7º Capitulo

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Segunda feira, Sarah chegou à escola com olheiras. 
Não estava se sentindo exatamente mal, já tinha entendido que Natasha era realmente sua mãe, o que poderia fazer? Nada. Não gostava de Natasha e sabia que para a ruiva conquista-la teria que suar, afinal ela não iria esquecer as coisas tão facilmente, apesar de ter entendido os motivos de Natasha, ela ainda se sentia infeliz por saber que tudo isso só aconteceu por que ela foi gerada e se ela não existisse tudo ficaria melhor. 
Por isso tinha decidido, ir embora de casa. É isso mesmo. Talvez com ela longe seus pais pudessem ser felizes, e não fazia isso por Natasha, mas sim pelo seu pai, que sempre cuidou dela e a amou apesar de tudo. Sentiria saudades dele, muitas saudades, mas ela aguentaria. Levava em sua mochila escolar seu ursinho de pelúcia, um cobertor e uma boa quantia em dinheiro.
- Nossa Sarah, que cara é essa? – Mel apareceu em sua frente. – Parece que você foi atropelada por uma manada de elefantes amiga. – A analisando.
- Ai Mel, você poderia avisar quando se aproxima. – Ela rolou os olhos. – Não é nada demais, eu não estou legal.
- O que você tem amiga? – Acariciando os cabelos dela. – Você quer conversar?
Sarah ia responder quando as outras se aproximam.
- Amiga! – Camila a abraçou. – Que saudades!
- Oi Camila. – Ela forçou um sorriso.

O que foi? – Ana a encarou. – Não vai me dizer que ainda está irritada por causa do lance do desfile...
- Não Ana. – Ela sentou em um dos bancos do pátio. – O problema é outro.
- Ai Sarah, está nos deixando preocupadas, fala logo o que você tem...
- É que eu descobri um lance, muito pesado. – Ela murmurou. 
- Que lance é esse? – Mallu perguntou. – Você pode falar?
- Sim, posso. – Ele suspirou. – Acontece que eu já sei quem é minha mãe...
As amigas se entreolharam impressionadas.
- Como assim Sarah? – Camila perguntou. – Você conheceu sua mãe? – Sarah assentiu. – Mas isso é maravilhoso amiga! – Sorriu. – Como ela é? Como se chama?
- É a Natasha! – Sarah disse abraçando a mochila.
- A estilista daquele dia? – Ana perguntou com os olhos esbugalhados.
- Ela mesma.
- Está de brincadeira! – Pôs a mão na boca. – Aquela garota não deve ter nem vinte e cinco anos, como pode ser sua mãe?
- Tem vinte e oito, e é minha mãe. – Sarah repetiu.
Agora sim ela tinha conseguido deixar suas amigas de cabelo em pé.
- Eu bem que achei vocês duas parecidas... – Mel analisou. – Mas como você descobriu?
- Foi bizarro... – Sarah deu um risinho sem graça. – A escutei com meu pai conversando, e falando sobre mim.... Depois meu pai me confirmou tudo. 
- UAU, não sei o que dizer... – Camila assoviou. – E vocês conversaram? Ela explicou o motivo de ter ido?
- Sim... – respirou fundo. – E a história dela me comoveu de verdade...
- E porque ela te deixou?
Sarah resumiu a história, não queria falar daquele assunto tão desagradável, mas confiava nas suas amigas, afinal de contas elas nunca deram motivo para que a menina desconfiasse delas. Sempre estiveram ao seu lado nos momentos mais complicados, sempre a apoiando e a ajudando em suas ideias mirabolantes. Eram como irmãs.
- E você vai perdoar sua mãe, não é? – Mallu perguntou. – Na boa Sarah, tudo o que ela passou não foi fácil. 
- Eu sei... – Sarah disse. – Mas eu não consigo esquecer tudo o que eu passei sem ela, ela me fez muita falta, e eu sofri com a falta dela, vocês sabem o que é chegar no dia das mães e não ter para quem dar o presente? Nos meus aniversários, ela nunca esteve comigo.... No natal, ano novo eu não tinha minha mãe.... É difícil perdoar. E apesar de achar que ela mereça uma chance, eu não consigo senti-la como minha mãe, para mim ela continua sendo uma desconhecida por qual meu pai se apaixonou.
- Entendemos tudo o que você disse... – Mel a abraçou de lado. – Mas sua mãe te ama, acha que se ela não te amasse não teria ido? Poderia muito bem se lixar pra você, se recusar a se tratar, e acabar com você antes mesmo da sua vida começar.
Sarah a encarou, sua cabeça pesava, estava confusa, com receio.... Não sabia o que dizer.
- Eu vou embora.
Suas amigas voltaram o olhar para ela completamente espantadas.
O que disse? – Camila perguntou, sem entender.
- Isso mesmo, eu vou vazar!
- Como assim você vai “vazar”? Enlouqueceu garota?
- Não, eu não enlouqueci! – Ela se levantou. – Vou fugir e pronto!
- Sarah, você não pode ir embora! – Mallu reclamou. – Qual é? Você não pensa no seu pai não? Já imaginou como ele vai ficar quando descobrir que você foi embora?
- Ele supera, afinal de contas ele tem minha “reprodutora” com ele, pode fazer até cem de mim se ele quiser... – disse cabisbaixa.
- Sarah você está sendo egoísta! – Ana apontou. – Só está pensando em você, tem noção do estrago que vai causar garota? Nos entendemos o que sente, mas nem por isso eu fugiria...
- Para começar a conversa... – Sarah elevou a voz, a interrompendo. – Vocês JAMAIS vão entender o que eu sinto, vocês sempre tiveram mãe, sempre tiveram o carinho da mãe de vocês, sempre foram amadas e jamais foram abandonadas, então não, vocês não entendem e nem vão entender meu lado! Agora não venham querer dizer o que eu tenho que fazer por que eu não dou à mínima! – Se virou e saiu irritada.
Sabia que suas amigas só queriam seu bem e não mereciam ser tratadas daquela forma, mas como ela estava de cabeça quente precisou gritar, no fundo sabia que tentava descontar nelas suas frustrações familiares, enfim, depois se desculparia. 
Entrou na sala de aula. Não estava com a mínima vontade de assistir aquela droga e se fosse por ela já estava bem longe dali. Mas era uma pena que os porteiros só permitiam saída depois do horário de aula, então teria que ficar ali.
 
Saiu de seus pensamentos ao ver Angel arrastando uma carteira e sentando ao seu lado.
- Oi prima! – A Morena sorriu.
Sarah rolou os olhos.
- O que está fazendo aqui, coisa? – Ela suspirou enfadada e depois se deu conta do que Angel a tinha chamado. – Perdão, como me chamou?
- Prima, eu sei que você é minha prima! – Bateu palminhas.
- E quem te iludiu? 
- Eu sei que você é filha da minha tia Nat. – Angel mordeu a tampa da caneta. – E quando eu descobri fiquei meio assim. – Apontou para o próprio rosto e arregalou os olhos, mostrando à Sarah seu espanto. – Porque a Tia Nat tão fashion e linda ter você, tão fora de moda como filha é meio estranho.
- Não estou nem aí. – Sarah balbuciou. – Saí daqui!
- Não prima!
- Para de me chamar de prima! – Ela resmungou. – Você não é minha prima!
- É claro que sim! – Angel disse com dignidade.
- Não! – Sarah disse. – Eu sei que você quer mais do que tudo ser meu familiar, mas a Dona Bruxa não é nada da minha “reprodutora” então... Adeus!
- Para de chamar minha mãe de Dona Bruxa, o nome dela é Wanda, e para de chamar minha tia Nat de “reprodutora” ela é sua mame, e é linda! Você tem que chama-la de mamãe, ouviu? Mamãe. – Repetiu como se estivesse ensinando uma criança de dois anos a pronunciar.
- Já chega garota idiota! – Ela berrou. – Me deixa em paz antes que eu te meta um murro nessa sua boca e quebre todos esses seus dentes! – Disse cerrando os punhos.
Nossa como você é grossa Sarah. – Angel pôs a mão no peito, ofendida. – Eu só quero ser sua amiga.
- Pois eu não quero ser sua amiga! – Cruzou os braços. – Agora me deixa em paz.
Angel fez um bico e arrastou sua cadeirinha de volta para o lugar. 
As amigas de Sarah entraram na sala e sentaram em seus lugares, Sarah respirou fundo, precisava sair dali antes que se arrependesse. Não demorou a que a professora entrasse na sala e desse início a aula.

***
No apartamento de Natasha.
- Oi. – Disse ao abrir a porta e encontrar Steve parado. – Entra bebê. – Disse dando um selinho nele.
- Como está? – Entrando e encarando a ruiva que fechava a porta.
- Estou na mesma... – eles foram caminhando até a sala e sentaram no sofá.
– Minha cabeça está quase explodindo. Como a minha filha está?
- Ela está melhor, não queria comer, mas eu a obriguei, ela me obedeceu... – Natasha sorriu de leve e mastigou outra aspirina. – Porque você come isso puro? – Apontou a aspirina.
- Eu não sei... – deu de ombros. – Quando estou nervosa sinto vontade. Sou viciada nisso. – Sorriu de leve.
- E você não acha que deve fazer mal? – Ele perguntou preocupado.
- Não bebê. – Ela negou com a cabeça. – Eu uso como comprimido, não tem nada a ver, mas me conta, onde está a Sarah agora?
- Está na escola.
- E ela foi para a escola? Ela está bem para isso? – Lua o encarou, engolindo o seco.
- Eu não a obriguei a ir, inclusive disse que ela poderia faltar se quisesse, mas ela insistiu em ir, não sei por quê. – Coçando a nuca.
- Eu estou muito angustiada Steve... – ele apertou sua mão e lhe beijou delicadamente, ela sorriu. – Me sinto estranha em saber que a minha filha sabe quem eu sou, sabe que a mãe dela já foi uma drogada, já sabe meus motivos de têla abandonado e isso me deixa aflita.
- Não fique meu amor... – ele murmurou. – Nossa menina é muito espevitada, muito mimadinha... – apertou as bochechas de Natasha, que sorriu de canto. – Mas ela tem um dos maiores coroações que eu já vi, ela vai te perdoar, pode demorar um pouquinho, mas ela vai. – Ele parecia certo do que falava e aquilo de certa forma a acalmava, ele conhecia Sarah com a palma da mão, e ouvir isso dele era muito estimulante.
- Você acha baby? – Ela murmurou sorrindo.
- É claro que sim meu amor, eu tenho certeza. – Olhando ao redor. – Você está sozinha?
- Sim... – reprimindo o riso. – Wanda está na empresa e Angel está na escola.
– Ele sorriu safado e ela negou com a cabeça.
- Onw bebê... – ele perguntou. – Porque não?
- Porque não estou com cabeça para sexo agora, amor da minha vida. – Dando selinhos nele.

Estraga prazeres... – os dois riram.
- Amor? – Ela chamou e ele a encarou. – O que você viu em mim?
- Como assim? – Confuso. – Eu não entendi.
- O que você viu em mim quando nos conhecemos? – Ele sorriu.
– É que eu não era bonita e mesmo assim você me namorou.... Por quê?
-Porque eu me apaixonei por você assim que a vi. – Ele explicou olhando nos olhos dela. – Eu era novo não sabia muito bem o que eu sentia quando te via, eu sei que eu me sentia leve, era uma sensação maravilhosa.... Depois quando você quase morre enquanto a Sarah nascia eu entendi que eu te amava, e que não podia viver sem você realmente.
- Mas eu não tinha nada a ver com aquelas meninas, eu pensei que você gostasse da Sabrina.
- Mas você estava errada, eu gostava de você apesar do seu péssimo gosto para se vestir. – Ele brincou e ela lhe deu um tapa de leve no braço. – Eu te amo! – Parou de rir e a encarou com o semblante sério. – Eu quero ficar com você o resto da minha vida.
Natasha sorriu emocionada.
- Eu também meu amor, te amo! – Os dois sorriram e se beijaram carinhosamente. 
Tinham esperança que um dia poderia ser uma família feliz. 
Muita esperança.
***
Na escola, Sarah não estava mais aguentando aquela aula chata. Esperou tocar o sinal para o intervalo e resolveu ir embora não ligando para as aulas seguintes, ela não iria voltar para a escola mesmo. Saiu rapidamente sem falar com ninguém, e correu até a saída. Viu que o porteiro estava ali, firme e forte. Bufou e foi até lá.
- Eu preciso sair. – Ela cruzou os braços na frente do homem.
- Claro, me mostre sua autorização e poderá sair agora mesmo. –Ele disse.
- Eu não tenho permissão. – Ela rolou os olhos. – Mas eu preciso ir embora, é um caso de vida ou morte moço.
- Então eu não posso deixar você sair menina, volte para sua sala.
- Moço me deixa ir, minha vó está bem ali me esperando. – A pontou para fora.
- Onde?
- Ali. – Apontou e o homem olhou, não tinha ninguém, se aproximou mais e forçou a vista, não tinha ninguém naquele carro.
- Você enlouqueceu garotinha. – Se virou e não viu ninguém. – Menina? – Procurou pelos lados, com certeza tinha desistido de fazê-lo de trouxa e voltado para sua sala, ele realmente era incrível!
Sarah correu o mais rápido que pode até garantir que estava bem longe da escola, e agora? Para onde ela iria?
***
Algumas horas depois.
Natasha e Steve estavam vendo TV, enquanto ele acariciava os cabelos dela.
Ela sentia um aperto em seu peito, não sabia exatamente o motivo, mas aquilo estava a sufocando.... Respirou fundo tentando relaxar, mas aquilo não passava de forma alguma. 
Quer que eu peça comida? – Ele perguntou abrindo um sorriso lindo.
- Não estou com fome... – pôs o cabelo atrás da orelha. – Mas se você quiser, pode pedir amor.
Ele ia responder quando seu celular tocou. Ele aparou e atendeu.
- Oi mãe. – Sorriu.
- Steve, porque não me disse que viria buscar a Sarah meu filho? – Disse do outro lado da linha.
- Como é que é? – Ele negou com a cabeça. – Eu não peguei a Sarah mamãe...
Natasha o olhou, tentando entender a conversa.
- Mas eu estou esperando aqui há horas, e vi que ela não apareceu e fui perguntar por ela e falaram que não tinha mais ninguém... Além dos funcionários. – Se preocupou e Steve fechou os olhos.
- Droga, eu não acredito! – Disse se desesperando. – Mamãe, tem certeza, pelo amor de Deus...
Natasha já estava se tremendo, céus o que teria acontecido com sua filha?
- Meu filho ela não está aqui e eu jurava que estava com você, mas agora eu estou preocupada.
- Eu estou indo para a casa. – Ele desligou apressado.
- Steve, o que aconteceu com a minha filha? – Ele a encarou e acariciou os cabelos com força, estava nervoso.
- Ela não está na escola, fica tranquila, deve estar na casa de alguma amiga e não avisou por que eu confisquei o celular dela, mas não se preocupe.... Eu estou indo para a casa.

Eu vou com você! – Ela disse completamente espantada. Ele assentiu e os dois saíram.
No caminho para a casa dos Rogers, Steve telefonou para Ana, precisava saber se Sarah estava por lá.
- Ana... – ele disse.
Ana assim que ouviu a voz dele já sabia do que se tratava. Pobre Steve. Pensou.
- Oi tio Steve. – Ela sorriu de leve. – Já sei até por que você telefonou. – Suspirou.
- Então ela está aí? – Abriu um sorriso.
Natasha cruzou os dedos, ela tinha que estar na casa dessa menina!
- Não, a Sarah fugiu. – Ela murmurou, fazendo-o frear o carro bruscamente.
Natasha pôs a mão na boca e encarou Steve com o olhar choroso, não podia ser.
- O que você está dizendo? – Ele pediu paciente. – Por favor, repita, eu não entendi...
- Sim Tio Steve, ela fugiu, disse que fugiria. No começo a gente não acreditou muito e até chegamos a discutir, mas agora que você ligou eu vi que ela realmente cumpriu a ameaça.
Ele não esperou ela responder, agradeceu baixinho e desligou.
- Meu Deus... – disse sentindo um vazio tremendo, se acontecesse alguma coisa com sua filha ele nem saberia o que seria capaz de fazer. Natasha chorava, enquanto olhava pela janela, sonhando ver Sarah por ali.
- Steve, cadê minha filha...? – Se tremendo, se acontecesse algo a menina ela nunca se perdoaria.
Eu não sei meu amor... – apertou a mão dela. – Eu não sei, mas nós vamos encontrá-la. – Disse tentando convencer a ele mesmo.
- E aquele chip? – Disse com afobação. – Por que não a localiza?
Ele pôs a mão na testa, maldito dia que tirou o chip dela, se ele soubesse jamais tiraria. DROGA! Estava com muito medo!
- Eu tirei o chip dela. – Lamentou e Natasha encostou-se no banco do carro, sentindo todas suas chances indo pelo ralo.
- Oh céus... – pôs a mão no rosto caindo no choro outra vez. 
Onde estaria sua filha?
***
Assim que saiu da escola, Sarah resolveu ir até a parada de ônibus, precisava ir para longe da escola e daquele bairro. Nunca tinha pegado um ônibus na vida e não imaginava que fosse tão horrível, lotado e fedido, pelo menos o que ela estava era assim... Mas enfim teria de se acostumar, afinal o luxo acabou, agora ela teria que arrumar um lugar para ficar e um trabalho, e andar de ônibus faria parte de sua rotina. O pior de tudo é que não sabia fazer nada, nem sua cama ela arrumava, sempre teve empregados o bastante para fazer para ela.
Desceu em frente a um restaurante, tinha rodado quase a cidade inteira no coletivo e não sabia nem onde estava, mas isso não importa agora, o que importava era que estava morrendo de fome, entrou no restaurante e suspirou, aquele não era bem o tipo de comida que estava acostumada a comer, mas daria para matar sua fome.
***
Steve e Natasha chegaram e encontraram Dona Sarah nervosa, andando de um lado para outro.
E então? – Perguntou. – A acharam?
- Não mãe... – ele murmurou. – Ela fugiu... – disse indo até o telefone, precisava ativar a polícia.
- Oh meu Deus, e como sabem disso? – Pôs a mão na boca, com os nervos à flor da pele.
- Steve ligou para uma amiguinha dela e a amiga falou que ela tinha dito que fugiria... – sentou no sofá, estava tremendo de nervoso e preocupação.
Steve discava os números e andava de um lado para outro.
- Alô! – Ele disse rápido. – Senhorita eu preciso que me ajudem, minha filha desapareceu! – Pôs a mão no maxilar. – Como, umas duas, ou três horas, eu não sei exatamente... [...] COMO? – Ele arregalou os olhos. – NÃO, COMO ASSIM, EU ESTOU DIZENDO PARA VOCÊ QUE MINHA FILHA DESAPARECEU E VOCÊ ME PEDE PARA ESPERAR DOIS DIAS! – Natasha suspirou, sabia que a polícia não iria ajudar em nada. – VOCÊ É LOUCA? ELA É SÓ UMA CRIANÇA! – Ele dizia desesperado, como assim esperar quarenta e oito horas? Maluquice! – Não eu não vou fazer porra nenhuma, que merda! – Desligou na cara da policial sem mais rodeios. – PORRA! – Chutando o ar.
- Se acalme meu filho... – A mãe pedia com o coração apertado, enquanto Natasha chorava.
- Como vou me acalmar mãe? – Ele disse caindo no choro. – Eu não sei onde está a Sarah, se acontecer alguma coisa com a minha filha eu morro! MORRO! – Disse pegando as chaves de seu carro outra vez. – Eu vou procura-la!
- Meu filho, eu não sei se é uma boa ideia você ir dirigir assim...
- Eu não ligo! – Secando as lagrimas. – Vou procurar em todos os lugares que eu puder, só volto para a casa com minha filha!

Steve, eu quero ir também! – Disse com os olhos brilhando por conta das lagrimas. – Por favor.
- Meu amor, é melhor você ficar aqui, esperando notícias com a mamãe... – ela o interrompeu.
- NÃO! – Berrou. – É MINHA FILHA, E EU VOU VOCÊ QUERENDO OU NÃO! – Chorando mais, estava se sentindo culpada, e sabia que essa fuga de Sarah tinha algo a ver com os últimos acontecimentos.
Steve suspirou e assentiu, Natasha deveria estar igual ou pior que ele. 
- Ok, vamos. – Deu um selinho nela. – Mamãe, você pode ficar aqui, caso ela ligue, por favor, me avise! – Sarah assentiu. – Vamos amor... – pegou pela mão da ruiva e saíram.
***
Sarah terminou de comer e resolveu ir ao mercado, comprar algumas besteiras. 
Foi até lá e comprou batata frita, salgadinhos, refrigerante, um saco de balas e sorvete. Jogou tudo dentro da mochila, menos o pote de sorvete no qual ela foi comendo. Não sabia o que fazer, nem para onde ir, resolveu ficar sentada em uma praça comendo seu sorvete e olhar as pessoas.
- Ai, e agora, aonde eu vou.…? – Suspirou olhando para os lados. – À uma hora dessas, meus pais devem estar loucos... – sorriu de leve. E depois estranhou, nunca tinha pronunciado “meus pais” era sempre “papai” apenas, mas agora ela teria que se acostumar com os “pais” afinal sua mãe voltou. 
Decidiu parar de pensar nisso e voltar a comer. Dentro de pouco tempo seus pais a esqueceriam, e quem sabe até formaria uma nova família sem ela.
***

Natasha e Steve passaram a tarde inteira rodando pela cidade atrás de Sarah e nada da menina, foram na casa de todas as amiguinhas dela, conversaram com os pais das meninas e nada, foram a alguns lugares que ele costumava leva-la e nada dela, era como achar uma agulha em um palheiro. Os dois estavam desesperados, aquele poderia ser um dos piores dias da vida de ambos. Wanda e Dona Sarah ligavam a todo o momento querendo saber notícias, mas não tinham nada bom para falar. As horas passavam e nada...
- Eu deveria processar essa escola! – Ele grunhiu batendo no volante. – Que merda como deixam uma criança sair, fora de horário e ainda por cima sem minha permissão?!
- A escola não tem culpa amor... – ela estalava os dedos, sem tirar a atenção da rua. – São muitas crianças, não dá para controlar tudo assim, a única culpada sou eu... – abaixou a cabeça.
- Não amor... – ele disse apertando a mão dela. – A verdade é que ninguém tem culpa, a cabecinha da minha filha está virada de cabeça pra baixo, ela está confusa.... Eu estou tão nervoso que estou procurando culpado onde não tem... – pegou o celular e discou para sua mãe. – Alô! Mamãe... [...]. Não, não achamos nada mãe, e por aí? [...] Caralho eu estou desesperado! – Ele gritava tentando extravasar aquele coisa ruim que sentia. – [...]. Não eu não voltar até encontrar minha filha mãe! [...] Ok! Obrigado, tchau... – desligou.
- Pobre da sua mãe, ela está preocupada com você meu amor... – mordeu o lábio.
- Ela pode estar preocupada com a cria dela, mas eu estou vinte vezes mais preocupado com a minha cria nesse momento.
Natasha soltou um dos seus primeiros sorrisinhos desde que descobriu toda essa situação de Sarah... Droga, já eram quase oito da noite e nada dessa menina aparecer!
***
Enquanto isso Sarah estava sem saber o que fazer, já tinha escurecido e não sabia para onde ir, estava começando a ficar com medo, aquele lugar parecia perigoso, estava com medo de dormir e alguém lhe roubar as poucas coisas que tinha trago consigo, ok que era apenas um urso e um cobertor, mas o urso fora caríssimo e do jeito que as coisas estavam às pessoas roubavam até as pedras da rua. Resolveu sentar embaixo de uma arvore que tinha por ali, se encolheu e pegou seu ursinho o abraçando e sentindo o cheirinho da sua casa. Não queria dormir na rua, estava com saudades do seu pai, estava com saudades até de sua mãe por incrível que pareça, ela deveria estar muito preocupada, ou até nem estivesse.
Viu que tinha um grupinho de mais ou menos cinco pessoas se aproximando, e ela se encolheu, sentindo um medo cruzar sua espinha. O grupo era muito suspeito e andavam esquisitos, como se não estivessem sãos, gritavam e empurravam uns aos outros.
- Ai meu Deus... – se encolhendo o máximo que podia para que não a vissem. E deu certo, eles pereciam tão alucinados que não notaram a presença da menina ali, o odor de cigarro, droga e bebida era fortíssimo, eles deveriam estar muito doidos.
Para o desespero dela eles ficaram muito próximos, mais ou menos três metros de distância dela, estava desesperada, queria seu pai, sua cama, queria sua mãe.... Por um momento parou para pensar em Natasha, quando foi expulsa pela mãe, imaginou que ela também sentiu medo, sentiu frio e sofreu muito mais do que ela, pois além de grávida, não podia voltar para a casa e como ela era pobre provavelmente também não tinha dinheiro para comer. Sentiu uma pontada no coração.... Sentia raiva de sua avó materna por ter feito isso com ela, essa louca só podia ser doente! Ficou algum tempo viajando em seus pensamentos e lembranças... Ouviu mais uma risada alta do grupo de drogados e se desesperou, meu Deus eles iriam acabar achando-a e roubando, assaltando ou até poderiam fazer coisa pior, precisava sair dali com urgência. Ai paizinho do céu, como ela queria voltar para a casa, mas não sabia como voltar, e agora estava lascada!
Levantou-se devagar e foi andando, já deveriam ser dez da noite pelo jeito, não tinha quase ninguém na rua e as lojas e mercados já estavam fechados. Pelo jeito ninguém a viu saindo e ela aproveitou para correr. Estava com muito medo, muito mesmo.
***
Steve volta para a casa frustrado, se sentia um inútil sabendo que sua filha estava por aí sozinha, por essa cidade, tinha medo de acontecer alguma coisa com sua princesa, medo de algum marginal a abordar na rua e fazer alguma coisa a ela, estuprar, matar.... Sentia o coração esmagado.
Sentou-se no pufe que tinha no quarto da filha e afogou a mão nos cabelos, respirando fundo, esfregou os olhos, enquanto observava uma foto dela quando tinha dois aninhos, Droga! Onde estava sua menina? Sentia os olhos mareados e um nó na garganta, ele precisava achar Sarah, o mais rápido possível!
- Amor... – ouviu a voz de Natasha. – Eu estou com muito medo... – com a voz embargada.
- Eu também pequena... – ele murmurou, com lagrimas. Queria ser forte para passar confiança para Natasha, mas como? Não dava simplesmente ele estava desesperado.
Seu celular tocou e ele correu para atender, imaginando que fosse Sarah, mas suspirou ao ver que era Buck, atendeu ao amigo que perguntou como ele estava e se tinham alguma notícia da menina, logo em seguida desligou pedindo que o avisassem caso a encontrassem. Ele desligou desanimado e abraçou Natasha, a fazendo apoiar a cabeça no peito dele.
- Onde está minha filha, meu Deus... – ela sussurrou enquanto ele lhe dava um beijinho na testa
- Eu não faço ideia..., mas eu vou encontrá-la. – Disse firme, o celular tocou outra vez e ele imaginou ser Buck, e atendeu com pressa.

Alô... – suspirou.
- Papai... – chorando.
- Filha! – Levantou não acreditando que estava ouvindo a voz dela. – Meu Deus, onde você está Sarah?!
Natasha sentiu como se uma manada de elefantes saísse de suas costas.
- Eu não sei papai, vem me buscar, eu to com medo!
- Filha... – ele sorriu de alivio. – Fala para mim o local que você está, procura uma placa...
- Tá. – Ela caminhou um pouco em busca de alguma placa e achou uma em uma esquina, próxima ao telefone, correu para o telefone público para avisar o pai, se sentia aliviada por estar falando com ele e lhe passou o nome da rua onde estava. - Papai vem logo, eu estou com medo, tem umas pessoas estranhas aqui...
- Filha, fica quietinha, procura ficar em um lugar movimentado, ou então fica escondidinha, o papai já está chegando.
- Tá eu estou em frente a uma banca de revistas chamada “Guadalajara”. – Olhando ao redor, para ver se não vinha nenhum marginal. – Não demora pai.
- Não se preocupe, eu já estou chegando princesa...
Ele desligou, e passou a mão nos cabelos, agradecendo aos céus trilhões de vezes em pensamento.
- Graças a Deus! – Abraçou Natasha que sorria e chorava ao mesmo tempo.
- Ela está bem Steve? – Foi a primeira coisa que Natasha perguntou.
- Está meu amor, vamos busca-la! 
A mãe de Steve aparece.
- Acharam? – Disse olhando a cara dos dois que saiam do quarto apressados.
- Sim mãe, ela ligou! – Ele dizia com um sorrisão.
- Obrigado senhor! – Agradecendo de olhos fechados, eu posso ir com vocês busca-la?
- Claro, vamos!
Os três saíram e foram ao endereço que Sarah tinha dado.
***
A menina esperava apreensiva e ansiosa, sabia que seu pai lhe daria uma bronca daquelas mas ela preferia mil vezes levar bronca, aguentar sua mãe se metendo na sua vida, do que ficar mais um segundo naquele lugar e longe de sua casa.
Quarenta e cinco minutos depois enxerga o carro do seu pai estacionando perto dali. Levantou-se e correu até ele.
- Olha ela ali meu amor! – Apontando enquanto saiam do carro.
Ele sorriu enquanto a via correr em sua direção.
- Papai! – Ela o abraçou e ele a levantou abraçando-a com força.
- Minha filha pelo amor de Deus, NUNCA MAIS, entendeu? Nunca mais faça isso comigo! – Emocionado. – Nunca mais filha! – Disse a fazendo encarar sua face preocupada, ela assentiu chorando. – Eu te amo, meu amor!
- Também te amo papai, desculpa... – dizia enquanto o pai a enchia de beijos no rosto. – Vovó!
- Oh meu bem, nunca mais apronte uma dessas... – abraçando a neta com força. – Quase nos mata do coração!
- Desculpa. – Se virando e vendo Natasha com os olhos mareados.
Filha! – Ela se aproximou e abraçou a filha com força. – Graças a Deus você está bem, meu amor!
Sarah a abraçou sentindo o cheiro dela; se sentia protegida com sua mãe e se sentia aliviada em saber que já estava com sua família.
- Eu fiquei com muito medo que acontecesse alguma coisa com você... – a observando e procurando algum machucado. – Você está bem? Você comeu? – A menina assentiu. – Quase mata a mim e seu pai de preocupação...
Ela sorriu de leve, era estranho ter alguém lhe perguntando essas coisas típicas de mãe, sempre via a mãe de suas amigas perguntando, “você comeu? ”, “escovou os dentes? ”... Mas não sabia como era bom ter alguém se preocupando com você. Ela gostava. Respirou fundo.
- Também não exagere Natasha... – girou os olhos. – Podemos ir papai? – Se virou para o pai.
- Sim, vamos. – A abraçando outra vez, estava tão feliz por Sarah ter voltado que nem pensava em castigo, só queria curtir sua filha, até porque sabia que ela só fez isso por estar confusa, com a cabecinha cheia de dúvidas e ele entendia perfeitamente.

Nossa Filha MimadaKde žijí příběhy. Začni objevovat