- Você não entende nada da vida menina! – Melinda gritou. – Não sabe como é difícil criar uma filha sozinha, Natasha foi uma completa surpresa, não vou dizer que a queria, por que não a queria, nunca a quis e se ela nasceu não foi por minha vontade. – Sarah arregalou os olhos. Aquela mulher era mesmo louca. – Eu pensei em abortá-la... – Melinda disse friamente, quanto enchia um copo de agua e

pegava uma capsula. – Mas eu já tinha pecado uma vez em concebê-la, e não iria pecar outra vez lhe tirando a vida. – Tomou o remédio e fez o sinal da cruz. – E eu sempre a eduquei nos caminhos do catolicismo, sempre deixei bem claro o que ela podia e não podia fazer, e ela me aparece aqui GRAVIDA! 
- Mas não precisava trata-la com um cachorro velho, ela precisava de carinho! Precisava de amor e a senhora não a apoiou!
Melinda engoliu o seco. Aquela menina era esperta demais para a sua idade.
- Eu sei que não. – Melinda murmurou. – Mas já está feito, o que quer que eu faça?
- A senhora não sente nada por ela? Nem culpa, nem arrependimento?
Nada? – Sarah refletiu com pena.
- Rezei muito para que Deus tivesse piedade de sua alma e a perdoasse por tal pecado, Natasha nunca foi à filha que eu esperava que fosse, era muito desobediente, às vezes parecia que o capeta tomava conta de seu corpo pelo modo que ela ficava tão rebelde e mal-educada. Mas ela era a minha filha, não é? Foi uma forma que eu encontrei para lhe dar uma lição.
- Minha mãe sofreu muito! – Sarah disse. – Por sua culpa ela me abandonou!
– Acusou chorosa.
Agora o queixo de Melinda estava no chão, como assim Natasha tinha abandonado a filha?
- Ela lhe abandonou? – A mulher ergueu a sobrancelha.
- Sim, nos conhecemos a pouco mais de quatro meses e fiquei sabendo há algumas semanas atrás.... Fiquei muito mal quando ela me contou a história...
Melinda não sabia o que dizer, Natasha estava mesmo viva. Nunca passou por sua cabeça que a filha poderia abandonar a criança que carregara. Sentiu um gosto amargo na boca.
Onde sua mãe está? – Disse se virando para que a menina não visse certa emoção em seus olhos.
***
Enquanto isso, Natasha estava no aeroporto esperando Steve, ele chegaria dentro de pouco. Não demorou a avistá-lo vindo sorrindo em sua direção.
- Meu amor! – Ela falou alegre ao abraça-lo. – Estava morrendo de saudades! – Dando-lhe um beijo molhado e preciso.
- Minha princesa! – Ele disse ao afastar os lábios. – Também senti saudades!
– Sorriu enquanto caminhavam abraçados. – Tudo bem?
- Tudo sim... E você? Como foi lá?
- Foi muito bem, mas Buck ainda ficou resolvendo os últimos detalhes do contrato. – Deu um beijo na testa dela. – E a nossa filha?
- Está muito bem! – Natasha abriu um sorriso imenso ao lembrar-se da filha. – Ela não está mais me tratando tão mal como antes, é claro que ela ainda é meia fechada, mas estamos nos dando muito bem.
- Fico muito feliz! E não vai demorar em que ela perceba a pessoa maravilhosa que você é... É questão de ter paciência. – Apertando o nariz dela.
- Wanda falou a mesma coisa. – Sorriu.
- E ela não quis vir com você? – Ele a encarou.
- Eu não tenho o celular dela... – sorriu. – Mas liguei para sua mãe para perguntar se ela viria, mas ela disse que Sarah estava fazendo um trabalho na casa da amiga.
- Sarah e essas amigas... – ele sorriu balançando a cabeça negativamente. – Me deixa ver onde ela está. – Pegando seu celular e discando os números da filha.
***
Na casa de Melinda.
Sarah ainda a encarava, a mulher estava virada de costas.
- Responda menina.... Onde está sua mãe? – Melinda se virou e Sarah pôde ver os olhos mareados da avó.
- Er... – ia responder quando sentiu seu celular tocando, abriu a bolsa e catou o celular. – É meu pai... – sorriu e Melinda ficou olhando. – Papai! – A menina sorriu.
- Minha princesa! – Ele disse. – Nem veio buscar o papai no aeroporto, não é? – Ele disse com um sorriso.
- Desculpa papai... – ela deu um sorriso de canto. – Estou com muitas saudades, mas precisei fazer uma coisa. – Olhando Melinda de rabo de olho. – Escuta pai.... Minha mãe está aí?
Steve olhou Natasha de relance.
- Sim, quer falar com ela?
- Não, é claro que não. – Sarah mordeu o lábio inferior e respirou fundo, não sabia se o que faria seria certo, mas ela estava sentindo no seu coração de fazer e faria. – Pai vem me buscar aqui onde eu estou? – Pediu.
Melinda arregalou os olhos.
- Claro que sim filha. – Ele disse prontamente e ela encarou a avó que estava sentada na cadeira, parecia estar rezando. – Só me diga onde está.
Sarah pegou o papel que estava em seu bolso e disse ao seu pai que estranhou o bairro.
Filha o que está fazendo aí? – Ele disse desconfiado observando Natasha que dirigia. – Não temos nenhum conhecido nesse bairro e...
- Ok papai, isso não importa agora. – Suspirou olhando as unhas. – Mas traz a mamãe.
- Ok, estamos chegando. Beijos e se comporte! – Desligou.
- Por que fez isso? – Melinda perguntou.
- Apesar de a senhora ser uma PESSIMA mãe. – Enfatizou. – Ela sente muito a sua falta, e sofre com isso. – Melinda soltou um murmúrio. – E eu acho que tenham muito que conversar.... Sabe? Eu nunca achei que pudesse existir pior mãe que a minha, por ter sido abandonada e ter crescido longe dela, mas eu com muito custo entendi que ela fez o que fez por que me amava e achou que faria bem pra mim. Mas a senhora foi cruel, abandonou nós duas, sim nós duas, porque eu estava na barriga dela, nos abandonou por maldade. E com isso a senhora estragou não só a vida da minha mãe, mas a minha também, por que tudo seria diferente se você tivesse dado apoio a ela. Então eu acho que o mínimo que a senhora pode fazer é ouvi-la, não acha?
Melinda começou a chorar com as mãos no rosto, desde que Natasha tinha ido embora sentia uma coisa ruim em seu ser, mas ela não admitia nem a si mesma que era remorso. Natasha jamais voltou para casa e achou que ela nunca precisou da mãe. Inclusive pensava até que estava morta. A verdade é que desde o dia em que expulsou sua filha, sua vida se converteu completamente, para pior. Sentia remorso, solidão, amargura e vontade de morrer. Apesar de Natasha ter sido um pecado na sua vida, era tudo o que tinha no mundo, eram apenas as duas, não tinham mais ninguém a não ser uma a outra. Quando a escorraçou para fora de sua casa não sentia nenhum rancor, com o passar do tempo às coisas mudaram. Agora estava ali, defronte a sua neta, que tinha todo o gênio da mãe, gênio que sempre detestou em Natasha. 
***
Com Natasha e Steve
Natasha brava por que Steve tinha lhe tirado a direção do carro.
- Amor, tira esse bico... – ele riu. – Você é péssima com endereços. – Ele piscou parando em um sinal. – Vem cá vem... – a beijando e lhe dando uma mordidinha na boca fazendo-a sorrir.
- Mas eu ainda não te perdoei. – Dando um tapa de leve no braço dele.
Ele riu e arrancou com o carro assim que o sinal abriu, não demorou a entrarem na rua em que Sarah tinha dito. Natasha engoliu o seco, o que Sarah estava fazendo naquela rua? Era ali onde...
- Está tudo bem meu amor? – Ele a encarou carinhoso.
- Rogers... – vendo que Steve tinha parado na frente da casa de sua mãe. Arregalou os olhos quase os fazendo saltar do globo ocular. – Steve o que estamos fazendo aqui? – Sentindo os olhos marearem.
Ele se assustou ao vê-la chorar.
- Calma meu amor, eu só vou buscar a Sarah e...
- Steve essa é a casa da minha mãe! – Apontou a casinha branca.
- Como assim a casa da sua mãe? – Ele a encarou atônito.
- É... – Ela desatou a chorar. – O que minha filha está fazendo aí?
- Eu não sei meu amor. Você quer ir comigo lá?
- Não, eu não quero. – Se encolheu. – Vai lá você...
- Ok, eu não demoro... – ele deu um beijo na cabeça dela. – Não fica assim ok? – Ela assentiu.
Ele foi até lá e Natasha ficou refletindo, será que sua mãe estava ali? Será que Sarah a conheceu? Saiu de seus pensamentos ao ouvir alguém bater no vidro, e

se virou para olhar e viu que era Sarah. Abriu o vidro e lançou um sorrisinho triste a ela.
- O que veio fazer aqui meu amor? – Natasha tinha lagrimas contidas nos olhos.
- Por que eu sei que sente falta dela apesar de tudo. – Ela disse tristemente ao ver o rosto triste de Natasha. – E eu sei que ela também sente sua falta...
- Era por isso que estava me perguntando sobre isso pela manhã, não é? – Sarah assentiu. – É muito determinada. – Acariciou o rosto dela. – Fico orgulhosa de você.
- Por favor, fala com ela... – a menina pediu. – Vocês precisam conversar, não é? Assim como eu deixei você conversar comigo naquele dia, conversa com ela.
Natasha sorriu de leve e assentiu por fim, não sabia o que aconteceria quando visse sua mãe, estava nervosa, aflita, com medo. Mas ela iria enfrenta-la, apenas por que sua filha estava pedindo. Saiu do carro e a filha apertou sua mão enquanto iam em direção da casa. Ao entrar viu Melinda com a cabeça baixa e um terço nas mãos. Sentiu o coração bater tão freneticamente e as lagrimas já não tinham mais freio. Melinda a olhou e se levantou de imediato, não acreditando que aquela bela mulher era sua filha, magrelinha e tão malvestida. Agora sua filha era uma mulher de verdade, tinha corpo, era mãe, e pelo jeito também tinha um homem ao seu lado, coisa que ela nunca teve e nem terá. 
- Por favor. – Natasha enxugou os olhos se virando para Steve. – Leve as meninas, eu preciso conversar com minha mãe sozinha.
- Claro. – Ele disse soltando um último olhar a mulher que era denominada mãe de sua namorada. – Vamos meninas, com licença.
Eles saíram e Natasha se virou para mãe.
- Não vai me dar um abraço? – Melinda disse se aproximando da filha.
Natasha apenas se aproximou da mãe e lhe deu um abraço forte, só Deus sabia como sentiu falta daquela mulher, nos momentos mais importantes de sua vida, não tinha ninguém por ela. As duas choravam muito.
- Senti sua falta mãe... – Natasha murmurou ainda abraçada a ela.
- Eu também senti a sua falta Natasha. – A mulher disse se afastando dela. – Está muito bem... – observando as roupas e a postura da filha. 
Natasha olhou ao redor e viu que nada tinha mudado ali, até o cheiro de colônia ainda estava impregnado, algumas imagens novas na parede e nos moveis. - Nada mudou aqui. – Natasha disse.
- Sua filha disse que você a abandonou? – Melinda foi direta. – É verdade? – Natasha assentiu. – Então não é muito diferente de mim.
- Fiz isso pensando no bem dela.... Acha que foi fácil para mim? Eu era uma criança, sozinha no mundo, não sabia nem que direção tomar.
- Se não tivesse pecado não estaria em tal situação. – A mulher disse rispidamente.
- E daí se eu pequei? – Natasha berrou. – Quem pecou não fui eu? – Passou a mão no rosto. – Quem iria para o inferno não seria eu? Não precisava você me botar na rua mãe.... Tem noção do medo que eu senti? Do frio e da fome que eu passei? Sem saber sequer que direção tomar...
Melinda engoliu o seco ao ver Natasha chorar.
- Foi muito cruel de sua parte fazer isso comigo. – Enxugou as lagrimas. – Mas ninguém pode mudar as coisas né? – Deu um risinho. – Se eu pudesse voltar no tempo jamais teria abandonado minha filha, jamais me envolveria com drogas... – Melinda arregalou os olhos. Drogas? – Mas como não posso, eu tento melhorar mesmo com essa culpa me corroendo.
- Espera aí. – Melinda a interrompeu. – Você disse drogas? 
- Pois é mãe.... Passei quase quatro anos em uma clínica de dependentes químicos.
- Valha-me Deus! – Fez o sinal da cruz.
- Sofri muito mãe.... Você não tem noção de tudo o que eu passei. – Sentindo as lagrimas rolando outra vez.
- Eu tenho todo o tempo do mundo para escutar.
Natasha abraçou o próprio corpo e sentou-se junto com Melinda no sofá de dois lugares. Respirou fundo e contou a mãe tudo o que passou, com os problemas na gravidez, com o parto complicado, com as drogas, com o abandono forçado da filha, sua recuperação, e sua virada. Melinda tinha várias lagrimas nos olhos, era difícil imaginar sua filha passando por tanta coisa, por tanto sofrimento e não se comover com isso. Tinha que admitir que exagerou ao manda-la embora, mas estava com muita raiva por Natasha ter engravidado que não mediu seus atos e o medo do castigo divino foi maior.
- Mas o que importa é que agora está tudo bem, eu sou uma profissional de sucesso, sempre gostei de moda.
- Claro, sempre gostou de desenhar roupas. – Melinda levantou-se. – Jamais acreditei que pudesse tornar uma coisa tão boba em profissão.
- E quando você acreditou em mim mãe? – Também levantou encarando a mãe que ofegava. – Eu sempre fui motivo de vergonha para você.... Nem meu boletim com notas espetaculares te deixava orgulhosa.
- Não julgue a mim desta forma Natasha, você não é Deus para julgar.
- E você também não é Deus, mas me julgou sem dó nem piedade... E pelo jeito não está arrependida de absolutamente nada do que me fez, não é? – Encarou a mãe, com a esperança que ela dissesse que sim, que se arrependia amargamente. Mas não foi bem assim, Melinda ficou em silencio engolindo o choro. – Ok.... Foi bom ver você mãe. – Disse forçando um sorriso. – Apesar de tudo, eu te amo. Até qualquer dia...
Antes de Natasha sair Melinda a puxou novamente para outro abraço, chorando tudo o que estava entalado em sua garganta, também sentia falta de Natasha, mas ela era muito orgulhosa para admitir.
- Eu também amo você querida. Es minha filha, e tenho sim orgulho de você.
Natasha sentiu uma emoção descomunal ao ouvir a frase. Ficou um tempo sentindo o cheiro de Melinda e depois se afastaram.
- Agora vá. Você tem uma família para tomar de conta, qualquer coisa já sabe onde eu estou. – Disse enxugando as lagrimas, sabendo que Natasha raramente voltaria.
Natasha lhe deu uma última olhada, suspirou e saiu em seguida. Deixando a mãe aos prantos outra vez.
 

Nossa Filha MimadaWhere stories live. Discover now