O GAROTO DE PELE MORENA E SEMBLANTE CAÍDO se perguntava diariamente o que ele poderia fazer de diferente para se sentir menos pior, menos triste, menos vazio. Ele tentava mesmo encontrar alguma resposta que pudesse tirá-lo de tamanho sofrimento. Era como se um buraco negro e fundo tivesse tomado conta do seu peito e seu coração domado por angústia e dor. Era uma dor inquestionável, e na verdade, nem ele conseguia explicar, ele só queria que essa dor parasse um pouco. Nem que fosse por alguns minutos. O pobre garoto nem lembrava mais como era se sentir bem, e duvidava poder voltar a ter esse sentimento bom.
Sentado na beira da sua cama, olhando para o nada e pensando em tudo, ele esfregou seu rosto levemente com as mãos e soltou um longo suspiro. Barba por fazer e cabelo sem corte há quase dois meses, até para fazer o básico era complicado. Cansado, era assim que ele se sentia, e por mais que tivesse dormido a noite inteira, seu cansaço permanecia ali com ele, um peso gigante em suas costas deixando-o infinitamente sobrecarregado; de tudo e de todos. Zayn queria sair da cama, mas por qual motivo afinal? Pra que mais um dia?! Qual o propósito disso tudo? Eram tantas questões que assombravam o garoto e ele mau acordou e já estava sendo intimidado por seus próprios pensamentos.
Mais um dia, disse ele à si mesmo. Mais um dia. E ele esperava que fosse o último.
Finalmente ele levanta da cama e com os pés descalços vai até a janela abrindo as cortinas. Não gostava da luz do dia, ele preferia a escuridão do seu quarto mas, depois de três dias seguidos sem nenhum tipo de claridade, resolveu dar uma chance para a luz solar. E bom, como era de se esperar, não sentiu nada, nenhuma emoção ou algo ardendo em seu coração como se gritasse para ele viver aquele dia, ele continuou se sentindo vazio, e a luz do sol que poderia ser um dos motivos para deixar seu dia bom e com vontade de sair do quarto, foi nada mais que uma razão para ele voltar a fechar as cortinas e deitar novamente em sua cama.
O silêncio é rei em seu quarto, todavia, seus pensamentos eram de se espantar. Ele não desejava esse tormento pra ninguém. Tentou afastar as vozes cobrindo sua cabeça com um dos travesseiros mas, foi tão inútil que cedeu-se, aquilo nunca ia parar. Ele poderia chorar, mas nem isso conseguia fazer, achava melhor deixar o nó em sua garganta ao invés de se sentir uma criança indefesa chorando.
Ele só queria paz.
Paz e sossego.
Não teve contanto com ninguém durante uns três dias seguidos. Seu celular está cheio de mensagens, e ele sequer tem ânimo de lê-las na barra de notificação, nem mesmo sua ex-namorada. A garota que, segundo ele, foi seu primeiro e único amor. A essa altura ele descartou completamente da sua lista que o amor verdadeiro realmente existe, caso contrário, ela não teria desistido dele na primeira crise de ansiedade que ele teve. Ao invés de ficar, ela se foi como se tudo o que eles viveram fosse algo qualquer, como se tudo o que ele ofereceu não fora o suficiente, ele deu toda a sua energia para alguém que não a valorizou.
Zayn é intenso, e isso sempre foi um problema para as pessoas. Antes ele não se culpava por isso, afinal, quando ele gosta, ele gosta mesmo, mas odeia quando sua ficha caí somente depois, onde vê que na maioria das vezes as pessoas não tem o mesmo nível de consideração que ele tem. É doído isso. Ele se sentia um bobo por ser assim, tão sentimental.
Zayn, então, resolveu parar de amar.
É melhor assim. Menos dolorido.
Mas agora está ali, sozinho no quarto escuro esperando por um socorro.
Esse socorro poderia vir de sua mãe - já que ele ainda mora com os pais - mas em quase todas as suas fases ruins sua mãe normalmente acha que uma boa alimentação seria a solução de todos os problemas, e bem que poderia mesmo; mas nos ultimos dias Zayn não tem se alimentado bem, mesmo sabendo que do outro lado da porta teria uma boa refeição feita especialmente por sua mãe.
O socorro que ele precisava jamais viria do seu pai. Tão cheio de si, arrogante, e com tantos afazeres, se preocupar com seu único filho homem estava fora de cogitação. Ele tinha coisas mais importantes.
Suas irmãs então, nem se fala. Não entendiam nada sobre a vida e ajudar o irmão mais velho não parecia ser uma tarefa fácil.
Filho de pastor, o garoto queria que seu pai fosse tão amoroso como é para as pessoas da igreja, ou de qualquer outro lugar. Mas não passava de um religioso.
- Zayn? - seu quarto deixa de ficar silencioso quando a voz doce de sua mãe atravessa a porta de madeira e entrando em seus ouvidos. - Faz dias que não te vejo, querido. Eu sei que está ai, ouço seus passos firmes andando pelo quarto. Eu nem lembro mais como é ouvir a sua voz. - ele ficou deitado, pensativo, ouvindo sua mãe falar. - Pode abrir a porta, por favor?
Ele pensou tanto que seus neurônios faltaram explodir. Saiu da cama e em passos lentos foi até a porta, estendeu a mão até a maçaneta e queria ter certeza se abria a porta ou não.
- Consigo ver sua sombra. - ela comenta e ele abaixa a cabeça notando o enorme vão que tem na porta. - Você quer abrir essa porta mas algo te impede, não é?
Sim, ele assente. Mas ali, no seu quarto, ele se sentia tão mais seguro, apesar da sua companhia ser um tormento às vezes, ele gostava mais de estar sozinho do que em volta de algumas pessoas.
- Quando quiser conversar, saiba que sempre estarei aqui. - isso parece convidativo, ameaçou a destrancar a porta, mas ao ouvir a voz de seu pai, se afastou. Ela continua com sua voz suave: - Estou indo para a igreja, está bem? Se quiser ir, te espero lá embaixo. Não me importo em me atrasar.
Seu pai estava mais para um estranho, e detestava sentir isso, mas era um sentimento real. Ele odiava seu pai, e pouco se importava se Deus o puniria por isso. A culpa é toda do seu pai!
- Hoje começa às noves, te espero no carro. - ouviu a voz do tal homem vindo lá de baixo.
O que levaria ele a querer sair do quarto? Se sua mãe tivesse insistido mais um pouco, talvez abriria, e por ele, continuaria ali até onde aguentasse.
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N/A: bah, desculpem os erros. Continuo?
