CAPÍTULO 09: Conflitos internos, Parte 1

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Quando Isabelle não fez qualquer menção de entrar no aposento, o duque colocou um pouco mais de pressão em suas costas, incentivando-a a seguir adiante. A biblioteca era um lugar amplo, aconchegante e não representava qualquer sinal de perigo. Apenas estantes, dezenas delas, comportando livros de toda a variedade de temas e certamente mais do que uma pessoa poderia ser capaz de ler ainda que dedicasse a vida inteira a isso. Quando esquadrinhou o recinto com mais atenção, os olhos dela pousaram na mesa próxima da lareira, e um segundo depois recaíram nas duas jovens sentadas. As garotas se levantaram, tal como ditava os bons modos, e Isabelle pôde ter uma visão melhor de suas figuras.

A primeira parecia ter acabado de sair da infância. Tinha a estatura baixa e delicada mesmo para uma moça daquela idade, cabelos extremamente claros e olhos de um azul encantador. A boca pequena formada por lábios finos e avermelhados estava esticada em um sorriso largo.

— Esta é minha irmã caçula, Camille — apresentou  o duque gesticulando sutilmente em direção a ela.

A duquesa nem mesmo teve tempo de cumprimentar a cunhada antes que ela se aproximasse e lhe envolvesse em um abraço apertado. Apesar de inicialmente haver se sobressaltado com o gesto inesperado, Isabelle não demorou a se sentir confortável e acolhida dentro daquele abraço, e passada a surpresa ela não hesitou em retribuir a demonstração de carinho.

Quando Camille se afastou, ela pôde ter uma visão melhor de seu rosto. Seu olho esquerdo não era totalmente azul; em torno da pupila havia uma manchinha esverdeada que se espalhava e dominava gradativamente toda a íris. Era algo discreto, sequer podia ser visto a menos que se estivesse a uma distância bem pequena, e sem sombras de dúvidas era fascinante.

— Estava louca para conhecer você! — exclamou Camille alegremente. — Queria ter podido ir ao casamento, mas William acha que sou jovem demais para comparecer a eventos sociais. Mesmo quando o evento em questão é o casamento de seu único irmão... — e ao dizer isso, lançou a ele um olhar rancoroso.

Isabelle não pôde deixar de sorrir, não por achar divertido qualquer tipo de rixa entre irmãos, mas por ser mais do que óbvio que aquela menina não era capaz de fazer mal a uma mosca.

— Foi você quem pintou a rosa que ganhei no velório do meu pai, não foi?

O rosto de Camille ficou ainda mais iluminado que antes, encantada pela cunhada ainda se lembrar.

— Como adivinhou?

Isabelle não disse nada, apenas apontou para a mão esquerda dela, colorida — manchada — em diversos tons de violeta e azul.

— Ah — fez Camille, envergonhada, escondendo a mão atrás das costas. — E você gostou da rosa?

— Eu a guardo dentro do meu livro favorito até hoje.

— Jura?

— Ela está quase irreconhecível, metade das pétalas já se desintegraram — continuou a duquesa, contagiada pelo entusiasmo da outra. — Mas ainda cumpre com excelência sua função de marca-páginas.

— Você tinha razão, Will — admitiu a mais nova, voltando-se ao irmão. — Eu a adorei.

Isabelle estava tão envolvida na companhia da menina que só lembrou da presença do marido quando foi citado por ela, só então se dando conta de que ele ainda estava ao seu lado, com a mão em seu ombro.

— E esta é Celeste — prosseguiu William, chamando-lhe a atenção para a quarta pessoa naquele aposento. — Celeste Spencer, nossa prima.

Isabelle assentiu devagar, analisando a figura da jovem com o máximo de discrição que sua curiosidade permitiu. Ela pertencia à sua faixa etária, mas possuía uma beleza mais exótica se comparada aos padrões da época. Tinha cabelos negros, lisos e brilhantes. Sua pele era de uma tonalidade mais escura, talvez causada pelo hábito de ficar mais tempo exposta ao sol do que as damas inglesas costumam passar. Seus olhos de um azul quase metálico eram acentuados por cílios longos e volumosos, e sua silhueta era muito provavelmente a mais esbelta e curvilínea que Isabelle já tinha visto na vida.

Com amor, IsabelleWhere stories live. Discover now