Capítulo 8 - Quando Agosto Acabar

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Marceline se jogou no sofá, e ficou observando Bonnibel sentar na poltrona ao lado. Do jeito que os móveis estavam dispostos, parecia que ela estava em um divã para ser analisada pela mulher. Tão irônico.

- Posso dar uma lida no que você já tem aí?

- Claro.

Bonnibel entregou o notebook para Marceline, que o pegou com um cuidado nada típico dela. Como se fosse algo importante, muito importante.

Marceline gastou alguns minutos lendo os esboços do que viria a ser o manuscrito final da sua biografia, tentando evitar a sensação de que aquilo era muito estranho.

De repente, ela se sentou e ficou encarando a tela. Um trecho específico, com um olhar indecifrável que deixava Bonnibel gradativamente mais ansiosa.

- "Com dezoito anos de idade, Marceline é uma força natural não catalogada. É o quinto elemento, tão indispensável e insubstituível no que se dispõe a fazer, que não se deixar contagiar se torna um trabalho digno de Missão Impossível" - ela leu em voz alta, numa cadência meio trancada na garganta, como se não tivesse muita noção de como falar daquela maneira de si mesma.

Bonnibel sentiu o calor subir ao rosto, se arrependendo de imediato sobre cada vírgula daquele trecho.

- Você acha mesmo isso?

- Não estou sendo paga pra mentir, Marceline. O texto funcionaria perfeitamente sem qualquer percepção pessoal nele. Se está aí, é porque acho.

Marceline olhou para ela, e pela primeira vez a pergunta ficou estampada nos olhos dela, agitada demais para poder disfarçar.

Então porque diabos você sumiu, Andrews?

- Você sabe que é ridiculamente boa no que faz, não sabe?

- É o que dizem.

- Olha onde você chegou, Marceline. Não é só o que dizem.

- Você sabe que tem muita gente bem medíocre que é gigante no mercado, né?

- Sei, sim. E nenhum deles se chama Marceline Abadeer. Você não passa nem perto da mediocridade, garota.

- Ei, olha o tom!

A essa altura, Bonnibel já tinha o notebook de volta em seu colo, mexendo em uma ou outra coisa do texto. Sua resposta se limitou, inicialmente, a um olhar por cima da armação do óculos, de repente cortante, um ar de ameaça quase imperceptível - se você não tivesse repertório o suficiente.

- Perdão?

Foi como ter o ar da sala sugado de um segundo para o outro. Marceline tinha baixado a guarda. Muito mais do que deveria.

As memórias felizes, o jeito como elas se diluíam em tristeza quando Marceline lembrava onde elas culminavam: aquilo já era complicado, mas controlável.

Mas o jeito como Bonnibel começou a dançar livre, quase de forma selvagem na memória dela... Aquilo era somente perigoso.

Muito perigoso.

Conhecia aquele tom de desafio, e ela sempre havia sido tão fraca por ele.

Nunca saberia dizer de onde tirou forças para resmungar qualquer coisa e se limitar à um gole a mais no whisky esquecido na mesa de centro.

Depois de um tempo, ela afastou a mesa de centro e se deitou no chão, com as pernas jogadas no sofá. Soltou um suspiro derrotado.

- Andrews?

- Sim?

- Acho que não estou no clima pra trabalhar agora. Eu sinto muito.

- Tudo bem. Estamos com um ritmo bom, você pode descansar hoje.

Depois da Meia-Noite (Bubbline AU)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora