Capítulo 9

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— Eu sei o que você vai me dizer — disse Nick sem saber distinguir se sentia mais frustração ou raiva.

Ele estava parado no parque bem em frente da saída do hospital.

— E o que é que vou dizer? — disse André — Você sempre fica na defensiva, achando que vou encontrar uma razão pra te criticar.

Então se virou para encará-lo.

— Bom, os precedentes existem — Nick respondeu em tom sarcástico.

Uma parte dele se sentia grato por André estar de volta, mas agora estava cego de ódio e não conseguiu se segurar.

— Nicolas... — ele começa, indicando que tinha ficado sério — Não me importo com o que fazem fora das quadras. Pra dizer a verdade não tem muito que eu possa fazer a não ser aconselhar, como sempre faço. Um colega se machucou, e você sentiu que lhe devia uma vingança...

Nick odiava como André era sempre tão compreensivo. Talvez porque isso o lembrava de seu próprio pai; o tom em sua voz, o jeito paternal com que cuidava de todo mundo.

— Você alguma vez pensou nas consequências? — perguntou André — Você parou e pensou por um segundo?

Não, ele nunca pensava. André se aproximou.

— A questão é que você transforma tudo num problema e quer resolver tudo do seu jeito. Eu sei que você acha que são os outros que não conseguem separar as coisas, mas é você que não consegue.

Aquelas palavras eram como pedradas. Ele continuou:

— E você continua magoando todos que se importam com você porque não consegue olhar pro passado e se perdoar. Você não deixa ninguém entrar, Nick. Quer mesmo viver assim pra sempre?

Nick continuou parado, tentando absorver tudo aquilo. André deu alguns tapinhas em seu ombro.

— Te vejo por aí.

Nick colocou as mãos no bolso da sua jaqueta, antes de sair, segurando o objeto firmemente, pensando na hora certa de entregar aquele presente para Alan.


✦✧✦✧✦


Mais tarde, Nick ficou flanando pelas redes sociais sem prestar atenção em nada de fato. Abriu a caixa de inbox e viu dezenas de mensagens não respondidas; a maioria perguntando onde ele estava, porque não respondia mais as mensagens, mas ele simplesmente não tinha mais vontade de responder a ninguém. Qualquer outro dia, bastaria fazer um uni-duni-tê e escolher alguém para dar uns pegas. Mas da última vez que havia feito isso, a garota já estava sem blusa em cima dele, e ele simplesmente perdeu a vontade. O que podia fazer? Só pegou suas coisas e foi embora, esperando que ela esquecesse o ocorrido, afinal era só um contato de Instagram.

Uma mensagem pipocou na tela:

Sophia:
Estamos indo comer comida mexicana. Bora?

Nick:
Não sei se tô muito afim.

Sophia:
É naquele restaurante que fica no centro... aquele que o Alan tá trabalhando.

Nick:
Como assim? Ele trabalha lá?

Sophia:
É, a gente quer passar lá e zoar um pouco com ele. E disseram que a comida é boa também, mas de boa se não quiser ir.

Nick:
Eu vou. Encontro com vocês no portão.

O restaurante era pequeno, mas aconchegante. Já a decoração incluía paredes coloridas, cactos e caveiras mexicanas. Sentaram numa mesa mais ao fim do salão e logo depois, Alan apareceu. O uniforme era elegante — camisa vermelha e calça preta, com um avental comprido preso na cintura. Ele estava com a cabeça baixa terminando de anotar algo num tablet quando disse:

Lugares VaziosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora