Capitulo 1

135 9 19
                                    


— Cidade de Dublin, Irlanda ­— 2014 d.C

A faixada do colégio era um prédio de cinco andares esculpido em blocos concretos brancos, janelas de vidro avermelhadas e uma marquise suspensa por grossas correntes.

Os alunos chegavam em seus carros ricos enquanto que eu, mais humilde, fazia questão de estacionar longe, no estacionamento dos funcionários onde cumprimentei alguns colegas de trabalho antes de seguir pela parte detrás do prédio rumo ao interior e em direção a sala dos professores onde as conversas eram ainda maiores e mais agitadas; todos nos preparávamos para mais um grande dia.

Eu abotoei as minhas roupas em frente ao espelho e conferi se tudo estava no lugar; a barba bem-feita (sem nada que não fosse laranja), os cabelos lisos e espessos penteados para trás e o brilho nos olhos que combinavam com o meu anel de esmeralda favorito; usava para não dar tanta trela de que morava num AP alugado, dirigia um carro comum e que a coisa mais valiosa em mim eram os ternos ponta-de-estoque.

Sou soberbo? Um pouco. Vaidoso, bastante. Com dinheiro? O suficiente para uma aposentadoria satisfatória — se nada der errado daqui até o fim da minha vida, claro.

Por que todo homem quando chega aos quarenta começa a pensar em muitas coisas, sobretudo nos cabelos brancos? Aposentadoria? Estabilidade?

Bem, eu tenho isso — não os cabelos brancos e a aposentadoria, mas estabilidade; financeira e emocional.

— Senhor Miller.

— Mr.Anderson — disse ao meu bom amigo, que ladeou comigo e parecia deveras pensativo. — Vai dizer ou vou ter que perguntar?

Shao Anderson (ou Mister Anderson) como chamávamos aquele cabeçudo da informática que se deu bem e foi promovido a gerente de tecnologia da colégio recentemente era um dos caras mais interessantes, respeitados e amistosos que conheci na vida.

Um asiático de estatura mediana e de cabelos grisalhos, sem barba, o corpo em forma e a pele brilhante (no bom sentido) se vestia bem, se comportava bem, falava bem. Ele era o cara em que outros caras queriam se inspirar. Claro, como todos nós, não era milionário mas tinha o suficiente para comer no Pildes — um restaurante renomado — no começo do mês com a esposa e os dois filhos perfeitos.

— O que dar de presente de dez anos para a sua esposa que tem tudo?

Olhei para ele, confuso.

— E eu sei lá — encostei a porta do meu armário. — Por que está me perguntando?

— Eu não sei, você é o solteirão por obséquio dentre a maioria dos professores da White Star e acreditei que, sendo tão cabeção quanto eu poderia pensar em algo criativo para uma mulher que não come nada animal, odeia produção em massa, já tem dois filhos, casa e carros.

— É, você tão razão. É difícil agradar alguém que tem tudo — enfiei as mãos no bolso, seguindo para a mesa retangular de cafés onde nos sentamos um de frente para o outro antes de começarmos a nos servir. — Eu não sei, Mr.Anderson, que tal uma viagem?

— Ela trabalha muito. Agenda cheia de eventos para organizar.

— Uma massagem?

— Eu faço isso de graça.

— Um vibrador novo?

Ele riu falsamente.

— Ela já tem alguns. Alguns bem caros e tecnológicos, inclusive.

— Desculpa, então... não sei. Da um computador para ela.

— Não, Athos. Eu vou pensar em algo melhor, com certeza.

Professor Athos | Exclusivos AmazonWhere stories live. Discover now