<Capítulo Cinco>

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Pronomes? Bem, eu sei bem até sobre pronomes, mas eu uso pronomes femininos, ou eu só me acostumei com algo que me falaram? Mas, o Carlos disse que pronomes não tem nada haver com gênero... O que eu faço? Eu não tenho ideia do que fazer agora, eu acho que até faz um sentido aí eu ser um menino trans, mas, eu não pareço um menino! Tá que o que eu pensava era bem... Bem.
Mas continuo preferindo pensar que tem nada haver... Eu acho que gosto dos pronomes ele/dele, vou usar eles de vez em quando para ter certeza.
E será que não me abri demais com o Carlos ontem de noite falando sobre como me sinto com meu corpo? E se ele me expor... Não! Não posso pensar nisso! Positividade! Ele parece ser muito legal, tenho certeza que ele não faria isso! Bom... Quase certeza, e...
–Filha? Podemos conversar?–Minha mãe bateu na porta.
–Claro! Pode entrar, a porta tá aberta!
Pelo menos algo para me distrair.
–Tudo bem.–Ela entrou e caminhou até minha cama.–Seu tio me contou que você brigou com o Miguel ontem na escola.
–Mas mãe!–Arregalei os olhos e me levantei me apressando a me explicar.– Ele estava espancando a Olívia!
–Quem?–Ela franziu a testa.
–Ela é uma garota trans da minha sala! E mais cedo ele tinha xingado meus amigos e jogado água neles! Eu não me segurei e entrei em briga com ele! Desculpa, eu sei que você mandou eu não brigar com ele, mas eu não consegui me segurar!–Eu falei tão rápido, mas não quero decepcionar ela, espero que ela entenda.
–O seu tio disse que seu primo falou para ele que você tinha espancado ele do nada, tem certeza que foi isso aí que aconteceu?
–Pode perguntar para a Sra.Emily!
–A coordenadora?–Ela perguntou, conhecia várias Emilys.
–Sim! Ela viu tudo.–Falei cansado, Miguel costuma me fazer de vítima.
–Ok! Vou perguntar para ela, não se preocupe. –Ela disse calmamente e me beijou na testa.– Agora vai se arrumar para a escola! Tem quinze minutos!
Quinze minutos? Eu achava que faltava uma hora!
–Tá! Tchau mãe! Até mais tarde!–Levei ela até a porta e comecei a me arrumar em desespero para ser rápido.

[...]

Chegando na sala, vi Carlos usando um fone de ouvido, fui até ele.
–Oi! O que você tá escutando?
–Uma música.
–Disso eu imaginei.
–É Queen, conhece?–Ele mostrou o celular que estava conectado o fone.
–Se eu conheço? Eu amo!–ou viciada em músicas do Queen.
–Serio? Qual sua música preferida deles?
–Killer Queen.
–Eu acho essa muito boa, mas prefiro Bohemian Rhapsody
–Oi gente!–Disse Julia bem animada entrando na sala.–Tenho uma novidade.
Eu dei um sorriso.
–O que houve?
–Vamos ficar uma semana de férias!–Acho que nunca vi ela tão feliz por causa de feriado.
Isso me desanimou um pouco, mas tentei parecer alegre, esperei mais de um mês para as aulas voltarem, para no segundo dia ficarmos de férias por uma semana.
–Que legal, Ju!–Eu disse forçando um sorriso.
–Mas é na próxima semana, essa vai ter aula todos os dias da semana.
Ainda bem, pelo menos uma semana, depois volta ao normal, eu espero.
–Que bom! Eu acabei de conhecer vocês, ficar no feriado dois dias depois seria meio chato.–Comentou Carlos.–Então, querem ir na minha casa hoje jogar um jogo? Não tenho nada para fazer.
–Claro! Vou fazer um grupo de nós quatro e você passa o endereço, ok?–Julia falou, ela ama ir visitar os outros.
–Por mim tudo bem também!–Eu falei.
Espero que o dia hoje seja legal, preciso de algo para me distrair sobre o assunto de talvez eu ser um garoto trans...
–Por mim também tá tudo ótimo!–Disse Max atrás de mim, fazendo eu levar um baita de um susto!
–Ai Max! Que susto!
Elu riu.
–Meu talento natural.–Elu respondeu.
–Que horas vocês estão livres? –Perguntou Carlos.–Eu acho que vou estar livre as 13:00.
–Eu tô livre o dia todo.–Julia falou e nós concordamos.
–Então está combinado! As 13:00 na minha casa.
–Sim!... Por sinal, vocês fizeram a tarefa de matemática? Eu não tive tempo.–Disse Max, com um olhar "especial" delu.
–Eu fiz, mas deve tá tudo errado.–Eu falei.
–O que importa, é fazer.
–Você fez?–Julia perguntou ironicamente.
–Não, por isso tô pedindo, né oh, ser humana desprovida de inteligência.
–Ah é? E você! Seu filhe da...–Julia respondeu.
–Calada! Eu sou lindo.–Elu sorriu.
–Eu disse que você era feio, desgraça?
–Eles se xingam assim normalmente?–Carlos sussurrou no meu ouvido.
–É o jeitinho deles, no fundo, eles acabariam com qualquer um que fizesse mal ao outro, e protegem o outro a todo custo. Esses xingamentos é a forma deles de se expressarem.
–Isso é bom ou ruim?
–É bom, afinal de contas, os xingamentos são só brincadeira deles, se um passar dos limites eles conversam e falam que isso é demais, mas acho que isso só aconteceu uma vez, dois anos atrás.
–Nossa! Então é bem difícil de acontecer.–Ele tava quase dormindo na cadeira.
–Sim, eles sabem não passar dos limites.
–Que bom...–Tinha quase certeza que agora ele tava a um passo de dormir.
–Ei! Max! Podemos conversar?–Dei um sorriso de leve.
–Claro! O que houve?– Ele foi até mim.
–Me dá uma pista de como é o cara que você gosta? Eu sou curioso!
Julia ouviu.
–Max tá gostando de alguém? Quem?–Ela é tão curiosa quanto eu.
–É isso que eu quero descobrir!–Dei um sorriso de canto.
–É um menino da outra sala...–Max falou com um sorriso apaixonado.
–Eita Sr.Max! É o Matheus?–Julia mencionou ele simplesmente pelo motivo de que ele é a única pessoa que ela conhece da outra sala.
Max ficou olhando para nós duas por uns cinco segundos antes de falar qualquer outra coisa.
–Dessa vez? Não sei, acho que dessa vez não.
Eu franzi minha testa, confuso.
–Como assim "Dessa vez"?
–Já fiquei com ele...–A perna delu eu não parava de tremar e elu tava evitando contato visual.
Julia deu um sorriso surpresa, acho que ela esperava tudo, menos isso.
–Quando?–Ela perguntou animada.
–Na última semana de aula do ano passado...–Elu no momento estava com o olhar fixo no chão e uma mão na cabeça, e um sorriso meio bobo.
–Você tá gostando dele! Que legal! Tenho certeza que ele deve gostar de você também!–disse Julia, ela nos apoia muito quando a questão é gostar de alguém, em muitas outras.
–Olha, eu duvido muito, já que ele namora.–Ele parecia meio triste nessa hora.
–Ele namora? Eu não sabia disso, com quem?-Eu nunca nem falei com o Matheus, imagine saber que ele namora.
–Com uma demigirl bissexual da sala dele, ela é a pessoa mais insuportável que eu conheço! Eles começaram a namorar um dia depois da gente ficar.–ele parecia meio decepcionado.
–Sinto muito, Max, você acha gente melhor.–Disse Julia, lançando um olhar acolhedor e um abraço para elu.
-Sem problema, vamos mudar o assunto! Tenho fofoca.
–Conta!–Eu e Julia falamos juntas.
–Sabem o Miguel? Fiquei sabendo que um menino hétero cis do sexto ano que apoia a comunidade mais que tudo, ameaçou ele, minhas fontes dizem que o Miguel ficou com medo por pouca coisa e saiu correndo, e observações, esse garoto repetiu de ano algumas vezes, então meio que não foi uma ameaça vinda de uma pessoa bem mais nova, foi de alguém da mesma idade, e esse garoto é conhecido por arrumar briga e ganhar todas.
–Acho que conheço ele! Espero que ele acabe com o meu primo. Eu e esse garoto, se for quem eu estou pensando, somos muito amigos, é o Marcos não é?–Tenho quase certeza que é ele, então falei confiante.
–Esse mesmo!–Max responde sorrindo.
Alguém bate na porta da sala e abri logo em seguida, era ele e o meu primo. O que raios eles estavam fazendo juntos?

Qual Meu Problema?! Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon