Londres, Inglaterra. 20 de Julho de 1810.
O dia havia começado indiscutivelmente mais triste na fria e cinzenta cidade de Londres. No centro de um salão que aos poucos se tornava um aglomerado de pessoas, um caixão era visto. Ao lado dele, uma silhueta delicada se fazia presente, tão fragilizada que parecia a ponto de quebrar-se a qualquer momento.
Aquele foi o mais sufocante abraço que Isabelle já recebera da morte, mas não foi o primeiro. Longe disso. O primeiro ocorreu quando ela tinha não mais que cinco anos, tendo surgido em forma de uma carta vinda da Inglaterra. Seu avô havia falecido, e o seu pai precisava retornar ao lar para assumir seu lugar como o mais novo Conde de Greenshire.
A pequena família composta unicamente por ela e seus pais, Edgar e Aurélie Green, zarpou de Paris no dia seguinte, deixando para trás a primeira vida que Isabelle conheceu. Ela ainda era capaz de lembrar-se da primeira vez que viu sua avó, uma senhora de longos cabelos cor de mogno chorando a morte do marido nos ombros do filho. A condessa viúva permaneceu morando com eles na Casa Green e foi como uma segunda mãe até sofrer um infarto quando a menina tinha oito anos.
Foi o primeiro contato real que Isabelle teve com a morte, e recordava-se com perfeição do velório e enterro. Recordava-se, inclusive, de ter ficado entre seus pais, segurando a mão de cada um enquanto assistia o caixão ser descido lentamente na cova recém-aberta, no cemitério da família, em Greenshire. Mas, talvez o mais importante, Isabelle recordava-se da prece que fizera enquanto o caixão era coberto de terra. Pedira a Deus que, por favor, nunca a deixasse sentir a dor que seu pai estava sentindo.
Deus, porém, talvez estivesse ocupado naquele momento, pois infelizmente sua prece não foi atendida. Quando o corpo pequeno e magricelo começara a se tornar esbelto e adquirir suas primeiras curvas, sua mãe os deixou. Aquilo fez com que Isabelle percebesse que a perda sentida anteriormente havia sido nada. Foi a primeira vez que sentiu como se seu coração fosse arrancado do peito e pisoteado furiosamente por uma manada de búfalos, e enquanto assistia o caixão da mãe ser enterrado, a sensação que tinha era de que também estava o sendo.
E se alguém foi capaz de lamentar a morte da condessa mais que sua filha, certamente foi seu marido. Nunca mais quis outra pessoa, abdicou da vida entre a nobreza, deixou até de frequentar as missas.
O conde e a filha mudaram-se em definitivo para o lar ancestral da família e lá permaneceram por três anos. Àquela altura, sua única preocupação era achar para a moça um bom marido que pudesse garantir-lhe o sustento quando ele viesse a partir. Foi por esse motivo que retornaram a Londres quando Isabelle tinha dezoito anos, ela foi apresentada à rainha formalmente em um baile de debutante e naquela mesma noite teve seu coração roubado.
O jovem Leonard Albers, terceiro filho do Marquês de Granville, não precisou de mais que um sorriso para encantá-la. Não era apenas a beleza inquestionável, havia também o olhar doce, o sorriso caloroso e sobretudo a sensação de pertencimento que ela sentia em sua companhia. Uma dança, uma única dança foi o suficiente para que Isabelle se apaixonasse, e ela foi abençoada com a sorte de ter o seu amor correspondido.
Eles viveram semanas maravilhosas de cortejos e passeios pelo parque, nos quais as risadinhas apaixonadas eram a música predominante. O simples ato de caminhar de braços dados a deixava eufórica, e haviam sempre aquelas árvores mais afastadas que, por um curto espaço de tempo que duravam dois passos ou três, os ocultavam de todos os olhos. Era nesses momentos que podiam enfim cometer a loucura de selar seus lábios em um beijo apaixonado.
Dois jovens inconsequentes. Por um breve período de dois meses, foi o que se permitiram ser.
Isabelle fez bastante sucesso no mercado casamenteiro de Londres, Leonard não foi o único a cortejá-la e já era esperado por todos que arrumasse um bom partido em poucas semanas. Uma moça formosa e de boa família... O que teriam a perder? Mas o jovem casal não teve tanto tempo assim. Lorde Edgar Green sofreu um terrível acidente de carruagem às vésperas do jantar planejado com a família do rapaz para discutir os termos do noivado. Hemorragia interna foi a verdadeira causa da morte.
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Com amor, Isabelle
Historical FictionApós a morte do pai, Isabelle Green é forçada a se casar com o imponente Duque de Deville. Tudo estaria perfeitamente bem se não fosse por um pequeno inconveniente: Isabelle é apaixonada por Leonard Albers. Esse casamento estaria destinado ao eterno...
