Capítulo 1: Anjo Caçador

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O teto de madeira aos poucos foi entrando em foco. Eu não sabia onde eu estava ou como fui parar ali. Me mexi levemente na cama desconhecida, sentindo uma fisgada no abdômen. Ergui os lençóis, vendo que todo o meu torso estava enfaixado. Desesperada, olhei ao arredor, notando as características rusticas do quarto onde eu estava. Ao meu lado, na mesinha de canto, uma jarra com água gelada escorria gotas pelo vidro. Por conta da garganta seca, não hesitei em me servir.

- Não foi um sonho. - Digo, tocando nas faixas ao arredor do abdômen.

Devagar, coloquei as pernas para fora da cama. Percebi que elas não estavam tão firmes como antes. Apesar de sentir um forte incomodo nos ferimentos, me apoiei nos móveis para que pudesse chegar até a porta. Quando estava na metade do caminho, o grande espelho na parede direita refletiu minha imagem. Desacreditada, me encarei por aquilo que pareceram horas. Eu estava usando somente um sutiã e a calça do uniforme da biblioteca Central. Minha aparência estava tão pálida e doentia quanto um cadáver que havia decidido levantar da cova. Reconheci minha camiseta azul pendurada no cabideiro próximo ao interruptor. Apesar de estar furada, ela estava limpa e sem nenhuma mancha de sangue. Me vesti devagar.

- Mas que merda.

Saindo dos aposentos, dei de cara com uma sala de estar com aparência simples. O piso, as paredes e o teto eram feitos de madeira. Uma poltrona vermelha e surrada estava no canto, em frente à TV e uma tigela de cereal havia sido largada na mesa de centro. Decidida a sair dali, me apressei até a porta da frente.

- Você não deveria estar acordada, humana.

Dei um sobressalto ao escutar a voz feminina atrás de mim. Me virei de imediato, apesar da dor, vendo assim a mesma loira de antes, usando as mesmas roupas. A única diferença visível era que seu rosto e botas tinham leves sinais de terra. Presa em suas costas, a espada de bainha escura se destacava.

- Quem é você? - Exigi saber, recuando alguns passos.

Ela suspirou.

- Os seus ferimentos não estão totalmente curados, ficar andando por aí pode abri-los, o que não será agradável.

Apontei para as minhas ataduras.

- Você fez isso? Cuidou de mim?

- Eu fiz muito mais do que apenas cuidar de você, humana.

Franzi as sobrancelhas. Aquela conversa estava fazendo com que minha cabeça doesse.

- Por que você fala desse jeito? Me chama de humana como se você não fosse.

A garota se aproximou e eu não tive forças para recuar.

- É melhor que você fique com sua ignorância, será mais seguro e me poupará trabalho - Ela colocou meu braço sobre seu ombro, fazendo com que eu me apoiasse nela - Agora vamos. Você precisa descansar.

- Eu não posso ficar aqui! - Tentei me desvencilhar dela, mas parei ao sentir a dor pelo esforço - Você é uma completa estranha, que fala coisas estranhas e que tem uma espada estranha, seria loucura passar mais um minuto com você.

Ela me ignorou, voltando a me guiar em direção ao quarto.

- Se está preocupada com seu filho, pode ficar tranquila, irei resolver isso hoje mesmo.

- Filho? - Eu perguntei, enquanto ela me ajudava a deitar na cama novamente.

- Sim - A garota diz, abrindo as janelas do quarto, deixando uma brisa fresca entrar - Você é uma mãe solteira, então deve ser muito difícil.

Eu encarei os lençóis da cama por alguns segundos, me perguntando se por acaso ela era louca.

- Do que diabos você está falando?

Hunter Angel | JENLISAWhere stories live. Discover now