7 - Espresso

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Eu me pergunto porque eu trouxe justamente esse livro. Bom, naquela hora eu não tive muito tempo para pensar, acho que simplesmente me esqueci que estava lendo essa coletânea de ensaios do John Maynard Keynes. Beomgyu está assistindo a televisão, de fato, acho que ele apenas está olhando para o cansado jornalista. Em nenhum momento ele chorou, não há vestígios de lágrimas em seu rosto, suas feições estão impassíveis, como se ele estivesse esperando algo inevitável.

Além de nós, há outras quatro pessoas na sala de espera do hospital, todos parecem cansados, estão todos cansados. As máquinas de café estão com uma placa dizendo "em manutenção". Como eles querem que as pessoas sobrevivam em um hospital sem cafeína?

-Esse hospital tem alguma cafeteria? Pergunto para Beomgyu, que me encara com um olhar vazio.

-Sim, vamos tomar café?

-Vamos, se não vou desmaiar de sono

Ele esboça um meio sorriso.

...

Visualmente, as cores da cafeteria contrastam com as cores do hospital. Os tons pastéis e retratos de paisagens suíças são opostas as luzes aquosas e a ausência de cores dos intermináveis corredores hospitalares. Eu coloco as duas xícaras de Espresso na mesa, Beomgyu bebe um gole, em silêncio.

-Espresso é a base de todo café, digo, após beber um gole longo.

-Ah? Ah sim, verdade...Responde Beomgyu.

É impossível evitar o assunto, nem mesmo as mais confortáveis amenidades conseguem disfarçar o anjo pálido sentado ao nosso lado. O anjo está nos encarando, com aqueles olhos que sabem todas as coisas.

-O médico falou mais alguma coisa? Pergunto.

-Não, não é a primeira vez que isso acontece com a mamãe, mas dessa vez, foi diferente...

-Diferente?

Ele concorda, bebe um gole de café e diz:

-Eu sinto como se ela não estivesse mais aqui

-Gyu, não diga isso...

-Soobin, eu passei parte da minha vida me preparando para esse momento

-E para depois desse momento?

-Eu pensei em algumas coisas, mas a gente nunca quer acreditar, não é mesmo?

Eu sinto uma ponta de tristeza transparecer em sua voz.

O Doutor Cha apareceu na porta da cafeteria. Ele é um médico jovem, mais novo que a mãe de Beomgyu, e de certa forma é o "responsável" pela saúde dela. Ele é um idealista, que não importa o quão fria e cruel pode ser a realidade, não perdeu os seus ideais. Beomgyu me contou que inúmeras vezes ele pagou por tratamentos e serviços médicos que eles não conseguiriam pagar. O Doutor Cha é um desses cada vez mais raros seres humanos que possuem um certo brilho ao redor de suas cabeças.

-Beomgyu, ele chamou.

Ele se levantou e foi até o Doutor visivelmente exausto. Conversando com Beomgyu, o Doutor Cha parece um estudante veterano da escola que todos respeitam. Gyu apenas concorda com tudo que o Doutor diz, enquanto o jovem médico explica tudo detalhadamente, mas é possível ver um brilho melancólico em seus olhos. O Anjo também está ouvindo a conversa.

O Doutor Cha acena para mim e se afasta. Beomgyu se senta na cadeira, suspira, e como se estivesse carregando um balde cheio de pedras em seus ombros, diz:

-Daqui alguns minutos, eu vou poder vê-la

-Ela...Ela está se sentindo melhor?

-Ela não está mais sentindo dor, nenhuma dor...

O anjo bebeu o último gole da xícara. Agora há apenas a borra do café com flocos de açúcar não dissolvidos.  

Sorry I Don't Know Much About The World - SoogyuOn viuen les histories. Descobreix ara