like the Gardens of Babylon.

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Harry encarou sua perna machucada, e depois o papel em suas mãos. Sabia que precisava arranjar outra ocupação que não precisasse andar ou correr, ou se esconder entre arbustos para ouvir conversas clandestinas.

"Sem serviço, sem gorjeta, garanhão."

Era o que dizia o bilhete do senhor Harper. Harry conseguia enxergar seu sorriso idiota no rosto ao escrever aquilo, talvez ele estivesse metido naquela presepada.

Bem, isso não importava agora. A questão era que ele estava completamente inútil naquele momento. Tentou montar em Astro, mas foi como colocar mais sal na ferida. Tentou sair por aí sem a maldita bengala, mas escorregou e deu de cara no chão antes que pudesse sair pela porta.

O que ele podia fazer, afinal?

Além de, é claro, ir até a delegacia estragar o dia de um certo xerife - cujas olheiras já não estavam tão evidentes. Talvez estivesse dormindo mais e se esgueirando menos.

De qualquer forma, ele precisava checar a droga do machucado. E o oficial Dante - quem Harry descobriu não ser enfermeiro algum - ensinou a Louis como tratar da ferida, e agora tinha se tornado sua função. E sim, ele precisava olhar para aquela cara de sapo quase sempre, o que tornava tudo ainda pior.

"O maldito não estudou enfermagem merda nenhuma." Harry tagarelou naquele dia, seguindo a instrução de Louis dizendo que se distrair aliviaria a dor.

"Sim... Mas a mãe dele fez, e ensinou a ele tudo que sabe."

Aquele método de conversar não funcionava muito bem... Não quando Louis estava tirando gaze grudada ao sangue seco com mais daquele líquido ácido.

"Por que não tem profissionais aqui?"

"Porquê essa é a merda de uma cidadezinha perdida no mapa, com doze mil habitantes, que ainda possui xerife como cargo maior para a cidade. Não temos um maldito prefeito."

Harry fez uma careta, sentindo a pele arder. Estar naquela posição também não ajudava. Louis estava ajoelhado em sua frente como um maldito michê e a coxa do cacheado surpreendentemente lisa estava exposta á cara feia do xerife. Argh, ele podia sentir sua respiração.

"Acho que estarei morto em alguns meses." Diz Harry, casualmente. Como se aquilo não tivesse peso nenhum.

Louis não responde por alguns minutos, concentrado na perna machucada. Entretanto, inclina a cabeça para Harry, e tenta o compreender pelo menos uma vez.

"Qualquer um de nós pode morrer, à qualquer momento."

Harry ri, a lembrança o atinge na hora e sua espinha se arrepia. Como um dejavu muito bom.

"Isso soa como algo que minha bisavó diria."

"Vai se foder, Styles"

"Não! Você não entendeu. Ela era uma mulher brilhante." Ele responde com as covinhas vulneráveis estampadas em seu rosto. E então Louis percebe, que pela primeira vez em muitos meses, vê o cacheado com a guarda baixa. E sendo ele mesmo. Com o sorriso fraco, a expressão leve e sem nenhuma ofensa instantânea na ponta da língua.

"Maravilha, então."

"Ela costumava me ensinar tantas lições sobre a vida." Harry suspirou, encostando o corpo na parede e sentindo um peso mínimo sair das costas. Talvez conversar funcionasse, sim. "Acho que estaria tão decepcionada agora."

"Acho que está tudo bem, você foi esfaqueado. Sua dívida foi paga."

Harry ri, olhando para as ruguinhas nos cantos dos olhos de Louis e pensando em como gostaria de toca-las. É estranho. Na verdade, a situação toda é estranha. Ele não deveria estar tão... À vontade.

Sua expressão muda, e ele tenta não dizer mais nada. De repente, o quarto fica pequeno demais. Fechado demais. Por que ele está sentindo essa sensação quente no pescoço? Aquele lugar não tinha janelas. Era sufocante.

"Terminamos por aqui."

Louis se levanta, jogando a luva descartável no lixo e guardando a caixinha de gaze. Harry se levanta também, hesitante. Ele não agradece, e também não o xinga. Na verdade, ele só fica lá, estagnado como uma grande árvore na frente do xerife, sentindo a respiração pesar e o estômago borbulhar.

"Você está bem?" Louis pergunta, mas Harry não responde nada. Suas mãos tremem e ele só não consegue explicar.

E então ele o beija.

Harry beija Louis como se seu pulmão precisasse do seu ar e como se aquilo pudesse trazer tudo de mais magnífico que estava perdido de volta ao mundo.

Harry o beija porquê sente aquela ligeira sensação de necessidade daquele toque. Precisava urgentemente descobrir como era o gosto do seu céu da boca e precisava saber se Louis o tocaria na cintura, se o puxaria calmamente para mais perto e se tocaria sua nuca.

Não era como se ele pudesse justificar seus movimentos.

Ele só precisou muito daquilo.

breakfast at folks | hiatus.Onde histórias criam vida. Descubra agora