Capítulo 3

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Build recebeu alta do hospital uma semana após o acidente, seus ferimentos estavam melhores, mas sua memória continuava fraca. Eu o levei para casa, e embora ele não se lembrasse de quase nada, havia uma frase cuja ele nunca se esquecia.


- Oi, eu sou o Biu, eu sofro de perda de memória recente. - Ele me disse quando entramos em casa.


- Eu sei disso, meu amor, eu sou o Bible. - Eu sorri. Eu já havia dito meu nome a ele várias vezes, mas eu continuava dizendo, pois não queria que ele se sentisse ignorado.


- Sabe? Desculpa, eu sofro de perda memória recente. - Seu olhar estava triste.


- Ah, você já me disse isso querido. - Segurei sua mão.


- Já? Desculpa. - Ele desviou seu olhar para o chão, sua feição parecia ainda mais abalada.


- Você não precisa se desculpar. - Eu o abracei com força. - Você não precisa se desculpar por nada, não é sua culpa.


- Mas eu queria me lembrar das coisas. - Ele retribuiu o abraço.


- Eu sei, meu amor. Mas eu prometo que um dia isso vai passar e você voltará a se lembrar de tudo.


- Vai?


- Vai sim. - Eu sabia que ele logo se esqueceria dessa conversa, mas o objetivo era fazer com que Build nunca ficasse triste. Mesmo se ele esquecesse logo após, o que importava para mim era como ele estava se sentindo.


- Quando?


- Eu não sei, mas eu vou cuidar de você todos os dias até lá. - Dei um beijo em sua testa e ele sorriu. - Você quer conhecer nossa casa?


- Quero! - Ele sorriu. - Mas e se eu esquecer? Eu sofro de perda de memória recente.


- Não tem problema, querido. Eu te apresento sempre que for preciso.


Eu mostrei a casa para Build. A sala, a cozinha, nosso quarto. Eu sabia que ele não lembraria, mas enquanto estivessemos ali dentro, eu sempre estaria do lado dele para que ele não se perdesse e nem se assustasse por estar em um lugar "desconhecido".


- Esses somos nós. - Mostrei a ele os quadros de fotos que haviam em nossa comôda.


- O que estávamos fazendo nesse dia? - Ele apontou para um quadro.


- Fomos tomar sorvete, você estava reclamando o dia inteiro de calor e me fez te levar em uma sorveteria.


- Sério? - Ele sorriu. - E nesse? - Build apontou para outro quadro.


- Esse foi o dia em que te pedi em namoro. - Meus lábios esboçaram um sorriso ao me lembrar do dia.


- Somos namorados? - Ele estava surpreso.


- Somos noivos. - Mostrei a ele nossas alianças novamente. - Temos um gato também, você quer ver?


- Sim! - Ele sorriu animado. - Posso ver?


- Claro. - Procurei nosso gato pelo quarto e o achei deitado do lado do guarda-roupa. - Este é o Bubble, ele é fofo, não é?


- Bubble? - Ele pegou Bubble no colo.


- Sim, é a junção dos nossos nomes. - Build me olhou confuso. - Seu nome é Build e meu nome é Bible. Bubble.


- Desculpa esquecer seu nome.


- Não precisa se desculpar. Você gostou do Bubble?


- Gostei, sim, ele é muito fofo. - Build fez carinho no felino. A maneira que ele olhava para o gato como se fosse a primeira vez o vendo me doía.


- Foi você quem o adotou e escolheu o nome. - Fiz carinho na cabeça do Bubble. - Você sempre quis ter um gato e insistiu para que eu deixasse você adotar um, mas você sabia que eu amava gatos também e que eu não iria negar. - Eu queria que ele soubesse dessas histórias, mesmo que somente por um minuto, eu tinha esperanças de que contar as histórias para ele o ajudaria a desbloquear algumas memórias. Não costumava funcionar.


- Então esse gato é meu? - A maneira como ele sorria empolgado a cada pergunta era adorável, mesmo quando a pergunta já havia sido feita várias vezes antes, eu continuava achando seu sorriso a coisa mais fofa do mundo.


- É nosso. Nós somos uma família.


- Eu sou da família de vocês? - Seus olhos lacrimejaram, como se ele tivesse encontrado seu lar após dias perdidos.


- É, sim, Biu. - Segurei seu rosto e acariciei sua bochecha com o meu polegar. - Então não precisa ter medo e nem se desculpar por nada, nós dois, eu e Bubble, estamos aqui para cuidar de você e te amar. - Aproximei nossos rostos e selei nossos lábios rapidamente.


Eu não sabia o motivo, mas talvez por esquecer suas memórias de quando adulto Build agia de maneira mais vulnerável e sensível. Feito uma criança. Ele sempre teve um coração imenso e sempre foi gentil, mas eu conseguia perceber como ele estava agindo de maneira mais ingênua e pueril a cada pergunta e descoberta sua.

Eu tratava ele de maneira mais carinhosa que o comum, com cautela. Eu queria o proteger. Não era exatamente o mesmo Biu de sempre, mas continuava sendo o meu Biu.E eu não deixaria nada o machucar.

Até você se lembrar de mim - BibleBuildOnde histórias criam vida. Descubra agora