CAPÍTULO 1

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"Uma rosa roxa é uma rosa real, transmite uma mensagem de grandeza e dignidade, representa o amor profundo, normalmente, à primeira vista."


Eu sabia que todas as cabeças virariam para me olhar quando eu entrasse. Não, não era questão de ser arrogante ou nada do tipo, mas até mesmo eu, antes do acidente, quando via alguém em uma cadeira de rodas entrando no mesmo lugar em que eu estava, tinha os olhos atraídos automaticamente.

Então não era por eu ser extremamente gata, ser famosa ou ter um corpo escultural que as pessoas viravam os pescoços para me observar enquanto eu passava. Era por causa da cadeira de rodas. Ou, talvez, principalmente, porque eu parecia uma criança com minha mãe empurrando a cadeira como se nem os braços eu pudesse mover.

Paramos em frente ao balcão e eu fui me sentindo cada vez mais vermelha enquanto minha mãe ia falando:

– Com licença, bom dia. Pode avisar ao Sr. Miles Roger que já chegamos? Ele vai saber quem é.

Pela cara que a recepcionista fez, ela devia estar imaginando se eu era um completa invalida e nem conseguia falar. Ela me olhava com pena. Que mãe leva a filha no primeiro dia de trabalho? A filha adulta. Queria abrir um buraco no chão e me enfiar dentro dele.

Por mais que aquele tivesse sido o assunto de todas as nossas discussões naquela semana e ainda mais naquela manhã, minha mãe não deu o braço a torcer sobre me acompanhar no primeiro dia de trabalho. Mesmo já conhecendo todo o prédio e a maioria das pessoas que iriam trabalhar comigo por ter estado em todas as etapas da seleção.

– Podem subir. – a mulher atrás do balcão falou, após checar alguma coisa no computador. – A senhora sabe em que andar ele fica?

Minha mãe concordou me levou até o elevador e apertou o botão de chamada.

– Mãe? – chamei, entre dentes.

– Sim, querida? – respondeu, docemente.

O pior era que ela nem notava o que acontecia comigo quando fazia aquele tipo de coisa. Já era natural e fazia parte da sua personalidade. Mesmo antes do acidente, ela costumava ser cuidadosa e depois que passei a viver confinada em uma cadeira de rodas, o cuidado redobrou. Ela gostava de estar no controle de todas as coisas que envolviam a minha vida.

– Você sabe que não precisa ficar me arrastando, não sabe? Eu tenho mãos. E uma boca muito funcional. Posso arrastar a minha cadeira e pedir por informações.

– Eu sei, mas é o seu primeiro dia. Você sabe que eu quero ter o prazer de te ajudar nesse primeiro passo da sua jornada. – já tinha ouvido aquela frase tantas vezes, que já estava memorizada.

– Você sempre faz isso. Parece que eu tenho treze anos. – murmurei baixo, enquanto o elevador apitava, indicando que as portas iriam se abrir.

Antes que minha mãe fizesse qualquer coisa, eu manobrei a cadeira de rodas para sair do caminho das pessoas que iriam sair do elevador. Assim que as portas se abriram, os quatro pares de olhos que estavam dentro do cubículo olharam diretamente para mim e eu podia ouvir os pensamentos girando nas mentes de cada um. "O que deve ter acontecido com ela?", "Será que ela nasceu assim?", "Coitada."

Eu só sorria e cumprimentava todos que iam saindo, com educação.

Minha mãe se posicionou protetoramente atrás de mim e me empurrou para dentro, com uma careta na expressão. Eu a conhecia tão bem que já imaginava o que ela estava pensando.

– Que povo mal–educado, hein? Você viu a cara deles? Nunca viram uma pessoa deficiente? Vou ter que conversar com o Miles sobre isso.

– Mãe... – falei, em aviso.

As cores mais bonitas do universoWhere stories live. Discover now