now you hang from my lips.

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Harry sente a parede tremer, e o barulho profundamente longíquo de peças se movendo. Ele sente a areia cair sob sua bochecha e o som costumeiro da madeira da janela rangendo. Parece familiar, mesmo tendo certeza de que era um sonho.

"Acorde." ele diz pra si mesmo, mas não funciona.

Sua cabeça se direciona para a esquerda, e ele percebe que está em um museu.

Onde todos os quadros são azuis.

Azuis em diferentes tons.

"Azul é a cor da tristeza." Alguém sussurra em seu ouvido, mas ele não se vira para olhar.

As paredes são um cinza muito decaído e não há mais ninguém além de sua própria presença e a respiração quente que bate em seu pescoço.

O seu coração está voluptuosamente, em uma lentidão imensa, se alastrando, e o som dos seus batimentos estão se repetindo cada vez mais altos em intervalos pequenos de treze segundos.

"Pare de pensar tanto nisso. Você se trouxe até aqui." A voz volta a sussurrar, mas Harry a ignora. Ele caminha até as outras obras e é como se tudo estivesse fazendo algum mínimo sentido, mesmo que não faça.

O seu peito se enche e esvazia. Sobe, e desce. Seu coração está cheio demais. Como se ele fosse explodir. O barulho está muito alto.

Harry imediatamente cobre as orelhas. Mas tudo parece ainda mais gritante.

Ele desperta, arregala os olhos e sente um frio nas pernas nuas. Seus quatro travesseiros e sua coberta estão no chão.

Desde que cortou a cocaína - depois de algumas semanas dormindo duas horas ou menos por dia - seu sono começou a se fazer presente. Ele até conseguia dormir por mais umas quatro horas desde que não ingerisse anfetamina.

Harry olha para o relógio branco cobrindo o começo da infiltração na parede. São três e quarenta e sete da manhã e o seu coração ainda corre acelerado como um louco.

E tem aquele arrepio na espinha que lhe gera uma sensação extrema de ansiedade prévia. Na sua porta, ele ouve três batidas rápidas. Em intervalos de treze segundos.

Quem quer que seja, é alguém determinado. Porque tudo que Harry quer fazer é se enroscar nos lençóis depois de beber uma taça de vinho barato e dormir por um mês.

Todavia, ele se levanta. Cobre seus ombros com uma manta camuflada e segura uma adaga na mão esquerda, caso seja, bem, mais um de seus esqueletos no armário.

"Louis."

"Harry."

Ele não pisca por alguns minutos, e sua respiração fica perdida em um momento no tempo enquanto assiste o xerife o empurrando pelo ombro e adentrando sua casa sem seu consentimento.

"Eu te acordei?" Louis pergunta, andando apressadamente pra lá e pra cá, com os olhos fundos e as bochechas magras.

"Na verdade, sim."

"Bom, isso não importa." Ele profere, respirando fundo. O ar vindo da porta está congelante, mas Louis tem gotículas de água flutuando por sua testa.

"Está tarde." Harry diz, fechando a porta e pegando um casaco no mancebo velho de madeira.

"Eu não sei direito o que estou fazendo aqui." Ele diz, ainda com aquela nada perspicaz eletricidade constante correndo pelas veias. "Eu não..."

Louis respira e inspira, se sentando no sofá e retirando seu cachecol abruptamente. Harry ainda está processando que acordou. Ainda está processando seu sonho e processando que o xerife da cidade está na sua sala de entrada às três da manhã.

breakfast at folks | hiatus.Onde histórias criam vida. Descubra agora