18. Espaço vazio

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Os vestígios das rachaduras deixadas por James e Victoria persistem como feridas não cicatrizadas, sangrando emocionalmente em um espaço profundo e invisível dentro de Mia. Ela compreende com clareza que precisa descobrir um antídoto para essa dor, ou então não teria a capacidade de manter-se firme para proteger e sustentar sua própria família, um compromisso inabalável em meio à incerteza que permeia sua existência.

— Preciso partir — sussurrou ela, a voz carregada de exasperação, seus olhos buscando desculpas nos vincos franzidos de sua testa enquanto enfrentava o pai.

— Eu entendo — respondeu Carlisle com um suspiro profundo.

— Entende? E não vai tentar me reter? — indagou, desafiadora, a esperança relutante cintilando em seus olhos.

— Seria eficaz? — a voz suave do homem pairou no ar. — Eu conheço você muito bem, Amélia. Suficientemente para compreender que nem mesmo o respeito que nutre por mim poderia conter a tempestade que carrega consigo. — ele apontou delicadamente para o coração gélido dela, fitando-a com ternura. — Você sempre teve a liberdade para partir. Mas, por favor, prometa que nunca deixará de retornar para nós.

— Jamais — ela balançou a cabeça suavemente. Se pudesse, lágrimas encheriam seus olhos agora. — Por toda a eternidade.

   Carlisle abriu os braços e Mia se aninhou ali por um momento, encontrando conforto naquele abraço que acalmava as tormentas internas. Antes de se separarem, Mia ergueu o rosto.

— Por favor, mantenha isso em segredo dos demais — ela sussurrou com suavidade. — Não estou pedindo que minta, sei que você não faria isso. Mas poupe-os enquanto puder — ela recostou novamente o queixo no ombro dele. — Vocês precisam descansar agora.

— Se isso trouxer paz a você, assim seja.

  O suspiro de Mia se perdeu no ar rarefeito da cabine do avião, ecoando seus próprios pensamentos. As palavras finais de despedida de Carlisle ainda reverberavam em seu âmago, formando uma melodia dolorosa que se recusava a desvanecer. Enquanto as nuvens flutuavam lá fora, ela sentia o peso daquele momento singular se enraizar em sua consciência, transformando-se em uma lembrança indelével que seria entrelaçada com as fibras de sua existência, um fio delicado e imortal que a conectaria para sempre à sua família.

Mia foi guiada por seu instinto de volta a Forks. A cidade, envolta em um manto de penumbra, parecia uma extensão sombria de sua própria hesitação. A ideia de procurar Edward na distante América do Sul se dissipava como fumaça, sua futilidade ecoando em seus pensamentos como um eco desesperado. Nesse impasse, ela se sentia enredada em um emaranhado de impossibilidades, cada passo em qualquer direção parecendo uma jornada sem propósito, um esforço fadado ao fracasso antes mesmo de começar.

Muitos contornos da existência de Edward Cullen já não pareciam justificar a dor, refletiu Mia, enquanto se deixava afundar em um mar de reflexões. Os traços que outrora encantaram agora eram sombras pálidas do que haviam sido. Como haviam chegado a esse impasse amargo? Ela se perguntava em silêncio, a mente envolta em um nevoeiro de dúvidas e incertezas. Mesmo Isabella, antes o epicentro de suas acusações, não ocupava mais todo o espaço de culpabilidade em sua cabeça. Era como se a narrativa que outrora havia sido tão nítida e clara agora se transformasse em uma impenetrável trama de tecidos emaranhados e desfeitos. Talvez, em algum ponto, Mia e Edward se perderam irremediavelmente, com ou sem a influência da Swan.

Mia deixou escapar um suspiro enquanto seu olhar se perdia agora pela janela do carro, absorvendo a paisagem familiar que se desdobrava diante dela. A Península Olympic se estendia em toda a sua serenidade inalterada, imutável mesmo após os meses turbulentos que haviam se desenrolado desde a partida dos Cullen, trazendo consigo uma espécie de conforto.

❛CHOICES ── Crepúsculo ❥ [Seth C.]Where stories live. Discover now