Owen Courts vai dar uma festa.
A primeira festa desde que oficialmente se tornou o último cara a passar do noivado para o casamento — porque o penúltimo fui eu, chegando a noivar, mas desfazendo o compromisso algum tempo antes do casamento por incompatibilidade; ela queria 0 e eu queria 1. Demoramos para descobrir onde estavam as respostas para essas expressões serem incompatíveis com o que vinhamos planejando.
Mas, Owen decidiu por conta própria — e sem coleiras — que iria se casar com a garota da agência de viagens e, recentemente, se casou no cartório sem muitas cerimonias.
Eu aproveitei a oportunidade para, obvio, arrastar Maclara para uma festa em pleno domingo à noite sabendo que ambos tínhamos trabalho na segunda logo cedo.
Bom, ela aceitou. Se não aceitasse eu ficaria bastante baqueado.
Nosso ciclo de amizades era bem restrito, tanto o dela quanto o meu, então, todos éramos amigos e nos entendíamos bem quando nos encontrávamos nos mesmos lugares. Inclusive foi ela quem arranjou Kira, agora esposa de Owen.
Chegamos a casa dele lá pelas 18h e já estava tudo pronto e muito bonito. Como era um dos mais jovens do nosso grupo, ele ainda morava com os pais, mas era um cara responsável e que sabia o seu lugar na sociedade porquanto o trabalho medíocre só pagava os estudos em Redes, a moto nova e o que ele achasse interessante.
A casa deles, como muitas em Dublin, tinha um estilo inglês com vidraças laterais, corrimões em madeira entalhados, potes de plantas e corredores divididos por arcos, além de escadas que levavam aos anexos entre os cômodos comuns. Na cozinha, alguns dos convidados conversavam entre si e eu e Maclara fazíamos o mesmo na sala de visita, ao lado da lareira, nas poltronas reclináveis dos velhos.
Eu pedi um brinde com a nossa Guiness.
— Está relaxada.
— Com certeza — em um dos vestidos curtos, um branco rendado, eu adorava ver a brancura das suas pernas e pés perfeitos em uma sandália aberta. — Mas — ela virou a cabeça na minha direção. — Achei que fosse preferir trazer a sua nova amiga.
— Ela teve que trabalhar.
— No domingo à noite?
— Nunca se sabe quando haverá uma tela azul no servidor.
— Ela trabalha com o que?
— É estagiaria. Trabalha com vendas de acessórios de TI.
— Bem a sua cara.
— Pois é — olhei para o fogo. — Preferi trazer você.
— Me sequestrar, você quis dizer.
— Sem drama — bebi da minha garrafinha. — Você veio com as suas próprias pernas.
— Ok — ela riu um pouco. — Alias, precisamos tirar algumas fotos.
— Nossas?
— Yes.
— Mas você detesta tirar fotos de você mesma.
— E daí, vive o momento! — ela não praguejou, apenas se levantou e me agarrou pela polo azul, me forçando a levantar também e já pegou a câmera que estava descansando na mesa de centro.
Ela arrumou a minha roupa, o cabelo e a sobrancelha.
— Algo errado com a sobrancelha?
— Está torta.
— Oh.
E então se virou, apontou a câmera para frente, sorriu e eu sorri também, mas sem mostrar os dentes.
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