<Capítulo Três>

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Miguel estava espancando uma menina da nossa sala, eu não falo muito com ela, mas sei que ela é uma menina trans, ela se chama Olivia, ela é muito legal, como será que ele descobriu? Será que percebeu e já foi xingando ela e resultou em violência... Tava com muito sangue, eu me senti desconfortável, mas tem uma coisa que eu senti mais que desconforto: Raiva e muito, mas muito ódio!
Quando eu fui perceber, eu já tinha partido pra bater nele, consegui ver rapidamente a cara dela sangrando.
–FICA LONGE DELA!–Eu gritei enquanto batia nele, não o dava tempo de revidar.
–Como você consegue apoiar essas aberrações? Eles merecem apanhar até morrer!–Ele disse confiante.
–Quem merece isso é você, seu filho da puta!
Ouvi a coordenadora chamando a gente, tentando parar a briga.
–Enlouqueceram? Parem agora! Miguel, você está de suspensão por uma semana partir da semana que vem! E você!–apontou para mim.– Entendo seu lado mas não irei poder te deixar sem punições, vai levar o dobro das tarefas.
–Ah não, você também apoia essas aberrações?–Ele perguntou para a coordenadora em um tom decepcionado.
–O que você falou? Eu sou bissexual, e não irei permitir esse tipo de comportamento na minha escola! Irei chamar sua mãe aqui, se não conseguirmos resolver isso, terei de lhe expulsar...
–O que? Eu posso ser expulso por ser normal?–Ele tava revoltado, e eu estava amando.
Consegui ver a cara dos meus amigos lá na porta, eles tavam felizes de ver o Miguel se ferrando, eu também estava.
Fui até eles e deixei a coordenadora Emily, dando uma bronca nele.
–Você arrasou! Sério! Eu tava com medo de me machucar pois ainda estou dolorido da outra briga, e provavelmente eu ia perder.–Disse o garoto.
–Ele tá certo, amiga, você foi incrível! Por sinal, eu não sabia que a Tia Emily era bi.–a Ju falou bem feliz.
–Sim!! Também fiquei em choque!–Max mencionou.
–Nossa sim!–Eu falei.– Por sinal, qual seu nome?–Perguntei ao garoto loiro.
–Carlos, e o de vocês? Por que talvez eu tenha esquecido de perguntar–ele riu sem graça.
–Me chamo Max! Prazer! Mas eu te disse isso antes, não foi? Ah, não tem problema, então, continuando. Aquela é a Júlia–apontou para ela.– E essa daqui, é a Maria.
–Olá, Maria, Max e Julia, posso ficar com vocês no intervalo? vocês parecem ser mais legais do que certas pessoas aí, se é que me entendem...
Todos rimos, e ficamos conversando sobre diversas coisas até a hora da aula

[...]

Finalmente! Chegou o intervalo! Não aguentava mais ouvir o professor falando sobre matemática, os exercícios também estavam cansativos! E muito! O Carlos fazia cada exercício em menos de um minuto... Ficava olhando o o livro dele de vez em quando para ver a resposta, ele percebia as vezes e explicava, o que não adiantava muito, eu continuava sem entender absolutamente nada... Odeio matemática.
Mas enfim, peguei meu pacote de biscoito e me encostei na parede da sala esperando os outros.
Olivia não tinha ido para casa mesmo machucada e decidiu vim falar comigo antes de sair para ir pro recreio.
–Oi! Então, queria te agradecer por brigar com aquele filho da mãe transfóbico. Ele mereceu aqueles socos.
–Concordo! Não ligo que ele seja meu primo,–Ela arregalou os olhos surpresa, ela não sabia disso.– ele é extremamente idiota, mereceu mesmo.
–Verdade! Se quiser bater nele, é só me chamar! Não tava podendo revidar na hora pois eu estava de costas quando ele começou, eu não o vi chegando, isso me deixou numa desvantagem enorme.
–Sinto muito por ele, deve ser duro ter que aguentar tanta transfobia.
–E é! Mas eu aguento. Por sinal, sabia que ano passado eu pensei que você era um menino trans? Eu não sei o motivo, mas acho que você falava umas coisas que me faziam pensar isso, ou não, não sei mais.–Ela sorriu.– Enfim, tô indo, até depois!
–Até...
Olhei para baixo e fiquei pensando o que eu falava que dava para entender isso? O que eu dizia? Minha memória é horrível quando eu preciso dela!
Levantei a minha cabeça e vi Carlos, Max e Julia na minha frente.
–Olá! Demorei por causa que o pacote da minha comida emperrou na minha mochila, aí eles estavam me ajudando.–Carlos estava falando isso, sendo que eu nem tinha reparado que eles tinham "demorado", até que foi rápido.
–Sem problemas, não tem que se desculpar!
–Sobre o que você estava falando com a Olívia?–Max perguntou, elu é super curioso, sobre absolutamente tudo. Fofoqueiro número um da escola, mas se você pedir, ele não conta para ninguém... Eu acho, e se a fofoca for sobre a pessoa estar dentro do armário, ele tenta apoiar a pessoa, fazer ela se sentir mais confortável para uma hora ela mesma sair, sem ser arrancada de lá.
–Ela estava me agradecendo por ter espancado meu primo.
–Realmente, você foi demais.–Disse Carlos orgulhoso.–Acho que vou gostar daqui.
–Ou não, o Miguel tá aqui.–A Júlia falou, quando ela falou Miguel, ela colocou dois dedos em cima da cabeça, insinuando que ele era o próprio capeta, ou que era corno, mas acho que ela quis dizer capeta mesmo.
A gente riu, e ficamos falando mal dele nos primeiros minutos do intervalo.
–Ei, acho que quando você disse que era hétero eu te olhei estranho, mas foi sem querer, é que eu achava que você fazia parte da comunidade, tá bom? Desculpa.
–Sem problema, já me perguntaram se eu fazia, várias e várias vezes, estou acostumada já!–Sorri.– Quer um biscoito?–Ofereci do meu lanche, eu já estava cheia.
Um tempo depois voltamos para a sala, mas uma coisa era certa, eu senti que tinha que falar com a Olívia, o que ela me disse sobre ter achado que eu era um menino trans... Não consigo parar de pensar nisso, o que será que eu falei que deu a entender isso!?

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