Capítulo VIII

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Ela Também Pode Me Ver

Depois do que aconteceu na noite anterior não consegui pregar os olhos, apesar de tudo, aquela bruxa ainda podia machucar meus pais. Agora eles estão em uma consulta com o médico, e eu tô aqui dividindo uma sala com o Wybobão, mais 28 bombas de hormônios prestes a explodirem, e uma professora tentando ensina-los sua língua nativa...

As lembranças do reencontro com a Beldam invadem minha mente misturadas a um turbilhão de pensamentos, e ainda tive que esclarecer para os meus pais o porque Wybie estava lá em casa tão tarde da noite.

Inclusive depois dessa noite ele tem estado estranho também. "Não é como se alguma vez na vida ele tenha sido normal, mas ele tá diferente...". Fica olhando em volta como se procurasse por algo, ou alguém... Talvez ele só esteja com um pouco de medo, depois de ter estado cara a cara com a Beldam quem não ficaria...

E assim se sucedeu durante o resto daquele dia, já com meus pais em casa, não consegui desgrudar deles nem por um único instante. Mas depois deles insistirem em afirmar estarem completamente bem resolvi deixar-los em paz. Agora sozinha no meu quarto dou por falta de Wild. Desde que voltamos não o vi mais, na verdade nem me lembro de tê-lo visto voltando conosco do outro mundo.

Ao me dar conta disso também lembro-me das palavras da Beldam, uma proposta realmente absurda. Eu sabia que ela não me daria o que eu queria, como também sabia que ela podia machucar meus pais de verdade. Apesar de tudo, perdê-los ou vê-los sofrendo de tal forma é algo que não suportaria.

Tenho meus pensamentos interrompidos após ouvir minha mãe avisando que tinha alguém esperando por mim na sala, "quem será o desocupado que viria me visitar a essa hora?" penso enquanto descia as escadas indo até a sala principal, e vejo que era Wybie usando uma daquelas máscaras esquisitas dele só que tapando somente metade do rosto.

— B-boa noite Coraline! —cumprimentou — v-vim porque disse que queria ajuda pra estudar... — "eu não lembro de." De repente ele vem andando em minha direção, agarrando meu antebraço e logo me arrastando escada a cima...

Eu não entendia o porque ele estava agindo daquela forma. Durante o caminho senti as mãos dele trêmulas e suadas. Ao entrarmos em meu quarto ele trancou a porta, também foi até as janelas e fechou as cortinas, cada ação sua me deixava mais incomodada ainda. Ele estava inquieto, andava de um canto ao outro do quarto, como se quisesse me contar algo. Aquilo já tava me dando nos nervos...

— O que tá acontecendo?! — questionei já sem paciência — Depois daquela noite tu tens agido assim...—sou surpreendida quando ele se aproxima de mim, chegando bem próximo ao meu rosto. Podia sentir sua respiração descompassada, e ver seu olho esquerdo arregalado, e cheio de terror.

— Ela também pode me ver...— sussurrou ele ao pé do meu ouvido.

Coraline- Do primeiro ponto ao último botãoWhere stories live. Discover now