Capitulo 6

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Quando acordei minha cabeça latejava de dor, eu estava deitada numa cama muito confortável dentro de um quarto enorme e muito chique, as cortinas estavam fechadas e havia muitas malas perto da porta, tentei me levantar mas lembrei do tornozelo quebrado então desisti da ideia, eu não me lembrava de ter chegado naquele lugar e obviamente não era um leito de hospital, no criado-mudo ao lado da cama havia um copo com um liquido dourado e ao lado dele um bilhete que dizia " Beba isto, vai se sentir melhor" resolvi aceitar o conselho e tomei um gole, o gosto era delicioso, e estranho, pois tinha gosto da torta de pêssego que minha mãe fazia quando eu era pequena, sempre que eu me machucava brincando, ela fazia essa torta pra me fazer sentir melhor e eu me lambuzava inteira, e ela me chamava de barba de torta. Lembrar dela me fez querer chorar novamente, cobri meu rosto com a coberta e voltei a chorar até adormecer.

Acordei bruscamente com o barulho de um apito agudo como de um navio, não sabia onde eu estava, mas provavelmente estava num hotel perto do porto, mas o barulho estava muito perto quase como se viesse do próprio prédio, foi quando percebi o que estava acontecendo, levantei rapidamente, corri até as janelas e escancarei as cortinas e então levei um susto, eu estava em alto mar, o sol estava alto então significava que era meio dia ou um pouco mais, foi quando percebi outra coisa, eu estava de pé , sem muleta e a tala havia sido removida, minha perna estava curada, mas eu não sabia como, era um ferimento que levaria meses para se curar, então comecei a pensar em a quanto tempo eu estava naquele navio.

Sentei na cama para pensar no que havia acontecido, mas eu não lembrava de quase nada, era tudo um completo borrão, como se alguém tivesse passado uma borracha na minha mente, eu lembrava apenas de fragmentos. Olhei para o enorme mar azul através da janela, eu estava começando a odiar o mar, sem contar que eu estava começando a ficar enjoada, fui até a janela e fechei as cortinas bruscamente.

-Não quero te ver nunca mais!- disse para o mar, como se ele fosse alguém que pudesse me ouvir- Você só me trás lembranças dolorosas!- encostei a cabeça na janela e apertei com força as cortinas.

Sentei no chão perto da janela e abracei as pernas para esconder os olhos cheios de lagrimas, revirei minha mente em busca de respostas mas eu não encontrava nada que pudesse explicar o que havia acontecido, foi quando alguém bateu na porta, eu resolvi ignorar, mas essa pessoa era insistente, ficou batendo na porta até eu me irritar e atender. Era uma moça sorridente e uniformizada, provavelmente uma comissaria de bordo, seus cabelos escuros estavam presos num coque e tinha olhos tão intensos que era difícil não olhar.

-Boa tarde senhorita! meu nome é Whitney, e vim aqui para garantir sua diversão no nosso cruzeiro, qual é o seu nome?

-Rebecah Andrews- digo sem me animar muito.

Ela dá uma olhada numa prancheta cheia de papéis.

-AH! achei Rebecah Andrews , onde estão seus pais minha querida?

Eu serrei os punhos, tive vontade de socar a cara da mulher, ela tinha que mencionar aquela palavra com p.

-Eu sou órfã, não tenho mais pais- as lagrimas queriam rolar novamente mas me segurei.

-Ah, sinto muito pela sua perda -diz ela fazendo uma cara falsa de ressentimento.- Eles ainda estão vivos dentro de você!- eu queria bater a porta na cara dela, isso era a ultima coisa que eu queria ouvir, falsos ressentimentos, falsas caras de tristeza, eu não aguentava mais essas pessoas falsas e hipócritas, dizendo que sentiam muito pela minha perda, sento que não davam a minima pra minha dor.

-Eu estou bem, mas não preciso de nada, obrigado!- digo secamente.

- Mas não é o que diz seu planejamento!- diz ela sorrindo como se isso fosse uma piada engraçada- Segundo isto você se atrasou para dois eventos nos dois primeiros dias da viagem.

-Não estou em clima de festa- digo já fechando a porta- como já disse antes, não estou precisando de nada, agora se me der licença, vou voltar aos meus aposentos.

- Mas...- fecho a porta antes dela ter tempo pra dizer alguma coisa.

No quarto havia um enorme espelho, no qual eu vi meu reflexo e não gostei nada do que estava vendo, minhas roupas estavam em farrapos, eu estava limpa pelo menos( eu havia pegado um pano molhado na delegacia e removi toda a fuligem que cobria meu rosto, braços e pernas), mas completamente horrível, parte do meu casaco estava queimado, meu cabelo parecia um ninho de ratos, havia curativos espalhados por todo o meu corpo, e metade da minha meia calça estava rasgada, sem contar que não achava o outro par do meu sapato, resolvi então esquentar um pouco de água para tomar um banho, depois do banho resolvi buscar naquelas malas algo limpo que eu pudesse vestir, e para a minha surpresa naquelas malas só havia roupas minhas, nenhuma peça do meu guarda roupa estava faltando, como se aqueles advogados bobos, tivessem passado na minha casa para pegar tudo no meu guarda roupa.

Depois de um banho breve e de ter vestido roupas limpas, resolvi ler alguma coisa, comecei a procurar naquelas malas um livro que eu tinha jogado no meu guarda-roupa, na esperança de que eles tivessem colocado na mala também, até que vi o meu casaco, e dele tinha uma pequena ponta de papel saindo para fora do bolso esquerdo, peguei o papel e percebi que era a foto que eu havia pegado no meu criado-mudo, desdobrei ela e quase voltei a chorar, olhei para os criados-mudos e encontrei um porta- retrato do tamanho perfeito, tirei a foto sem sentido de uma bicicleta amacei e joguei fora, coloquei a foto no porta-retrato e virei para mim, deitei na cama ainda observando o retrato dos meus pais que seriam minha unica companhia nessa viagem que mais parecia um pesadelo muito ruim.

A filha de HadesDonde viven las historias. Descúbrelo ahora